Fadado a um futuro brilhante, João Félix deixou o futebol europeu para rumar à lucrativa Arábia Saudita com apenas 25 anos. Carreira feita em clubes de topo, mas sem o retorno esperado.
25 de agosto de 2018. Terceira jornada da Liga Portugal. Estádio da Luz. Ainda a apanhar os cacos da invasão a Alcochete, meses antes, o Sporting visitava o Estádio da Luz e, a 10 minutos do final vencia o principal rival, com um golo de Nani, então capitão.
Com dificuldades para ultrapassar Romain Salin, figura inesperada a equipa, Rui Vitória decide lançar um jovem de 19 anos para o ataque. João Félix saltou do banco para render Facundo Pereyra e apenas no terceiro jogo pela equipa principal marcou no dérbi e evitou a derrota encarnada. Nascia um novo ídolo na Luz.
E a temporada veio a confirmar. Com a chegada de Bruno Lage afirmou-se definitivamente, marcou 20 golos, fez 8 assistências e foi essencial no sprint que o Benfica fez para ultrapassar o FC Porto (marcou no estádio do Dragão) e sagrar-se campeão. Não havia dúvidas: Félix estava fadado ao sucesso. Era um menino de ouro.
A grande decisão
Estrela no Benfica, convocado para a final four da Liga das Nações que Portugal venceu, João Félix começava a ficar demasiado grande para o campeonato português e a saída parecia uma questão de tempo e… dinheiro. A 3 de julho de 2019, caiu como uma bomba no mercado de transferência: O Atlético Madrid pagou 126 milhões de euros, um recorde apenas superado por Neymar, Coutinho e Mbappé.
E aqui começam os problemas. O encaixe com Diego Simeone nunca foi muito claro. O treinador espanhol prioriza jogadores de trabalho aos tecnicistas – Griezmann é talvez a única exceção – e Félix pareceu nunca estar confortável.
Foi campeão com os colchoneros, marcou 35 golos e fez 16 assistências em 131 jogos, mas nunca foi consensual. Nunca se afirmou com a estrela (foi titular em apenas 14 jornadas na época do título) e em 2023, após três épocas e meia, o caminho parecia claro: sair do Atlético Madrid.

O sítio certo
O modelo ultra-defensivo de Diego Simeone parecia a justificação para o desempenho aquém de João Félix na capital espanhola. Contudo, a verba de 126 milhões de euros tornava complicada a saída, já que os colchoneros não estavam a conseguir valorizar o ativo dentro de campo, mas procuravam capitalizar fora dele.
A solução encontrada foram empréstimos, a equipas com ideias de jogos diferente que se pareciam adequar mais a João Félix. Renovou até 2027 com o Atleti e em janeiro de 2023 rumou à Premier League para jogar no Chelsea, por empréstimo até ao final do ano.
Foi expulso na estreia, mas marcou no jogo seguinte e assegurou o empate com o West Ham. Fez crescer água na boca em Londres, mas não confirmou. Quatro golos em 20 jogos não convenceram os responsáveis londrinos.
No verão seguinte, a saga para se juntar ao Barcelona, o clube que sonhou representar. O guião pareceu semelhante. Fez três golos nos três primeiros jogos, tornou-se no primeiro após Messi a marcar em ambos os jogos ao Atlético Madrid, mas irregularidade levou a melhor e o Barcelona em dificuldades financeiras decidiu não arriscar – optou por Dani Olmo.

A fuga
No verão de 2023, já era clara a rotura total entre Diego Simeone e João Félix. O avançado tinha contrato por mais quatro anos, mas não contava para o treinador argentino, nem queria jogar no Atlético Madrid. Os colchoneros não desistiam da ideia de recuperar parte do dinheiro investido e o impasse parecia complicado de resolver.
Até que apareceu o Chelsea, em mais uma decisão surpreendente dos londrinos de Tod Boehly. 50 milhões de euros e um contrato de sete temporadas, numa aposta para reavivar o internacional português.
E quando João Félix marcou ao Wolves, no jogo de regresso, a ilusão voltou, mas foi o único golo na Premier League nessa temporada. Faria mais sete nessa temporada, mas ao Panathinaikos, Noah e Morecambe, já que Maresca utilizou-o principalmente na Liga Conferência e Taças.
Novamente sem espaço, decidiu rumar a Itália para jogar noutro clube de nomeada do futebol europeu: o AC Milan. E com Sérgio Conceição a treinador, um técnico com quem mantém relação extracampo. Contudo, a surpresa foi pouca quando o resultado foi o semelhante: estreou-se com um golo (à Roma), criou esperança, mas não convenceu e teve dificuldades para se impor num conjunto rossoneri em muitas dificuldades.
Adeus, Europa
Devolvido ao Chelsea, João Félix cedo percebeu que não contava para Maresca. Não foi ao Mundial de Clubes que os londrinos venceram e a saída era o mais certo. Durante muito tempo, o regresso ao Benfica pareceu o mais certo – o jogador admitiu isso mesmo – até que à última da hora surgiu o Al Nassr.
Com o dinheiro do Fundo de Investimento Público (PIF), um dos parceiros do consórcio que detém o Chelsea, o emblema de Riade pagou o valor que os londrinos pretendiam (30 milhões de euros) – que o Benfica resistiu – e confirmaram o que há muito parecia certo: O menino de ouro deixou de luzir.
Fadado ao sucesso aos 19 anos, a aspirar a Bolas de Ouro, João Félix deixa o futebol europeu aos 25 anos para rumar à Arábia Saudita. Junta-se a Cristiano Ronaldo como a nova cara do Al Nassr, num cenário com menos pressão, menos olhares, na procura de reabilitar uma carreira em queda livre.
Por lá vai ficar até 2027 e se não renovar fica com o passe na mão aos 27 anos. Se calhar já tarde para confirmar o potencial que se lhe adivinhava, mas ainda a tempo de confirmar na Europa parte do talento que mostrou nos relvados portugueses.