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Análise: Spalletti tem o que é preciso para devolver a glória à Juventus

O treinador principal da Juventus, Luciano Spalletti
O treinador principal da Juventus, Luciano SpallettiMarco Canoniero / Shutterstock Editorial / Profimedia

Após uma série de exibições dececionantes no início da presente temporada da Serie A, os responsáveis da Juventus decidiram que já era tempo a mais com Igor Tudor e, no final de outubro e nomearam Luciano Spalletti na esperança de que devolvesse os tempos de glória à Velha Senhora italiana.

Tudor foi o primeiro treinador não italiano a ocupar o cargo em 19 anos e resistiu apenas 24 jogos antes de ser dispensado.

Perda de identidade

Apenas 10 vitórias durante o seu mandato resultaram numa percentagem de triunfos de 41,67%, uma das mais baixas dos últimos tempos, o que evidencia exatamente o que Spalletti terá de fazer para ajudar a reerguer esta instituição italiana.

Com 10 partidas já disputadas nesta época, a Juve encontra-se, na verdade, numa posição razoavelmente confortável, tendo em conta o contexto.

Classificação atual da Serie A
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Os 18 pontos conquistados colocam a equipa no sexto lugar, mas apenas a três pontos do Inter, que está em segundo, e a quatro do líder Nápoles.

Pode dizer-se que a perda de identidade é um dos aspetos mais preocupantes e que exige intervenção.

Depois de ter conquistado o primeiro Scudetto do Nápoles em três décadas, Spalletti conhece bem o caminho para o sucesso, embora vá precisar de toda a sua capacidade de gestão de grupo para tirar o máximo partido de jogadores que têm ficado aquém nas últimas épocas.

É altura de Koopmeiners, Vlahovic e companhia assumirem responsabilidades

Estrelas como Teun Koopmeiners e Dusan Vlahovic precisam de se destacar, embora, em abono da verdade, o segundo tenha tido tempo de jogo algo irregular sob o comando de Tudor.

Como acontece com todos os jogadores, a confiança transmitida a partir do banco pode fazer maravilhas.

O que surpreendeu muitos foi a decisão imediata de Spalletti em recuar Koopmeiners para o lado esquerdo do centro da defesa.

Um jogador mais conhecido pelo seu desempenho no meio-campo, o neerlandês mostrou-se confortável nos dois jogos já realizados sob orientação de Spalletti, e a construção de jogadas a partir de trás parece já ser parte do novo modelo de jogo.

Koopmeiners deverá ser peça central para o sucesso deste sistema.

Yildiz sente o peso da responsabilidade 

O brilhante Kenan Yildiz também precisa de encontrar um lugar fixo no novo esquema de Spalletti, seja a partir das alas, entrando para o meio, ou como criativo no papel de número 10, mais centralizado – algo que ainda está por definir.

Com apenas 20 anos, por vezes parece que o jovem tem de carregar esta equipa da Juve e essa responsabilidade tem, por vezes, pesado nos seus ombros.

Para tirar o melhor partido de Yildiz, é fundamental que lhe seja dada alguma liberdade em campo, sem nunca perder de vista a necessidade de ser eficaz.

Ao lado de Yildiz, espera-se que Vlahovic pague o seu valor em golos – algo que tem faltado ultimamente.

Depois de marcar nas duas primeiras jornadas da época, frente ao Parma e ao Génova, o sérvio só voltou a marcar mais uma vez no campeonato, frente à Udinese, no último jogo antes da chegada de Spalletti.

Apenas um golo de Jonathan David

Jonathan David foi contratado no verão e também tem algo a provar, já que só marcou uma vez, tal como Vlahovic, na estreia frente ao Parma.

Spalletti já assumiu publicamente o objetivo de terminar em lugares de Liga dos Campeões, e acredita-se que, se o conseguir, garantirá automaticamente um contrato definitivo – o atual é válido até ao final de 2025/26.

Os golos de Vlahovic e David serão quase certamente decisivos para essa ambição.

Francisco Conceição, Khephren Thuram e Andrea Cambiaso são outros três jogadores de grande qualidade que também têm estado aquém do esperado.

Assim, para além de estabilizar uma defesa que já concedeu 10 golos – o segundo registo mais elevado entre os oito primeiros da Serie A –, o verdadeiro desafio de Spalletti passa por devolver à Juve o futebol dinâmico, de posse e iniciativa, que durante anos foi a sua imagem de marca.

Confiar no processo

Com Spalletti a ser o terceiro treinador efetivo – quinto se contarmos os interinos – desde o fim da era de Massimiliano Allegri em 2024, compreender o estado de espírito do grupo e gerir alguns egos parece ser a parte mais simples do seu novo cargo. 

Transformar um grupo apático e previsível numa equipa coesa, sólida defensivamente e veloz nas transições não é algo que se consiga de um dia para o outro.

Confiar no processo e conquistar o compromisso dos jogadores é, nesta fase, tudo o que Spalletti pode pedir, e a disponibilidade de Koopmeiners é já um sinal positivo nesse sentido.

Se o nível exibicional e os resultados melhorarem, então, salvo lesões, o treinador já demonstrou ter a inteligência e as capacidades necessárias para construir algo especial.

A pressão para alcançar esse objetivo será enorme, naturalmente, mas Spalletti dispõe dos jogadores certos para concretizar a sua visão.

Resta saber se o grupo terá a ética de trabalho necessária para o que se avizinha nos próximos meses.

Jason Pettigrove
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