
"Futebol atrativo e competitivo"
- Como é que estão a correr as coisas em Itália, sobretudo em termos de adaptação ao clube e ao país?
- Está a ser um início muito positivo para mim. Tenho conseguido somar minutos de jogo num futebol atrativo e competitivo. O ritmo de trabalho e a intensidade são um pouco diferentes daquilo a que estava habituado, mas vejo isso como um fator essencial para o meu crescimento. Estou muito feliz por estar aqui, sinto que esta é uma grande oportunidade para evoluir e para me mostrar num dos melhores campeonatos da Europa.
Quanto ao país, a adaptação tem sido bastante fácil. A língua é compreensível, embora um pouco mais difícil de falar, mas com o tempo lá chegarei. A cidade faz-me lembrar o Porto e a comida é excelente. As pessoas são muito simpáticas, e tudo é bastante acessível e prático.
- Saiu do Estrela da Amadora para o Lecce, tal como o Tiago Gabriel e o Gaspar que tinha ido antes. Como é que eles estão?
- Acredito que também estejam bastante felizes. Convivo com eles diariamente e é essa a sensação que me transmitem. Ambos têm feito um bom percurso. O Gaspar já conquistou o seu espaço e impôs-se na equipa. Quanto a mim e ao Tiago, cabe-nos continuar a trabalhar para mostrarmos o nosso valor. O Tiago, sendo ainda mais jovem, tem um futuro promissor pela frente e, sem dúvida, muito potencial para crescer.

- Neste momento, nenhum de vocês é titular indiscutível na equipa. No seu caso, Danilo, tem somado bastantes minutos, embora, na maioria das vezes, entrando como suplente utilizado...
- Estamos na expectativa de conquistar mais minutos, mas sei que isso dependerá muito do que demonstro ao longo da semana. Ainda assim, para quem chegou há cerca de um mês e meio, estou bastante satisfeito com os minutos que já somei até agora.
- O Danilo mencionou um campeonato muito competitivo, com alguns dos melhores jogadores do mundo. Até agora, qual equipa mais te impressionou e há algum jogador em particular que te tenha chamado mais a atenção durante a tua passagem pelo Lecce?
- Quando se fala de jogadores, é impossível não mencionar o Rafael Leão. Embora eu não tenha jogado muitos minutos contra o AC Milan, o impacto dele assim que entrou foi notório para todos. Ele até acaba por fazer a assistência para o terceiro golo. Quanto a uma equipa que me tenha surpreendido, preciso de refletir um pouco, porque, para ser sincero, não joguei contra tantas equipas assim.
- A Atalanta, o Nápoles e o Inter estão na luta pelo título...
- A Atalanta, sem dúvida, impressiona mais, não tanto pelo estilo de jogo em si, mas pela intensidade da pressão que eles aplicam, marcando homem a homem durante o jogo todo. Acho que isso exige ter um grupo de jogadores bastante diferenciado, com uma grande capacidade física e mental, para conseguir manter esse nível de exigência durante os 90 minutos.

"Sou muito grato ao Estrela pela oportunidade"
- Após a sua passagem pela Croácia, Danilo, teve uma breve estadia no Estrela da Amadora, mas o tempo foi suficiente para se destacar. Como foi essa experiência no clube?
- Foi uma experiência que eu procurava, voltar a casa. O Estrela da Amadora, desde o início, demonstrou um grande interesse em me trazer de volta a Portugal. Foi um clube que me acolheu de forma incrível, com pessoas espetaculares lá dentro e adeptos que, mesmo nos momentos mais difíceis, estiveram sempre ao nosso lado. É um clube ao qual sou imensamente grato pela oportunidade, especialmente porque vinha de um contexto complicado e o Estrela deu-me a mão quando mais precisei. Isso é algo que levarei sempre comigo.
- O Estrela está na luta pela permanência. O Danilo acredita que o cluve vai conseguir manter-se na Liga?
- Sim, claro. Eu, como todos os estrelistas, acredito e apoio a equipa. Tendo estado lá dentro, conheço bem o trabalho diário da malta e o esforço que colocam para que tudo corra bem e as coisas sigam o seu curso. Eles merecem, acima de tudo, pelo que a Amadora representa, por todo o contexto que, apesar de não ser fácil, pode ser superado quando todos estão unidos. Juntos, conseguem fazer a diferença.

- Quer mandar pelo Flashscore alguma mensagem para os seus antigos colegas, para os dirigentes e para os adeptos do Estrela?
- Quero que, acima de tudo, os jogadores e o staff acreditem em si mesmos, mantenham a sua identidade e joguem à Estrela, com raça, dando tudo dentro de campo. Aos adeptos, só peço que continuem a apoiar a equipa até ao fim, porque é muito mais fácil quando estamos todos juntos, a lutar pelo mesmo objetivo. Sei que, no final, tudo se vai concretizar.
- A sua primeira experiência no estrangeiro foi no Rijeka, na Croácia, para onde foste ainda muito novo. Como é que foram esses tempos para ti?
- No início, a experiência foi muito positiva, especialmente porque foi a minha primeira vez fora do país. A motivação de estar em um novo ambiente, com uma cultura diferente e novos desafios, foi algo que me impulsionou. Estar fora da minha zona de conforto e viver essa experiência foi uma oportunidade que eu achava que todos os jogadores deveriam ter pelo menos uma vez na vida. No Rijeka, comecei bem, jogando praticamente todos os jogos e tendo um bom desempenho em campo. O início foi, sem dúvida, o mais fácil, pois a novidade e o entusiasmo estavam presentes.
No entanto, como em qualquer percurso, surgem desafios. Uma mudança de treinador no clube acabou por influenciar o meu desempenho, e o meu momento na equipa não se manteve da mesma forma. A mudança de técnico trouxe uma alteração na dinâmica do grupo e houve situações fora do meu controlo. O trabalho dentro de campo, de treinar e dar o meu melhor, foi feit. Agradeço ao Rijeka por me ter proporcionado essa oportunidade de aprender e amadurecer, tanto dentro como fora de campo. A experiência foi enriquecedora, mas também desafiadora.

- Uma oportunidade para amadurecer também como jogador e como pessoa, não é verdade?
- Exatamente, sim, sem dúvida. Principalmente quando fui para lá, não falava inglês. Entendia, mas não conseguia falar. O croata era uma língua bastante difícil e, além disso, acabei por crescer nesse sentido. Aprendi inglês para poder comunicar. Em Portugal, já vivia sozinho, mas é diferente viver sozinho em Portugal e viver sozinho num país que não é o teu, onde tens que te adaptar à cultura, ao clima, à comida, enfim, a tudo. Mas sim, acredito que foi muito benéfico para o meu crescimento pessoal e profissional.
- Quais são as principais diferenças que encontra entre as ligas portuguesa, croata e italiana?
- Intensidade. Acho que é a maior diferença. Em termos de nível técnico, acredito que temos jogadores técnicos, jogadores tecnicistas em todo o lado, mas é a intensidade que faz a diferença. Aquele detalhe, o meio segundo antes, o receber a bola e já pensar onde vou meter a bola a seguir, o que vou fazer. Acho que é isso que faz toda a diferença, e a exigência é sempre muito alta aqui, em comparação com o campeonato croata e português. A exigência está sempre no máximo. O primeiro treino da semana é no máximo, o último treino da semana é no máximo e não há descanso.

"Euro sub-21? Acredito no meu trabalho e nas minhas qualidades"
- Vamos falar um pouco sobre a seleção Sub-21, Danilo. Foi chamado recentemente, nos últimos meses do ano passado, e vem aí o Europeu na Eslováquia em junho. Tem esperança de fazer parte da equipa no Campeonato da Europa?
- Sim, claro que sim. Acredito no meu trabalho e nas minhas qualidades. Acho também que talvez precise de mais minutos aqui para poder ir ao Europeu, mas estou confiante no que mostrei quando lá estive e no que ainda posso mostrar até ao final do campeonato, para que o mister Rui Jorge possa voltar a chamar-me para esta fase decisiva.
- Continuar nas seleções é também um objetivo para si, agora nos Sub-21 e quem sabe mais tarde na Seleção A?
- Sim, claro que sim. Acho que essa é a ambição de todo jogador: poder representar o seu país, seja nas camadas jovens ou na Seleção A. E eu não fujo à regra. É o meu sonho também, um dia poder estar a defender os 11 milhões. Acredito que só o tempo dirá. Tenho confiança de que é possível, mas só o tempo dirá quando será o momento certo para lá estar. Por enquanto, o foco está no que posso fazer aqui no clube, para poder representar a Seleção Sub-21 e no Europeu.
- Quais são as suas principais referências, Danilo, na posição de lateral-direito? Se olharmos para a Seleção A, vemos grandes jogadores, por exemplo.
- Sim, da minha posição e da Seleção, gosto bastante do Cancelo, apesar de estar agora lesionado. Identifico-me também um pouco com ele na parte ofensiva. Depois, tenho outras referências, como a carreira incrível que teve o Dani Alves, de quem gostava muito. Gosto muito também do Kyle Walker. São jogadores que, sempre que posso, observo para tentar tirar aquilo que considero importante para o meu jogo.

- Você é luso-brasileiro, não é? Tem família brasileira?
- Correto, o meu pai.
- Mas nasceu cá, em Gondomar?
- Sim, sim, sim. Nasci aqui em Portugal, em Gondomar.
- Passou pela formação do FC Porto. É o seu clube em Portugal? Também representou Estrela, entre outros...
- Eu, honestamente, já fui fanático por um certo clube. Hoje em dia, sou apenas um adepto de futebol. Gosto de ver futebol, não para saber quem ganha, mas para apreciar o jogo jogado. Há sempre uma afinidade com clubes como o Gil Vicente, o FC Porto e o Estrela da Amadora, claramente, porque foram clubes onde joguei, onde fui bem recebido e onde gostei de estar. Mas não tenho uma equipa em concreto à qual possa dizer: 'sou adepto deste clube até ao fim'. Neste momento, não tenho.
- Para terminar, Danilo, falou em sonhos há pouco. Com apenas 22 anos, quais são os seus sonhos tanto no futebol como na vida?
- Na vida, o meu objetivo é dar uma grande estabilidade à minha família, poder um dia ser pai, ter os meus próprios negócios e garantir que a minha família nunca mais se preocupe com as condições de vida a nível profissional. Espero poder continuar na Liga Italiana, mas não sei o que o futuro me reserva.
Todos nós, jogadores, sonhamos em jogar em grandes clubes. Mas acho que o clube em si não é o mais importante. Dizer que sonho jogar num clube específico não é o que realmente importa. O importante é que estou aqui na Liga Italiana, e isso sim, é o meu sonho a ser realizado. Agora, o foco está em lutar pela manutenção, garantir que ficamos aqui e, no próximo ano, estaremos de volta com novos objetivos coletivos e individuais.