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O futebol sempre fez parte da vida de Carlos Ribeiro. Começou como tantas outras histórias pelo clube da sua terra, no caso a União Cultural, Recreativa e Desportiva Praiense, em Setúbal. Passou pelo Comércio e Indústria e representou a seleção distrital no famoso Torneio Lopes da Silva que lhe abriu pela primeira vez as portas do Vitória Futebol Clube. "O Vitória não é grande, é enorme!" Um cheirinho apenas daquilo que o futuro lhe tinha reservado.
Assume que era um guarda-redes que "não gostava muito de trabalhar" e isso levou-o a fazer carreira apenas pelas divisões secundárias em Portugal antes de terminar no Comércio e Indústria, onde se cruzou com um tal de Bruno Lage, a iniciar aí o seu caminho de treinador, então com 25/26 anos, ao lado do seu pai Fernando Lage. Uma lesão no menisco acabou por determinar o ponto final na carreira aos 34 anos. Mas o bichinho estava lá.

15 anos no Vitória Futebol Clube
Carlos incutiu o gosto pela posição de guarda-redes ao irmão Paulo, 13 anos mais novo, e foi com ele que percebeu que o final de carreira como jogador de futebol não era necessariamente o final de uma ligação quase umbilical ao desporto-Rei. O gosto pelo treino tornou-se uma obsessão e focou-se na área de desenvolvimento de guarda-redes com todas as forças.
Começou a treinar os guarda-redes no Comércio e Indústria, passou ainda pelo Barreirense, antes de reencontrar o seu grande amor: o Vitória Futebol Clube. Ai, o Vitória.
"No Vitória, pensei que faria toda a minha carreira como treinador de guarda-redes. Era o meu clube. Sempre acompanhei o Vitória. Saí quando terminou o meu contrato (2020) — não quiseram renovar, depois de terem mudado as pessoas na estrutura. Estive um ano fora. O Toni Pereira, que tinha sido meu treinador em Vendas Novas, trouxe-me de volta. Foi uma fase difícil no Vitória. Na Liga 3, tínhamos de ganhar todos os jogos", recorda Carlos Ribeiro, em entrevista ao Flashscore.

"Estar no Vitória não é estar num clube qualquer. O Vitória não é grande — é enorme. Entravas lá e sentias logo que era diferente. É algo inexplicável. Só estando lá dentro é que consegues perceber a verdadeira dimensão do clube", sublinha.
Foram 15 anos, uma vida dedicada a uma instituição que chegou a colocar muitas vezes à frente daquilo que poderia ser o melhor para a sua vida/carreira. O dinheiro nunca falou mais algo, o "amor" ao Vitória sim.
"Quando o Micael Sequeira saiu, muitas pessoas acharam que eu também devia sair. Acabei por ficar no clube, mas noutras funções. Assisti à descida de divisão no camarote, a ver o jogo. Foi uma dor imensa… Ver o Vitória a disputar a Liga 3 e a descer — para mim — é algo que não consigo descrever. Foi uma sensação muito estranha. Foi nessa altura que decidi que tinha de sair, para poder dar melhores condições à minha família", justifica o treinador de guarda-redes.
"Já tinham surgido várias oportunidades, mas por estar no Vitória, nunca quis sair. Chegaram a dizer que eu era maluco. Tive um convite do Sepahan, do Irão, mas o dinheiro nunca falou mais alto. Eu estava no Vitória. Mas naquela altura, percebi que tinha mesmo de sair", remata.

Um mundo novo aos 52 anos: "Fui muito bem recebido no Egito"
A decisão estava tomada. Carlos queria sair de Portugal, sobretudo para ir em busca da estabilidade que sentia que precisava naquela altura e que era difícil encontrar em Portugal. Estava com 52 anos e não teve medo. O curso UEFA A de treinador de guarda-redes, um dos poucos profissionais da área com esse curso em Portugal, facilitou-lhe o caminho além-fronteiras, mas foi uma simples mensagem que lhe abriu a porta para um mundo novo.
Uma troca de mensagens casual com o "amigo" Bruno Romão resultou no convite para fazer as malas com destino a Alexandria, no Egito, para o clube Pharco, fundado em 2010 por Ezz Yashar Helmy, neto do fundador da empresa farmacêutica Pharco Pharmaceuticals, Hassan Abbas Helmy.
“O Bruno pediu-me os dados e, passados 10 minutos, já me estava a ligar a dizer que estava tudo certo. Infelizmente, as coisas não correram muito bem para ele, acabou por sair ao fim de três jogos. Mas as pessoas fizeram questão que eu ficasse. Falei com o Bruno, disse-lhe que estava a gostar muito da experiência — e acabei por ficar mais um ano”, conta.

"Encontrei um clube muito familiar, onde fui muito bem recebido por todos. Já tinham passado por aqui vários treinadores portugueses — é realmente uma família. Se tudo corresse como deve ser, podia perfeitamente ficar aqui mais alguns anos. (...) O campeonato este ano é mais curto, só com uma volta. Depois, dividem-se as equipas: os 9 primeiros e os 9 últimos. Este ano não temos aquelas “vedetas”, mas temos um grupo de trabalho muito unido, concentrado e amigo — e conseguimos ficar entre os 9 primeiros. O trabalho está feito, alcançámos a manutenção, que era o principal objetivo do clube", destaca Carlos Ribeiro.
Sobre as especificidades do campeonato egípcio, o treinador de guarda-redes do Pharco relata uma história inusitada: "No ano passado, o Zamalek não compareceu a um jogo contra o Al Ahly. Este ano, a lutar pelo primeiro lugar, foi o Al Ahly que faltou a um jogo com o Zamalek. O motivo? O Al Ahly queria um árbitro estrangeiro, mas a federação nomeou um árbitro egípcio. Então, no próprio estádio do Al Ahly, a equipa não apareceu. Tinhas o Zamalek de um lado, o árbitro no centro… e do outro lado, ninguém".
"O Al Ahly perdeu o jogo por falta de comparência — e acredito que vai perder o campeonato por causa disso", completa.

"O meu guarda-redes dá um mortal para trás sempre que marcamos um golo"
Depois de uma carreira construída em Portugal, Carlos sentiu naturalmente a necessidade de se adaptar a uma nova realidade, fazendo questão de ouvir os guarda-redes que tem ao seu dispor no Pharco.
"Cheguei aqui, fiz os meus exercícios e falei com eles a perguntar o que acharam. No segundo treino, fiz o meu aquecimento de jogo e eles disseram que gostaram. A partir daí, comecei a perceber que teria de conhecer o jogo para adaptar o meu treino. Comecei a ver jogos, a estudar como funcionava a nível de posicionamento, e depois fui adaptando essa realidade à minha", descreve.
"Eles começaram a notar a evolução… O meu guarda-redes (Mohamed Shika) tem quatro 'Man of the Match', e sempre que marcamos um golo, ele faz um mortal para trás (risos). (...) Quando tens guarda-redes que te percebem e gostam do teu trabalho, tudo se torna mais fácil. Também dou liberdade aos redes. É bom chegar ao jogo e perceber que o que fazemos no treino funciona. Está a ser uma experiência bastante agradável", sublinha.
Para o treinador de guarda-redes, tudo começa com a capacidade de criar um grupo unido: "Sempre consegui formar bons grupos de guarda-redes, e aqui consegui fazer o mesmo. Eles ajudam-se uns aos outros, são verdadeiros companheiros. A chave é construir uma família, ser frontal com os guarda-redes e sempre dizer-lhes a verdade. É importante que eles saibam qual é a hierarquia".

Futuro? "Não fecho portas a nada"
O presente é no Egito, mas o olhar continua atento ao que vai acontecendo em Portugal. Carlos Ribeiro reconhece que, hoje em dia, a posição de treinador de guarda-redes é mais valorizada, destacando o papel de Fernando Ferreira (treinador de guarda-redes do Fulham) nesse reconhecimento a nível nacional.
Para além do certificado UEFA A, o treinador de guarda-redes do Pharco conta com outras credenciais relevantes — aspetos que devem ser tidos em conta por quem ponderar integrá-lo numa equipa técnica.
"Podem esperar de mim sempre muita sinceridade e muito trabalho. Sem trabalho, não se ganha nada. Tenho sempre um grande foco na formação. Olho para o presente do clube, mas também para o futuro, na formação. Já trabalhei aqui com um guarda-redes de 15 anos e com outro de 18. O de 18 começou a ser convocado para a seleção, mas este ano portou-se mal no clube e deixou de aparecer. Agora, estou a trabalhar com o de 15 anos. (...) Tento sempre fazer com que os guarda-redes sejam melhores do que foram. No Egito, há muitos bons guarda-redes na formação, mas é preciso investir muito tempo no desenvolvimento técnico, porque temos uma escola diferente", explica.
Sobre o futuro: "Poderei voltar a Portugal para a Liga, ou talvez ficar no Egito ou noutro lugar qualquer. Não fecho as portas a nada. No Egito, há algo que precisa mudar… Este ano correu muito bem a nível desportivo, mas preciso de estar num lugar onde me sinta feliz, onde goste do trabalho. Há, no entanto, questões fundamentais para o meu futuro e o da minha família que preciso de considerar".

FC Porto defronta Al Ahly no Mundial de Clubes
O FC Porto é uma das duas equipas portuguesas que vão marcar presença no renovado Mundial de Clubes, que se disputa de 15 de junho a 13 de julho, nos Estados Unidos. Os dragões fazem parte do grupo que inclui o Palmeiras (Brasil), o Inter Miami (Estados Unidos) e o Al Ahly (Egito).
Carlos Ribeiro traça uma breve antevisão do que os dragões poderão encontrar neste grande palco do futebol mundial.
"O FC Porto vai para o Mundial de Clubes mais desgastado do que o Al Ahly, que fez muito menos jogos. Já defrontámos o Al Ahly no Cairo e empatámos — é uma equipa difícil, com bons jogadores. Têm três bons marroquinos, um ponta de lança de qualidade (Wessam Abou) e o Emam Ashour, que é um excelente jogador. Faz-me lembrar o Pedro Barbosa de outros tempos: chuta muito bem, com classe", considerou o treinador de guarda-redes do Pharco, em declarações ao Flashscore.

"As condições que têm são incríveis, das melhores — ao nível do que existe no Benfica, Sporting ou FC Porto. Acho que vão chegar mais frescos à competição. Ainda assim, acredito que o FC Porto, mesmo estando num momento menos bom, vai dar luta", sustentou.
"Tem jogadores de seleção, um guarda-redes (Moha El-Shenawy) muito experiente, e nunca é uma equipa fácil de bater. Vai ser uma competição interessante, para perceber a realidade dos diferentes campeonatos — e ver se há equilíbrio ou um grande desnível entre um campeão português e um campeão egípcio. Estou curioso", completou.