"É a vida", disse o treinador cessante ao sair de San Siro pela última vez. "Qualquer pessoa que tenha sido treinador sabe como funciona: é sempre o primeiro a pagar quando as coisas não correm bem. E no Milan, oitavo na Série A, parece supérfluo sublinhar isso", escreveu Capello no La Gazzetta dello Sport.
O antigo técnico do AC Milan detalhou os pontos fracos da passagem do português por San Siro.
"Até que ponto é que Fonseca tem culpa? Taticamente, a sua equipa teve dificuldades em encontrar um equilíbrio em campo, um pouco à semelhança do que aconteceu com Pioli durante uma boa parte da época passada. Mas creio que o seu despedimento se deveu a outro motivo, para além dos resultados obviamente abaixo das expectativas: a falta de entrosamento com os jogadores mais importantes", referiu.
"Paulo Fonseca tentou ser duro, tomar decisões fortes, quando viu que alguns dos seus jogadores tinham atitudes erradas. Porque, há que dizê-lo, assistimos no Milan, nos últimos meses, a momentos de absoluta desatenção, com golos sofridos inaceitáveis para uma grande equipa", acrescentou.
Além disso, episódios como a "pausa para hidratação", quando Theo Hernandez e Rafael Leão estavam separados contra a Lazio, ou a dança sobre quem devia marcar os penáltis contra a Fiorentina, foram sintomáticos do estado de espírito da equipa.
"No final do dia, o treinador não conseguiu corrigir o que estava errado. E, visto de fora, parece-me claro que os líderes do balneário não estavam ao seu lado na gestão e nas escolhas. Na verdade, penso que o rejeitaram", continuou o experiente treinador.
"A relação de Paulo Fonseca com a direção deve então ser investigada, a começar por Zlatan Ibrahimovic. Por certas palavras de Ibra, notei um certo distanciamento entre os dois", analisou.
"Afinal, lembro-me quando ainda antes da estreia contra o Torino o sueco apareceu em conferência de imprensa a declarar que 'o treinador é o treinador, o clube faz o resto e o mercado fecha quando eu disser'. Como que para sublinhar a não centralidade do treinador no planeamento do plantel".
Depois de analisar alguns dos motivos para a saída de Paulo Fonseca, Fabio Capello comentou a chegada de outro português, Sérgio Conceição.
"Bem, não me parece a base correta para começarmos uma boa época juntos. E, de facto, Fonseca paga por todos, deixando o banco para Conceição. Um treinador que tem a reputação de ser duro, mas que também sabe ser muito pragmático", começou por referir.
"No FC Porto, ele esteve geralmente bem e gostei especialmente quando enfrentou equipas italianas na Liga dos Campeões, apesar de lhe terem vendido alguém praticamente todos os anos. Aqui, terá primeiro de conhecer os jogadores e encontrar a chave para entrar nas suas cabeças, antes mesmo de decidir como jogar taticamente".
"Isto é essencial para todos os treinadores e ainda mais para aqueles que assumem o comando durante a época. Mas a mudança no banco tira os álibis aos próprios jogadores: os adeptos estão fartos e o clube, com esta mudança, diz aos jogadores que, a partir de agora, as más atitudes não serão mais aceites. Neste aspeto, Conceição começa com uma vantagem sobre Fonseca", concluiu