De certa forma, Darwin é um exemplo da carreira de João Félix, que se revelou uma espécie de enigma. Um jogador que, sem dúvida, tinha um talento imenso, mas que não o demonstrava com a frequência necessária.
O facto de nenhum dos dois jogadores ter sido verdadeiramente cortejado por equipas da Europa diz muito e, embora Darwin e Félix ganhem um bom dinheiro enquanto estiverem no Médio Oriente, passar os seus supostos anos de pico como jogador numa liga que é muito inferior a muitas outras, apesar do que Cristiano Ronaldo quer fazer crer, é um último lançamento de dados desesperado numa carreira que ameaça desaparecer.
Quando o Liverpool adquiriu Darwin, em 2022, foi na sequência de uma época em que este tinha marcado 26 golos em 28 jogos da Liga Portugal pelo Benfica, tendo ainda feito quatro assistências. Se acrescentarmos mais dois golos na Taça da Liga, os 28 golos em 29 jogos são ainda mais impressionantes.
Darwin não conseguiu repetir os números em Liverpool
No entanto, se a elogiada equipa de recrutamento dos Reds tivesse feito bem o trabalho de casa, teria visto que a época 2021/22 foi claramente um caso isolado.
Na época anterior, a sua primeira no clube português, tinha conseguido apenas nove golos e nove assistências em 36 jogos nacionais (todas as competições). Um número pouco animador.
O próprio Benfica parece ter ficado satisfeito com o registo de golos de Darwin no Almería, com 16 golos e três assistências em 32 jogos, o que lhe confere uma média de um golo a cada dois jogos.
O facto de o ter feito numa LaLiga 2 para a qual era obviamente demasiado bom parece ter sido ignorado.
Na sua primeira época no Liverpool, marcou nove golos em 29 jogos, o que corresponde a uma média razoável de um a cada três encontros.
Em 2023/24, no entanto, houve apenas uma ligeira melhoria para 11 golos, e foi aí que as dúvidas sobre a sua adequação à equipa começaram a surgir.
Quase tantos remates fora como à baliza
Teve quase tantos remates fora do alvo (40) como no alvo (46), com mais 22 bloqueados ou aliviados, uma taxa de conversão de remates de apenas 12,8% e 17 dos seus 21 cabeceamentos também não acertaram no alvo.
Falhou 27 grandes oportunidades de golo, o maior número numa só época da sua carreira, e tendo em conta que deu 204 toques na área adversária em toda a temporada - também o maior número numa só época -, estes eram claramente números de um avançado sem confiança em frente à baliza.
Até mesmo a sua movimentação se tornou previsível na maior parte do tempo, com apenas 40 dribles, o que representa uma redução significativa em relação às três temporadas anteriores na Premier League.
Apesar de o seu aproveitamento de passes ter sido de apenas 71,6% na mesma temporada, foi na verdade o seu melhor rendimento numa época do campeonato. No entanto, para colocar isso em perspetiva, Mo Salah teve um aproveitamento de 78,3% - o mesmo que Trent Alexander-Arnold - em 23/24, e o rei egípcio foi muito menos perdulário em frente à baliza do que o seu colega uruguaio.
Quando Arne Slot assumiu as rédeas de Anfield no lugar de Jurgen Klopp, havia uma expectativa muito real por parte da equipa técnica de que a lista de jogadores seria limpa e que o neerlandês escolheria o seu melhor 11 com base nos seus próprios olhos e não no que tinha sido feito antes.
Reinado de Slot deveria ter sido um reinício para Darwin
Era a altura ideal para Darwin dar um passo em frente e ganhar um lugar permanente na equipa titular do Liverpool.
O facto de ter sido titular em apenas oito dos 30 jogos da Premier League em 2024/25 conta a sua própria história, e o falhanço que cometeu contra o Aston Villa, apesar de ter toda a baliza à sua frente, fez com que Slot ficasse com as mãos na cabeça.
Cinco golos no campeonato talvez até seja um registo aceitável, dada a natureza esporádica das suas aparições, mas o próprio Darwin terá compreendido que a taxa de retorno simplesmente não era suficiente, mesmo tendo em conta as circunstâncias.
A linguagem corporal é muitas vezes um indicador visível da mentalidade, e com Darwin continuamente a parecer carregar o peso do mundo nos ombros, dava a sensação que a separação estava a tornar-se cada vez mais inevitável à medida que a temporada avançava.
Falta de interesse na Europa
Embora a falta de interesse de outros grandes clubes europeus tenha sido um duro golpe para Darwin, é possível que ele reencontre o seu talento para marcar golos na Liga Saudita.
Mas, com tanto tempo de carreira pela frente, o ex-Benfica precisa de usar isso como combustível e motivação para voltar ao seu melhor nível.
Se ele não quiser ou não puder fazer isso, será apenas mais um jogador que não chegou perto de atingir o seu potencial.
