De Arrigo Sacchi e os três neerlandeses, a Fabio Capello, Carlo Ancelotti e os génios Savicevic e Shevchenko. A experiência de todos eles é inesquecível. E é por isso que Ariedo Braida, que entrou no Hall da fama do futebol italiano em novembro passado, sofre como poucos com a crise interminável do Milan. E, às vésperas do clássico contra a Inter, ele compartilhou as suas angústias em exclusivo ao Flashscore.
"Dizem que eu critico o Milan, mas acho que fiz algo interessante quando estive lá, junto com o meu grande presidente Berlusconi e Adriano Galliani. No entanto, assim que digo uma coisa, acusam-me: 'Ah, criticas sempre o Milan'. E, em vez disso, não, não critico, apenas olho para o que toda a gente vê", disse.
- O que é que vê?
- Vejo uma equipa sem identidade, onde infelizmente faltam valores. O futebol tem regras. Não é que toda a gente possa dar-se ao luxo de jogar futebol. E se falarmos exclusivamente de futebol, é evidente que a equipa não consegue encontrar o seu caminho. Ou seja: faz um bom jogo, veja-se o dérbi, e depois no jogo seguinte não consegue manter a continuidade.
- Nem nos resultados, nem nas ideias...
- Sim, estou a ver que querem mudar muitos jogadores. O Morata acabou de ser contratado e agora leio que o querem dar. Camarda era um fenómeno e agora já não é, há demasiada confusão.

- E toda a gente aponta o dedo a alguém: primeiro os jogadores contra Fonseca, agora Conceiçao contra os jogadores...
- Estamos constantemente à procura de culpados, mas os culpados mudam porque falta a liderança certa: não está lá, não se vê, não se ouve, não se sente. Infelizmente, a minha família é uma família de Milão e os meus filhos queixam-se. Dizem-me: 'Pai, não se pode fazer nada?'
- E o que é que se pode fazer?
- Estão a fazer o impossível, mas infelizmente as coisas não estão a funcionar.
- A sociedade só é ouvida quando levanta a voz quando as coisas correm mal.
- É como se faltasse a liderança. Falta o condutor. Ou melhor, os condutores. Porque pode haver mais do que um. O que falta é o grupo que é criado para liderar. Não há valores, não há identidade, e tenho pena porque o Milan é um grande clube, com uma grande história.
- Mas isso é o passado. Qual é o futuro?
- Espero que o Milan recupere, que volte a ser o Milan que escreveu páginas incríveis da história do futebol.
- No lado oposto do Navigli, porém, as coisas estão a funcionar.
- Sim, digamos que sim, apesar de, por exemplo, o Milan ter ganho o dérbi da liga, primeiro, e depois a Supertaça, e parecia que podia voltar ao bom caminho. Mas não o conseguem fazer... Ganham um jogo e voltam a cair no seguinte. Há qualquer coisa que falta e será necessário reavaliar um pouco, reavaliar e tentar perceber porque é que não funciona. E têm de ser as pessoas que o lideram, têm de perceber onde estão os problemas. Porque são aqueles que vivem de dentro de uma realidade que a conhecem melhor. O que se recebe da televisão e dos jornais são sensações, mas quando se experimenta algo diretamente, compreende-se muito mais.
- E a sensação é que o enigma não é fácil de resolver.
- Os jogadores têm olhos e coração. O futebol não é matemática, é feito de números, mas não é um fenómeno matemático. A matemática diz que 2 mais 2 dá 4, mas no futebol não é assim. Às vezes pode fazer mais 4, às vezes menos. Às vezes até faz 4, mas há que ter em conta muitas coisas: aspetos externos, mudanças de treinador.... Há um número infinito de coisas que têm de ser compreendidas. Se antes havia um sistema de jogo e depois chega um treinador com um novo sistema, talvez alguns o partilhem e outros não. Às vezes as coisas correm bem por magia, mas neste caso a falta de valores é tal....
- Até que ponto dói aos milanistas ver o Inter tão alto ao mesmo tempo?
- O Milan, neste momento, está afastado da luta pelo campeonato, está um pouco longe do topo. O Inter, por outro lado, está a subir. O Milan não está a lutar para ganhar e todos esperamos que tente, que resulte, que comece a ganhar jogos, todos eles. Sim, espero que o Milan ganhe todos os jogos, daqui até ao fim. Só então tudo pode mudar.
- Como é que uma equipa pode ganhar todos os jogos quando o seu melhor jogador, Rafa Leão, é considerado um problema e não um trunfo?
- Se o melhor é alguém que não pode ser o melhor, isso significa que há algo errado. A equipa funciona melhor se houver harmonia, se houver confiança. Se houver respeito pelo clube, pelo treinador que a dirige. É importante que os jogadores respeitem o treinador. Depois, é claro que tudo é determinado pelos resultados. Se os resultados vierem, as coisas correm bem, tudo funciona. Se os resultados não vierem, por outro lado, é mais complicado. E no início toda a gente pensava que o Milan podia lutar para ganhar ou, pelo menos, para ficar nos lugares cimeiros.
- As únicas satisfações surgiram nos dois dérbis da época. E domingo é o terceiro.
- E desejo que ele ganhe o terceiro também. Talvez ele precise disso para dar um grande passo em frente, para ganhar autoestima. Esperava que isso acontecesse depois do clássico da Supertaça. Parecia que podia ser assim, que tinham encontrado o caminho certo e, em vez disso, não.
- Como adepto do Milan, ficaria feliz se o Inter do seu amigo Marotta conseguisse ganhar a Liga dos Campeões?
- Bem, digamos que, uma vez que alguém tem de a ganhar, espero que seja um italiano. Gostava que o Milan ganhasse, mas não é possível. Para o nosso futebol, seria certamente uma boa notícia se um italiano ganhasse a Liga dos Campeões, porque recuperaria o prestígio que a Serie A está a tentar recuperar há algum tempo.
