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Pedro Machado: "Gostei muito da forma como vivem na Finlândia"

Pedro Machado terminou época no Mariehamn
Pedro Machado terminou época no MariehamnArquivo Pessoal
Pedro Machado terminou recentemente a sua temporada no Mariehamn, onde contribuiu de forma decisiva para o objetivo principal do clube do principal escalão do futebol finlandês. Aos 28 anos, o central português faz um balanço muito positivo da sua segunda experiência no estrangeiro e revela aquilo que tem para oferecer ao clube que o quiser contratar.

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"Futebol na Finlândia é positivo e de qualidade"

- Qual é o balanço que faz desta experiência ao serviço do Mariehamn, da Finlândia?

- Sem dúvida, positivo. Foi uma experiência interessante, diferente, com alguns desafios, mas no fim, acho que superei todos.

- Quais foram os principais desafios?

- O frio foi logo o primeiro impacto no primeiro dia. Estava a nevar bastante, e eu tinha visto neve 2-3 vezes na minha vida, mas apanhei um nevão nesse dia. Foi, no entanto, uma questão de adaptação. A pré-época é mais longa do que aquela a que estou habituado, e, quando o campeonato começou, já não tinha esse problema. Quanto à logística do clube, por estarmos numa ilha, as viagens para os jogos fora tinham de ser feitas de barco. Mas foi muito interessante.

O balanço de Pedro Machado
O balanço de Pedro MachadoArquivo Pessoal/Opta by Stats Perform

- O objetivo de garantir a manutenção foi alcançado com o Pedro a assumir uma posição muito importante no eixo defensivo. Superou as expectativas?

- Foi importante para a minha carreira. O contexto era difícil. No início da época, juntam todos os capitães e treinadores para fazer previsões, e colocaram-nos em lugar de play-off (de despromoção). Mas, no final, conseguimos superar isso, o que demonstra bem como correu a nossa época.

Em termos individuais, joguei bastante e consegui assumir o meu papel, também derivado da experiência que trazia de anos anteriores. Consegui chegar, mostrar o meu futebol e ajudar a equipa.

- Quais as principais diferenças do futebol finlandês?

- No futebol em Portugal, somos muito metódicos, damos muita importância à parte tática e à competição em si. Parece que esquecemos tudo o resto. Na Finlândia, jogam por prazer, com um futebol muito mais livre, partem muito o jogo e, diria até, com pouca responsabilidade. Em determinados momentos, arrisca-se em demasia, movidos pela emoção, e corre-se muito mais. No fundo, diria que é um futebol positivo e de qualidade.

Pedro Machado cumpriu primeiro ano na Finlândia
Pedro Machado cumpriu primeiro ano na FinlândiaArquivo Pessoal

"Descobri que há mais vida para além do futebol"

- Como era a sua vida fora do futebol? Gostou de viver na Finlândia?

- Gostei muito da forma como vivem na Finlândia. São pessoas muito corretas no que fazem e dão muito valor às crianças. Eu sou pai, a minha mulher e o meu filho acompanharam-me, e senti que valorizam imenso as crianças. Por onde quer que vás, há sempre espaços para as crianças brincarem. Além disso, é um país que dá muita liberdade às pessoas para se expressarem, seja na forma como se vestem ou na sua ideologia, e respeitam todos como são.

- O que mudou em si no último ano graças a esta experiência?

Mudaram algumas coisas. Deixei-me levar pelo espírito deles e descobri também coisas que me podiam melhorar. Descobri que há mais vida para além do futebol. Às vezes é só futebol, futebol, e só desfrutamos da vida nas férias, mas lá não. Comecei a desfrutar para além dos treinos e da competição.

- Foi bem recebido pelos seus colegas de equipa?

- Foi bom, receberam-me muito bem. O treinador também era português, o mister Bruno Romão, que me ajudou bastante na integração. São um povo muito aberto, e acredito que também reconheceram a minha qualidade, permitindo-me expressar as minhas ideias e experiência. Assumi um papel de líder, e eles sentiram-se confortáveis com isso.

- E fale-nos sobre aquela mochila que recebeu como prémio de Homem do Jogo. Já lhe deu uso? (risos)

- Dei muito uso. Foi um prémio engraçado, que não estava à espera. A mochila vinha com uma toalha de praia e uma bola de praia, e o meu filho adorou os presentes que vieram lá dentro.

Pedro Machado mostrou-se a bom nível no campeonato finlandês
Pedro Machado mostrou-se a bom nível no campeonato finlandêsFlashscore

"Nunca nada me foi dado na minha carreira"

- O que espera que esta temporada lhe ofereça em termos de futuro?

- Ainda não posso contar muito, ainda não está nada definido. Tenho recebido abordagens e acredito que, nas próximas semanas, mais vão chegar. Neste momento, as portas do mercado nórdico estão abertas. Vamos ver. No mundo do futebol, temos de estar disponíveis para ouvir tudo.

- Quando se sai de Portugal, fica mais difícil depois regressar ao nosso país?

- A minha prioridade é continuar fora, mas nunca fecho a porta ao nosso país. Se existir a oportunidade de continuar fora, que tem surgido, vou dar prioridade a continuar fora. Mas, repito, não fecho a porta a Portugal.

- Fazendo uma retrospetiva à sua carreira, qual o balanço?

- Foi muito difícil, logo desde o início. Desde criança fui apaixonado, cresci com a bola nos pés, como muitos colegas de profissão. Foi uma trajetória de luta desde o começo. Nasci na Amadora, mas aqui não foi possível começar a jogar. Quando a minha mãe conseguiu trabalho no Algarve, mudámos todos, e comecei aí a minha aventura no futebol. Posso desvendar o segredo de que o fiz às escondidas da minha mãe. Ela não queria, pois tinha receio. As pessoas gostaram de mim, e quando chegou a fase de ter de ser inscrito, precisava da assinatura dos pais. Mesmo aí, a minha mãe torceu o nariz, e foi uma professora da escola onde eu andava, que viu que eu tinha jeito, e convenceu a minha mãe. Passei pelo Quarteirense, Louletano, e foi sempre campeonato nacional a partir daí. 

Tive de esperar até aos 23 anos para assinar o meu primeiro contrato profissional, mas consegui, e desde aí tenho feito o meu percurso. Nada me foi dado, fui sempre à procura das minhas oportunidades, e espero ainda ter muitos anos pela frente.

Os números de Pedro Machado
Os números de Pedro MachadoFlashscore

- Por vezes os jogadores portugueses têm receio de arriscar e ir para fora. Qual o seu conselho?

- Diria para arriscarem. Em Portugal existe muita qualidade nos escalões inferiores e as pessoas têm algum receio de ir. Muitos ambicionam chegar às ligas profissionais em Portugal, mas não existe um caminho claro para conseguir. Muitas vezes, estas oportunidades abrem portas que ainda não tínhamos visto. Acredito que o português vai mostrar toda a sua qualidade fora e abrir um mundo de opções que, em Portugal, não conseguiria.

- O clube que o contratar vai poder contar com...?

- Vou dar sempre tudo pela equipa que representar. O que podem esperar de mim, enquanto homem e jogador, é um líder, alguém de grupo que coloca a equipa à frente dos interesses pessoais e alguém que trabalha no limite, entregando o melhor de si no treino e no jogo.