Apesar dos avanços socioeconómicos dos últimos anos e do crescimento do futebol feminino em Espanha, graças aos êxitos da seleção, vice-campeã da Europa este verão, e do Barça, a Liga F continua a sofrer uma fuga de talento.
Desde que terminou a competição em maio, o Barça, atual campeão da Liga F e vice-campeão da Europa, viu estrelas internacionais como a norueguesa Ingrid Engen (para o OL Lyonnes), a sueca Fridolina Rolfö e a britânica Ellie Roebuck deixarem o plantel, estas últimas para a liga inglesa (Manchester United e Aston Villa, respetivamente).
A elas juntaram-se outras três jogadoras formadas em La Masia: Bruna Vilamala para o Club América, Martina Fernández para o Everton e Jana Fernández para o London City.
Barcelona perde várias figuras
Todas, exceto Engen, tinham contrato em vigor, mas a situação financeira por que passa o Barcelona, que impede a inscrição de jogadores da equipa principal masculina, obrigou o clube a aliviar a folha salarial. Ainda assim, o conjunto blaugrana é o grande favorito a conquistar o título pelo sétimo ano consecutivo e tentará recuperar o trono europeu que perdeu para o Arsenal em maio passado, em Lisboa.
O Real Madrid, que mudou de treinador - agora dirigido por Pau Quesada - e reforçou-se com várias contratações, também não se livrou da debandada.
A capitã, Olga Carmona, autora do golo do título mundial em 2023 frente à Inglaterra, assinou em junho pelo PSG. À sua saída juntaram-se Carla Camacho, que assinou pelo Brighton, e Paula Partido, transferida para o London City Lionesses.
Também o Atlético não se salvou deste fenómeno. Rasheedat Ajibade, atual campeã da Taça das Nações Africanas com a Nigéria, deixou o clube colchonero, enquanto Marta Cardona reforçou o Parma, numa liga italiana em ascensão.
Gerar mais recursos
"Como em qualquer outro desporto, as jogadoras vêm e vão. Os clubes estão a fazer um grande trabalho com as jogadoras e contamos com as duas jogadoras que ganharam as últimas quatro Bolas de Ouro" (Alexia Putellas e Aitana Bonmatí), indica à AFP María Rodrigo, diretora de comunicação da Liga F.
Rodrigo reconhece que ainda há desafios pela frente, embora descarte falar em fuga de talento, como classifica a Futpro, o sindicato maioritário do futebol feminino.
"Todos os anos vemos como chegam mais jogadoras internacionais e como as nossas canteras continuam a fornecer jogadoras de altíssimo nível", acrescentou.
Para travar a perda de talento, garante, a Liga F continua a trabalhar na melhoria das condições das protagonistas do jogo e na profissionalização dos clubes, com acordos que permitam gerar mais recursos para investir em instalações e crescer em visibilidade.
"Reter e atrair jogadoras não depende de uma só ação, mas de um ecossistema sólido", destaca Rodrigo, ao mesmo tempo que sublinha as diferenças em relação à liga inglesa: "A Women Super League tem 15 anos de história e isso permite-lhe ter estruturas mais profissionais". A Liga F tem três anos.
Inglaterra leva uma década de vantagem
"É indiscutível que lidera em investimento e visibilidade e conta com um grande apoio económico de outras instituições, que trabalham em conjunto há muitos anos na mesma direção", salienta a responsável de comunicação, que vê a comparação como "positiva": "Dá-nos a ambição de continuar a evoluir".
A assinatura de um acordo coletivo, a venda centralizada dos direitos audiovisuais e a comercialização de ativos publicitários permitiram dar estabilidade económica à competição, aos clubes e às jogadoras.
"Em apenas três anos, creio que a Liga F se colocou próxima da melhor liga, que é a inglesa, que nos leva muitos anos de vantagem, e isso é um mérito que deve ser reconhecido no trabalho dos clubes", conclui Rodrigo.
