Acompanhe o Paris SG no Flashscore
"Paulo César, força e coragem". Foi com esta mensagem, estampada numa simples faixa a preto e branco, que os ultras do Paris Saint-Germai — ausentes da meia-final do play-off frente ao Paris FC — saudaram o regresso de uma figura marcante da história do clube. Paulo César, que vestiu a camisola do PSG entre 2002 e 2007, deixou a sua marca como jogador e agora volta a dar que falar como treinador.
O antigo médio brasileiro, técnico desde 2016, foi promovido de forma célere ao comando da equipa feminina principal, depois da saída de Fabrice Abriel. Antes disso, orientava as sub-19 femininas do clube, formação que lidera atualmente a fase de elite do campeonato nacional, com apenas uma derrota e quatro golos sofridos em oito jogos.
O técnico brasileiro, de 46 anos, assume a equipa num momento delicado. A derrota na final da Taça de França frente ao Paris FC precipitou o despedimento de Fabrice Abriel, numa decisão tomada pela direção desportiva do PSG. Ao longo da temporada, o ambiente interno já vinha a deteriorar-se, com vários desentendimentos entre o antigo treinador e elementos do plantel. "Foi uma época complicada. Houve muitas coisas: a eliminação prematura da Liga dos Campeões, alguns deslizes no campeonato, etc.", resumiu Elisa de Almeida, jogadora da equipa.
Um encontro em terreno conhecido
Paulo César parte com uma vantagem importante: conhece bem quase metade do plantel. Ao longo de quase cinco épocas no comando da equipa feminina sub-19 do PSG — primeiro como treinador adjunto até 2023, e depois como técnico principal — trabalhou de perto com várias jogadoras que hoje integram a equipa principal.
Guarda-redes como Alyssa Fernandes e Océane Toussaint, defesas como Tara Elimbi Gilbert e Olivia Romtiti, médias como Baby Jordy Benera, Katia Imarazene e Laurina Fazer, além das avançadas Océane Hurtré, Ornella Graziani, Manssita Traoré e Naolia Traoré, são algumas das atletas que regressam agora ao clube que as formou. Algumas delas, aliás, tiveram os seus primeiros minutos na equipa principal sob a orientação de Paulo César, no último jogo do campeonato frente ao Nantes, que terminou com uma vitória por 1-0.
Até agora, Paulo César só tinha tido uma breve passagem pelo futebol profissional enquanto treinador, com uma experiência de três meses no comando do Juventude, clube onde se formou no Brasil. Ainda assim, nunca escondeu a ambição de orientar uma equipa feminina ao mais alto nível. “Se não, vou tentar a sorte como profissional noutro lugar”, disse em março de 2025 ao podcast 100% PSG, da Ici Paris. A oportunidade acabou por surgir mais cedo do que esperava. “Não posso fazer milagres”, reconhece, referindo-se à urgência do contexto em que assumiu o cargo. “Mas o meu estado de espírito é sempre ter energia positiva.”
A "assinatura" de Paulo César
Frente ao Paris FC — adversário que o PSG ainda não tinha conseguido vencer esta temporada — Paulo César surpreendeu com um ousado esquema tático em 3-5-2. A norte-americana Korbin Albert posicionou-se em apoio a Romee Leuchter, a principal referência ofensiva. O sistema, bem aberto e com vários elementos de cariz ofensivo, criou desde cedo dificuldades à equipa adversária, incapaz de travar a pressão alta imposta pelo PSG.
Durante os primeiros 20 minutos, o Paris Saint-Germain sufocou o Paris FC, exibindo um nível técnico raramente visto ao longo da época. O domínio refletiu-se no resultado: vitória por 3-0 e passagem à final do play-off, frente ao eterno rival Olympique Lyon
“Elogiável o trabalho do Paulo”, afirmou Elisa De Almeida na zona mista, visivelmente entusiasmada. “Num espaço de tempo muito curto, conseguiu adaptar-se à equipa e ensinar-nos um novo sistema de jogo, que quase não utilizámos durante a época. Isso é incrível.”
Habitualmente discreta nas declarações, a defesa-central não poupou nos elogios ao treinador brasileiro, que chegou nos momentos finais da temporada e trouxe um novo ânimo ao grupo. “Passámos uma semana a treinar num ambiente leve, bem-disposto. Acho que o Paulo trouxe de volta um pouco do espírito brasileiro, um pouco de alegria. Isso fez-nos bem a todos. Mostrámos uma versão diferente da equipa.”
Uma final de sonho com um PSG feliz
E foi difícil não sentir esse espírito contagiante quando Paulo César falou aos jornalistas, visivelmente emocionado e com um sorriso rasgado:
“Esta primeira vez no Parque dos Príncipes é um sonho tornado realidade para mim. Estou muito feliz. Vou festejar este primeiro jogo porque é importante — sobretudo por ter sido diante da minha família, dos meus filhos...”
O técnico brasileiro não escondeu a emoção ao referir-se também ao apoio vindo das bancadas: “Receber uma mensagem dos adeptos é algo extraordinário. Tenho uma ligação muito especial com eles, memórias incríveis, tanto aqui no Parc como fora dele.”
Promovido a técnico interino sem prazo definido, Paulo César mantém os pés no chão. Antes da final frente ao Olympique Lyonn, no Estádio Groupama, o treinador admite que ainda precisa "conversar com o clube" sobre o futuro.
O ambiente na equipa, no entanto, parece ter mudado drasticamente. Um dos sinais mais evidentes foi dado por Sakina Karchaoui — anteriormente afastada do grupo por Fabrice Abriel — que festejou efusivamente o segundo golo com o treinador e a restante equipa técnica, no banco de suplentes. Um gesto simbólico que confirma a reconexão do grupo com o novo comando técnico.
"Não esperava que elas viessem comemorar comigo, eu tinha saído para cumprimentar o pessoal", contou Paulo César, entre sorrisos, após a partida. "Mas é um prazer, porque confio muito nesta equipa. É fundamental ter essa energia positiva, essa ligação entre treinador, equipa técnica e jogadoras."
O técnico acredita que o ambiente criado ao longo da última semana pode ser determinante para o que ainda está por vir: "Acho que conseguimos construir algo importante nestes dias, e temos de manter isso. É essa dinâmica que vai permitir que coisas boas continuem a acontecer."
Entre essas "coisas boas", um objetivo maior começa a surgir no horizonte: conquistar o primeiro título francês desde 2020.