"Tem sido uma experiência bastante positiva"
- Como está a correr a experiência na Indonésia?
- Estou no meu segundo ano, tem sido uma experiência bastante positiva. É um campeonato e um país interessantes. É um campeonato competitivo, ainda com alguma margem de progressão para melhorar, mas acredito que nos próximos anos será ainda mais atrativo do que já é.

- Assim que recebeu o convite, qual foi a sua reação?
- Reagi bem. Tinha conhecimento do campeonato, tenho amigos que jogaram e jogam cá e recolhi algumas informações com eles. Já tinha recebido algumas propostas da Indonésia anteriormente, mas não achei na altura que fosse o momento certo. No entanto, quando recebi o convite agora, não pensei duas vezes. Achei que era o momento certo.
- Fale-nos mais sobre a liga da Indonésia.
- Tem sido uma aventura. É uma cultura completamente diferente, é um povo apaixonado pelo futebol. Enchem os estádios. Não é tão profissional como na Europa ou em outros campeonatos, mas tem margem de progressão. Os indonésios têm de querer dar esse passo. Acho que estão um pouco acostumados à realidade, e mudar a forma de pensar não é fácil. A maioria dos clubes cá não tem centro de estágio e, por exemplo, não há balneários para equipar para os treinos, só temos no dia de jogo ou um dia antes, no treino oficial pré-jogo, feito onde vai decorrer o jogo. Equipamos muitas vezes no chão, no campo. Mas é uma questão cultural; para nós é novidade e temos de adaptar-nos o mais rápido possível para estar dentro da realidade deles.

"Muita gente não tem noção do quanto o Benfica é grande"
- O Evandro chegou muito cedo a Inglaterra. Primeiro passou pelo Walsall e depois no Manchester United. Recorde-nos como tudo aconteceu?
- Antes do Walsall, ainda tive uma breve passagem pelo Blackburn. Mas não havia possibilidade de ficar numa casa de acolhimento, então não tive autorização dos meus pais para poder ficar. Mais tarde, ingressei no Walsall, com a ajuda do meu segundo pai, o Gil Gomes, campeão mundial sub-20, que convenceu o meu pai a deixar-me sair de casa para me deixar abraçar o meu sonho. Aos 13 anos, fui para uma casa de família de acolhimento no Walsall. Acabei por ficar 2-3 anos e depois houve a possibilidade de representar o Manchester no torneio da Nike e aceitei. Correu bem e houve acordo entre as duas equipas. O United pagou e fui para lá.

- Por lá convive com o Cristiano Ronaldo. Pode contar algumas histórias?
- Na altura em que cheguei, só estava o Cristiano e, passado algum tempo, chegou o Nani. Há algumas histórias, sim, algumas mais pessoais, mas tenho de realçar a pessoa que o Ronaldo é. É muito humilde, uma pessoa bastante simpática. Muita gente tem uma imagem contrária do Ronaldo, de ser arrogante e não ser humilde, mas quem convive com ele diariamente percebe que é uma boa pessoa, divertida e tem bom coração. Não gosta de perder nem a feijões. Lembro-me de uma vez em que tínhamos uma mesa de ping-pong e ficava horas e horas a jogar com os colegas, sempre na mesma posição. Andavam a rodar para ver quem ganhava. E quando perdeu, ficou louco (risos). E o Ferdinand gozou muito com a situação.
- O Evandro acaba por vir para Portugal, para os sub-19 do Benfica, mas não consegue jogar na equipa principal dos encarnados. Alguma mágoa?
- Não, de todo. Fico orgulhoso por ter passado pelo Benfica, um clube que é grandíssimo. Muita gente não tem noção do quanto o Benfica é grande. Tive oportunidade de ver por dentro e de perto. É uma experiência que levo para a vida. Gostaria de ter tido a oportunidade de me estrear na equipa principal, mas não aconteceu e a vida continua, sem mágoas. Apenas respeito e carinho pela instituição que me acolheu e me deu todas as condições. Estarei eternamente agradecido por isso.

"Representar o país que me viu nascer foi o ponto mais alto"
- O que falta realizar aos 33 anos?
- Realizei o meu maior sonho, que era ser jogador profissional, e consigo até hoje manter isso, o que não é fácil. Não sinto que tenha ainda um sonho para cumprir. Talvez jogar no continente americano, que é o que me falta jogar. Se não acontecer, estou feliz na mesma.
- O ponto mais alto da sua carreira até ao momento terá sido representar a seleção de Angola?
- Sim, digamos que sim. Qualquer jogador deseja chegar à seleção do seu país. Não querendo desvalorizar as outras etapas e o facto de ter representado as seleções jovens portuguesas, mas representar o país que me viu nascer foi o ponto mais alto. Deixei a minha família orgulhosa por esse momento.

- Inglaterra, Hungria, Angola, Portugal, Israel, Indonésia... Podemos dizer que o Evandro é um futebolista do mundo?
- É engraçado. Eu dizia à minha mãe que era filho do mundo. No início, não pensava ter uma carreira assim, mas não podemos ser todos Ronaldos e, sabendo que a carreira é curta, desde cedo decidi que, quando houvesse um projeto que fosse do meu interesse e ideologia, iria sair e conhecer novas realidades. Óbvio que a parte financeira também dita as minhas decisões, mas posso dizer que têm sido experiências enriquecedoras para mim, não só no futebol, como fora dele. Aprender línguas novas, conhecer países… Portanto, acho que o futebol deu-me muita coisa. Têm sido experiências muito ricas.