Paulinho no Toluca: "Tivemos algum trabalho de sapa difícil para convencer os diretores. Ninguém conhecia o Paulinho. A trajetória fala muito por ele. Tem vários patamares de rendimento do Santa Maria ao Sporting e sempre demonstrou consistência, seja em que realidade fosse. Faz golos e a equipa jogar. Fez 13 golos e umas 10 assistências no México, não foi só finalizador. Quando lhe liguei estava numa situação de suplente no Sporting, mas mesmo como suplente fez 21 golos. Já me conhecia, a forma das minhas equipas jogarem. E foi muito fácil convencê-lo, explicando o campeonato. A grande dúvida dele e da família dele era o México: que segurança havia, como é viver no México. Eu disse-lhe que em seis meses nunca me aconteceu nada, que era seguro. Ele chegou e adaptou-se muito rápido porque é um grande profissional. Fez muita diferença ter padrões de profissionalismo muito próprios, tem nutricionista particular, psicólogo particular, tem vida regrada... Ele surpreendeu no México. Disse a um diretor do clube que me ia pagar um jantar porque o Paulinho ia ser o melhor marcador do campeonato e ele disse 'que exagero, há cá o Gignac...'".
Paulinho e a Seleção Nacional: "Não sei se o Roberto Martínez devia olhar para ele, ele é que sabe da realidade dele. Há uma coisa que sei. Tenho quase a certeza. Na Europa olha-se muito para estas realidades com desconfiança e diz-se assim 'ah o Paulinho faz estes números porque é no México'. Mas ele fez também em Portugal, e superiores. Dizem 'é América do Sul e isto é Europa'. Não se valoriza tanto, é um mundo de etiquetas. Se não saio do Benfica eu era um treinador de formação. Fica-se fechado numa etiqueta injusta."
Treinou Biel no Bahia: "O Biel é um miúdo fantástico. Foi titular sempre connosco no Bahia. Depois com a chegada do Ceni e com várias contratações perdeu espaço. O plantel que tínhamos não era suficiente para sustentar o que o Grupo City queria. É um fantasista, parece que está sempre ligado à corrente, muito forte no um contra um, com golo. Precisa de um período de adaptação que o Sporting e o futebol europeu lhe vai exigir. Mas tem condições que vão facilitar muito a adaptação. Também está aí o Maxi Araújo, que treinei no Toluca. É diferente, já é titular do Uruguai. Faz todo o corredor esquerdo e é muito competitivo. Vão ser muito importantes. É preciso um pouco de paciência para estas realidades."
Treinar na Liga Portuguesa: "Não tenho dúvida de ser bem recebido em Portugal. É um objetivo. Não queria terminar a carreira sem treinar na liga portuguesa, é o meu país. Fico um bocadinho triste a olhar hoje para a realidade do futebol português porque há coisas que deviam mudar e não mudam. Estamos a meio do campeonato e só quatro treinadores mantêm o seu lugar. Acho que se despede com muita facilidade. Os despedimentos estão muito ligados a pessoas que tomam decisão sem conhecerem o que é o treino, o jogo, os jogadores. Não há uma filosofia e contrata-se o treinador X para jogar de uma forma, ao fim de sete jogos não funciona e contrata-se o treinador Y para jogar de uma forma antagónica. Para mim demonstra que não há projeto. Quando regressar vou ter muito cuidado com o projeto, mas é um objetivo, não quero terminar a carreira sem treinar na Liga."
Desentendimento com Martín Anselmi: "Com a saída do Martín Anselmi para o FC Porto, imediatamente o meu nome apareceu no Cruz Azul, mas decidiu ficar com o interino e o campeonato vai a meio. Eu tive um problema com o Anselmi no Independiente del Valle. Dei uma entrevista sobre esse tema em 2022 e foi muito procurado agora quando ele foi para o FC Porto. Recusei entrevistas, não quis alimentar polémicas, recusei. Preferia não falar. É um tema de que prefiro não falar."
Convite do Botafogo: "Eu já sabia que estava na mesa, mas havia mais treinadores. Um dia recebi uma chamada para uma reunião por Zoom e as coisas ficaram fechadas. Pode assustar a questão da fasquia porque o clube acabou de ganhar o que ganhou. Prefiro esse peso de ter que jogar para ganhar todos os dias, de lutar por todos os títulos, da pressão de uma 'torcida' gigante. Nos últimos dias senti um orgulho enorme pela minha carreira, que não teve ajudas, e este passo também foi assim. Não conhecia John Textor nem ninguém do Botafogo. O desafio é lindíssimo, o plantel tem muita qualidade, teremos um mês para trabalhar, o que é raro no Brasil, e isso vai ajudar-nos a colocar as coisas no lugar. O Artur Jorge deixou uma base de trabalho clara e obviamente não vou fazer mudanças radicais, vou aproveitar muito do que o Artur deixou aqui. É pôr um pouquinho da nossa ideia e jogar para ganhar sempre."
Sucessão a Artur Jorge: "Olho para o meu telefone e tenho 250 mensagens que ainda não consegui responder. Fiquei muito orgulhoso por ter gente do meu passado, diretores, jogadores. Não se esquecem. Muitos jogadores, não só do Benfica na época da formação, mas muitos por onde passei... O meu Instagram está inundadíssimo de mensagens. O Botafogo é gigantesco. Eu nem tenho tempo para isso (responder a mensagens), mas não recebi nenhuma mensagem do Artur Jorge ainda."
Equipa B do Benfica: "Quando estava na equipa B houve convites de clubes portugueses, tinha contrato de cinco anos e o presidente Luís Filipe Vieira entendeu que não era boa ideia sair. Quando aparece o Independiente del valle, foi o que entendi que deveria ser o seguinte passo que deveria dar, um início com exigência não tão alta e boa formação, seguimento do que se fazia no Benfica."