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Exclusivo com Poborský: "Não queria sair do Benfica, mas o interesse da Lazio era enorme"

Karel Poborský com a camisola da Lazio (e contra o Inter)
Karel Poborský com a camisola da Lazio (e contra o Inter)ČTK - Flashscore by Canva
Este fim de semana, a Lazio pode destruir as hipóteses de título da Serie A do Inter em caso de vitória. A última vez que algo deste género aconteceu, há cerca de 23 anos, o checo Karel Poborsky, terminada a aventura no Benfica, decidiu a partida com dois golos, que entregaram o Scudetto à Juventus. "O Pavel (Nedved) ligou-me imediatamente após o jogo, do autocarro da equipa onde estavam a celebrar o título", recorda Poborsky nesta entrevista ao Flashscore.

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O nome de Karel Poborský está indissociavelmente ligado ao jogo entre a sua Lazio e o Inter. Com efeito, a 5 de maio de 2002, o futebolista checo marcou os dois golos mais célebres da sua carreira, embora não os mais importantes do ponto de vista puramente desportivo.

Era a última jornada do campeonato e a classificação mostrava os nerazzurri a liderar com um ponto de vantagem sobre a Juventus e dois sobre a Roma

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Acompanhe o relato através da app ou siteFlashscore

O que a Curva Nord do Estádio Olímpico queria evitar era que a Roma do capitão Francesco Totti fosse coroada campeã de Itália pelo segundo ano consecutivo. Foi também por essa razão que a equipa biancoceleste pediu aos seus jogadores para se afastarem e darem o Scudetto ao Inter.

O antigo médio do Manchester United, no entanto, não queria perder e deu o troco aos nerazzurri, carregando a equipa à vitória por 4-2, entregando o título à Juventus do seu amigo Pavel Nedvěd.

Atualmente, Poborský trabalha como comentador no Canal+ Sport, uma emissora que transmite a Premier League na República Checa e na Eslováquia, e aceitou o convite do Flashscore para falar sobre a sua aventurae em Roma e recordar aquele fatídico 5 de maio: "Não me lembro de ter marcado mais dois golos na minha carreira".

- Quando chegou à Lazio, a Serie A era a liga mais forte do mundo e a Lazio era a atual campeã.  Quis especificamente ir para lá ou havia mais opções em cima da mesa?

Mudei-me no inverno, a meio da época, e inicialmente não queria sair do Benfica. Mas o interesse deles era enorme. Na altura, Attilio Lombardo era o médio direito da Lazio e estava praticamente a terminar a carreira. Por isso, o clube quis resolver a situação o mais rapidamente possível. A transferência ficou concluída numa semana. A Lazio é um grande clube e o campeonato italiano era fantástico naquela altura. Tínhamos jogadores da seleção italiana na equipa, grandes jogadores argentinos, a qualidade era imensa.

- Foi Nedvěd quem o convenceu a mudar-se para a Lazio? 

De facto, foi ele que iniciou o primeiro contacto. Ligou-me a dizer que a Lazio estava à procura de um médio direito e perguntou-me se eu estava interessado, se o clube devia avançar com as negociações ou se era algo que eu nem sequer iria considerar, nem tentar. Claro que a sua presença foi um dos fatores que aumentou o meu interesse. Eu e o Pavel conhecíamo-nos há muito tempo, tínhamos jogado juntos na seleção nacional, e foi a primeira vez que a jogar no estrangeiro tinha outro checo no balneário do clube.

- Alguns meses mais tarde, porém, Nedvěd mudou-se para a Juventus, que lutou pelo título com o Inter e a Roma até à última jornada. A Lazio ganhou ao Inter por 4-2 nessa ronda, com dois golos seus que entregaram o campeonato à Juve. É verdade que (Nedved) lhe ligou imediatamente após o bis ao Inter?

Claro que sim, estivemos sempre em contacto. Até falámos no dia anterior. Ele disse-me que o título seria decidido no dia seguinte e que, por isso, devia dar o meu melhor. Respondi-lhe em tom de brincadeira: 'Não te preocupes, amanhã ganhamos, faço dois golos e o Scudetto é teu'. E depois aconteceu mesmo! Não me lembro de ter marcado dois golos num jogo em qualquer outra altura, muito menos na Série A. O Pavel ligou-me logo a seguir ao jogo, do autocarro da equipa, onde estavam a festejar o título.

- A situação na altura estava muito apertada no topo, com Inter, Juve e Roma à distância de dois pontos. Alguns adeptos da Lazio até queriam perder contra o Inter para não correr o risco de a Roma ganhar o Scudetto. Falharam sobre isso no balneário? 

Era um tema importante de discussão entre nós. Tínhamos vários jogadores argentinos que tinham muitos amigos no Inter. Os italianos, por outro lado, eram mais adeptos da Juventus, onde tinham colegas de equipa da seleção nacional e a Juve, de um modo geral, é o clube com muito estatuto em Itália. Na altura, brincávamos que entre os nossos adeptos, e mesmo entre os nossos jogadores, havia basicamente duas facções.

- Esse jogo com dois golos, que decidiu o título, foi a sua despedida com a camisola da Lazio. O que aconteceu nos dias seguintes e como foi a despedida de Roma?

Foi tudo muito rápido. Não me lembro se tínhamos de ir à seleção ou de férias, mas, de qualquer forma, partimos todos na manhã seguinte. Até porque, como não terminámos no topo da classificação, não havia nada para festejar.

- Já sabia que ia regressar à República Checa ou tentou ficar no estrangeiro e talvez em Itália?

Na altura, já tinha um acordo com o Sparta de Praga. A situação na Lazio era complicada. O então proprietário, Sergio Cragnotti, teve problemas legais e, se não estou em erro, o clube acabou por ser comprado por um banco. Foi um período difícil. Praticamente não tinha ninguém do clube com quem negociar, porque o clube tinha outras coisas com que se preocupar nessa altura".

- Se voltarmos a pensar no dia 05 de maio de 2002, Simone Inzaghi, que agora treina o Inter de Milão, também marcou um golo. Alguma vez imaginou que viria a ser um treinador tão bem sucedido?

Sinceramente, não. Era um tipo muito calado e ainda dá para ver isso hoje. Claro que na linha lateral mostra as suas emoções, mas nas conferências de imprensa fala sempre de uma forma educada e ponderada. Na altura, foi difícil para ele. Jogava pouco, era suplente, mas era o primeiro a entrar. O ponta de lança titular era Hernán Crespo. Mas mesmo nessa altura, era boa pessoa, tenho muito boas recordações dele.

- Ainda se mantêm em contacto? Gostaria que a sua equipa ganhasse o Scudetto e a Liga dos Campeões? 

Não, não estamos em contacto. Vou desfrutar da final da Liga dos Campeões sem grandes emoções, porque não tenho uma equipa. O PSG é incrivelmente forte, mas também vi como o Inter chegou à final e tenho de admitir que construiu uma grande equipa. Uma equipa que funciona e sabe exatamente como jogar. Será, sem dúvida, uma final interessante. No que diz respeito à corrida ao Scudetto, vejo o Nápoles como favorito, também porque teve a vantagem de não participar em nenhuma competição europeia e, por isso, tem mais energia. Eu diria que eles vão ganhar.

O topo da tabela da Serie A
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