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Violência dos adeptos mancha o campeonato de futebol da Nigéria

Adeptos do Remo FC na segunda-feira
Adeptos do Remo FC na segunda-feiraADEKUNLE AJAYI/NurPhoto via AFP
Pouco depois do apito final que marcou a derrota da sua equipa, Vincent Temitope, avançado do clube nigeriano Plateau United, ficou coberto de sangue, vítima de uma violenta agressão.

O seu "erro"? Ter marcado um golo - razão suficiente, segundo o clube, para os adeptos da equipa adversária o atacarem. "Alguns adeptos planearam um ataque contra ele, causando-lhe um corte no pescoço que provocou uma hemorragia", declarou o diretor do clube, Yaksat Maklek, em comunicado.

Atos de violência como este são frequentes neste campeonato nacional, onde a competição é intensa num contexto de acusações regulares de corrupção envolvendo árbitros.

Uma semana antes da agressão a Temitope, os jogadores do clube Ikorodu City, de Lagos, foram sequestrados durante uma hora e meia nos balneários de um estádio em Ibadan, no sudoeste da Nigéria, depois de empatarem com a equipa da casa, os Shooting Stars. Acabaram por ser libertados graças à intervenção de uma escolta militar.

Apenas um mês antes, o treinador de guarda-redes dos Shooting Stars, John Dosu, foi agredido por um oficial da equipa adversária.

"A sede de vitória, de terminar nos três primeiros lugares ou de evitar a despromoção está geralmente na origem da violência dos adeptos", explica à AFP Toyin Ibitoye, ex-porta-voz dos Super Eagles, a seleção nacional.

Segundo ele, alguns clubes apoiam tacitamente a violência dos adeptos, que muitas vezes sentem que têm o direito de atacar jogadores e dirigentes das equipas adversárias em caso de resultado desfavorável. Mas não são os únicos em risco.

"Mago mago"

Em março de 2022, as forças de segurança tiveram de disparar gás lacrimogéneo para dispersar centenas de adeptos furiosos que invadiram o campo e semearam o caos após o falhanço da Nigéria na qualificação para o Mundial-2022.

"Não queremos de forma alguma que um único adepto seja ferido num estádio", declarou o presidente da Confederação Africana de Futebol (CAF), Patrice Motsepe, no mês passado, no Gana.

"A violência e o hooliganismo não são tão generalizados como se pensa", contrapõe à AFP Emeka Nwani, analista de um canal televisivo desportivo.

Além da violência, o futebol nigeriano enfrenta o velho flagelo da corrupção entre árbitros. No final de abril, a Federação Nigeriana de Futebol (NFF) enviou uma nota de serviço muito firme a todos os árbitros, de todos os níveis, com uma mensagem clara: respeitem "os princípios de equidade, imparcialidade e justiça".

Árbitros considerados culpados de parcialidade ou má conduta profissional poderão ser suspensos durante 10 anos e até entregues à polícia para "investigações adicionais e processos judiciais", avisava a nota.

Para muitos responsáveis de clubes, este lembrete era há muito esperado. "É assim que se acaba com o mago mago", afirmou um dirigente de um clube do sudoeste da Nigéria, referindo-se a uma gíria local que significa manipulação ou jogo sujo.

"Sanções cosméticas"

No que diz respeito à violência, apesar das multas e interdições de acesso aos estádios, as sanções são muitas vezes consideradas meramente cosméticas.

Uma multa de seis milhões de nairas (cerca de 3.740 dólares) foi aplicada ao Nasarawa United após a agressão a Vincent Temitope, e o clube teve de disputar os seus últimos jogos da época em casa no estado vizinho de Gombe.

"A melhor sanção, na minha opinião, para além da proibição dos adeptos ou da exclusão do clube do seu estádio, é a retirada de pontos", sugere Emeka Nwani.

"Reforcem a segurança nos estádios", propõe, por seu lado, Toyin Ibitoye. "Instalem mais câmaras de vigilância para poder identificar os autores destes atos. E quando conseguirmos identificá-los, façam deles um exemplo, para que sirva de lição aos outros", insiste.