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Vítor Pereira: "Wolves não pode repetir o erro do ano passado"

Vítor Pereira em destaque no Wolves
Vítor Pereira em destaque no WolvesGetty Images via AFP
Uma equipa desconfiada das suas capacidades, mas com potencial para sair dos postos de despromoção da Liga inglesa de futebol, foi o que Vítor Pereira encontrou quando chegou ao Wolverhampton, então penúltimo na classificação, disse o treinador português.

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Numa entrevista à agência Lusa, por ocasião do estágio de pré-temporada que o Wolverhampton realiza em Almancil, no concelho de Loulé, Vítor Pereira contou como foi o seu primeiro contacto com a equipa do Wolverhampton, em dezembro de 2024, e destacou a importância que os jogadores portugueses do clube tiveram para ajudar a equipa técnica a inverter a tendência e conseguir a manutenção do clube no primeiro escalão do futebol inglês.

“Quando chegamos, fundamentalmente sentimos que a equipa estava um bocadinho desconfiada de si própria. Os jogadores desconfiados de si próprios, desconfiados uns dos outros, os resultados não estavam a acontecer e a equipa estava, de facto, abaixo da linha de água, numa posição difícil”, afirmou o treinador luso.

Vítor Pereira explicou que, antes de aceitar a proposta, foi feita uma análise ao talento disponível e que a equipa técnica percebeu “que era uma equipa com qualidade individual e que precisava, fundamentalmente, de melhorar alguns aspetos táticos”.

“Precisava, fundamentalmente, de confiança para jogar com o potencial que tinha”, acrescentou, frisando que “os primeiros passos” passaram por “transmitir confiança”, ter “ideias táticas claras”, assim como “melhorar a organização” tanto das bolas paradas como defensiva, porque a equipa tinha “muitos golos sofridos”.

Vítor Pereira elogiou a “abertura muito grande” que os jogadores mostraram perante as ideias do técnico e o contributo dos futebolistas portugueses neste processo.

“Os portugueses ajudam muito na comunicação e na passagem da mensagem, da ideia. O Nélson (Semedo) foi um jogador muito importante. Falo nele porque era o capitão da equipa e ajudou muito. Os outros também. E nós conseguimos ir passando a ideia”, completou.

Após os três primeiros jogos com bons resultados (vitórias frente a Leicester e Manchester United e empate com Tottenham), numa liga “extremamente difícil”, a equipa teve “quatro jogos de um grau de dificuldade enorme para os quais ainda não estava preparada”, frisou.

Depois chegaram “quatro derrotas (…) consecutivas, em que a equipa podia abanar, mas não abanou”, enalteceu, explicando que a constância no trabalho acabaria por dar frutos e permitir ao clube ter depois um conjunto de vitórias que lhe permitiram descolar da concorrência direta pela manutenção e garantir a continuidade na primeira liga inglesa.

“E depois conseguimos também (...), para mim, uma vitória muito importante, que foi ligar as pessoas, ligar toda a gente dentro do clube, ligar o clube aos adeptos, ligar os adeptos com o clube, e isso, num clube pequeno, na primeira liga, numa cidade pequena”, disse o técnico que terminou a temporada no 16º posto.

Wolves terminou no 16.º lugar
Wolves terminou no 16.º lugarFlashscore

"Criou-se uma relação que eu espero que continue"

O treinador português está com a equipa inglesa no Algarve, a realizar um estágio de pré-temporada em Almancil, no concelho de Loulé, e disse em entrevista à agência Lusa que uma das suas grandes preocupações é evitar uma repetição de um mau início de campeonato que o Wolverhampton protagonizou na última temporada. Para o evitar, frisou, são necessários mais reforços.

Vítor Pereira assumiu o comando técnico do clube inglês em dezembro de 2024 e, ao longo dos meses passados na cidade, criou uma relação próxima com os adeptos locais, muito por força também de Wolverhampton ser “uma cidade pequena” e todos frequentarem os “mesmos sítios, para jantar, para almoçar, para beber uma cerveja, para conviver, para ver um jogo de futebol”.

O técnico reconheceu que uma despromoção seria um “desastre” e que há um “laço de gratidão” mútuo relativamente ao trabalho feito para a equipa continuar na primeira liga.

“Criou-se uma relação, uma relação que eu espero que continue e espero que o clube entenda que é preciso corresponder às expectativas da massa (…), porque eles agora já começam a criar expectativas, naturalmente, e nós precisamos de reforços, precisamos de nos apresentar competitivos”, alertou.

Vítor Pereira considerou que o Wolverhampton não pode “repetir o erro do ano passado” e “entrar mal na Liga”, porque se a equipa “cai nos lugares de despromoção”, depois “para sair desses lugares é um problema”.

Os últimos resultados do Wolves
Os últimos resultados do WolvesFlashscore

“(…) A minha ambição é andar ali no meio da tabela e não andar sempre preocupado com os lugares de baixo. É olhar para cima. Mas, neste momento, perdemos o (avançado Matheus) Cunha, perdemos o (lateral esquerdo Rayan) Aït-Nouri, um para o Manchester United e um para o Manchester City, dois jogadores importantíssimos para nós”, lamentou.

O técnico falou também na perda do capitão de equipa, com a saída de Nélson Semedo, e do espanhol Pablo Sarabia, que finalizou o empréstimo do PSG, e era “quase sempre” uma “primeira opção para sair do banco e para ajudar a equipa”, frisando que são “quatro jogadores importantes” que, “para já, ainda não foi possível” substituir.

Vítor Pereira disse que a sua principal preocupação, e a dos adeptos, é “reforçar a equipa”, porque foram criadas expectativas, e espera que e breve cheguem novos reforços, nomeadamente dois alas para substituir Ait-Nouri e Semedo, um avançado para o lugar de Matheus Cunha e “um médio de qualidade”.

“Eu quero preparar uma equipa para iniciar o campeonato de forma competitiva, mas, neste momento, ainda não foi possível. Eu espero que, nos próximos dias, haja novidades, no sentido de trazer gente para aumentar a qualidade do plantel”, desejou.

A cerca de um mês de distância do início da liga inglesa, e ao ser questionado sobre se ainda há tempo para incorporar essas pessoas na dinâmica do grupo a tempo, Vítor Pereira respondeu que “já devia estar a trabalhar com eles”, mas espera que o clube possa encontrar rapidamente os reforços que necessita antes do inicio da nova campanha.

Vítor Pereira não pensa num regresso a Portugal

A atenção que tem de ter à Liga inglesa como treinador do Wolverhampton deixa pouco tempo a Vítor Pereira para ver e acompanhar o futebol português, que, segundo o técnico, pouco tem evoluído nos últimos anos.

“Eu tenho muita sarna para me coçar com o campeonato inglês, com as equipas inglesas, estudar as equipas inglesas. Individualmente também, porque tudo conta nesta liga, tudo conta. Uma vez por outra tenho visto um ou outro jogo entre os grandes, mas (…) às vezes de fora vê-se melhor, e eu não vejo assim uma diferença muito grande do campeonato de agora para o campeonato do meu tempo”, afirmou o treinador luso.

Vítor Pereira fez esta afirmação numa entrevista concedida à agência Lusa, durante o estágio de pré-temporada que o Wolverhampton realiza em Almancil, no concelho de Loulé, e justificou a sua posição.

“As equipas da frente são as mesmas, quem luta pelos títulos, são os mesmos. Vai saltando um, às vezes, agora é o Sporting, antes o Benfica, antes o Porto, às vezes o FC Porto, às vezes o Benfica, mas andam sempre ali as três. O Braga sempre ali a morder, a tentar chegar ali na luta”, disse.

O treinador português, que deixou Portugal em 2013, depois de ter orientado o FC Porto, prosseguiu o raciocínio, assinalando a diferença que há para os restantes clubes da primeira divisão nacional, salvo algumas exceções, que nos últimos anos se têm vindo a afirmar com projetos que têm alguma continuidade.

“Há ali equipas que se estão a organizar, até por investimentos exteriores por gente que compra as SAD (Sociedades Anónimas Desportivas) e que investe dinheiro aí nessas equipas do meio da tabela, e eu sinto uma certa evolução em termos de estruturas, em termos de projetos”, apontou.

Vítor Pereira deu os exemplos do Santa Clara ou do Famalicão, que têm tido projetos “consistentes nos últimos dois ou três anos” e demonstram “algum equilíbrio” na sua construção, enquanto as restantes “não conseguem dar esses passos” e acabam por andar sempre na luta entre a manutenção e a descida de escalão.

“Antigamente, chegavam e partiam e deixavam o clube na desgraça, estes (investidores) agora já vêm um bocadinho mais preparados, no sentido de dar continuidade às coisas. É assim que eu vejo o futebol português”, acrescentou.

Questionado sobre se pensa voltar a Portugal no futuro, Vítor Pereira ironizou e respondeu que pensa “voltar a Portugal já no sábado”, para matar saudades, mas o seu foco está em provar o seu valor naquela que considera ser a “melhor liga do Mundo”.

“Nós, quando estamos fora, temos saudades da nossa terra das nossas coisas, da nossa comida, da nossa família, de todos os amigos de tudo, dos pormenores, do mar, de tudo, portanto para viver não vou trocar Portugal por coisa nenhuma. Para trabalhar, estou, na minha opinião, na melhor liga do mundo, quero provar a mim próprio que mereço lá estar”, disse.

O projeto profissional passa assim por evoluir na Liga inglesa, onde espera ficar “uns anos”, mas depois pode “acontecer um regresso” a Portugal, para um clube que lute por títulos.

Sublinhando que ninguém sabe o dia de amanhã, Vítor Pereira confessa que os planos a longo prazo nunca foram o seu forte e que apenas se concentra no presente, sem fazer planos para períodos de um ou dois anos.

“Estou a pensar em fazer o melhor possível, que me cheguem reforços o mais depressa possível no sentido de poder, eu e a equipa técnica (…) trabalhar e chegarmos competitivos, muito competitivos, ao campeonato”, adiantou.