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Flashback: Quando Batistuta marcou um golo à sua Fiorentina e desabou em lágrimas

Gabriel Batistuta com a camisola da Roma
Gabriel Batistuta com a camisola da RomaBj…Rn Lindgren / Zuma Press / Profimedia

Durante nove temporadas, Gabriel Batistuta foi o emblema da Fiorentina: o rosto, a alma e a bandeira de uma fé inabalável, muito além dos números. O golo que marcou como antigo jogador, a 26 de novembro de 2000, com a camisola da Roma, seguido de lágrimas, continua a ser a imagem mais forte da sua extraordinária epopeia futebolística.

Durante nove épocas, Gabriel Omar Batistuta foi muito mais do que o terminal ofensivo da Fiorentina: encarnou o seu espírito, a sua paixão, o seu orgulho. Não só pelos números - 203 golos em 331 jogos oficiais, um recorde na história do clube - mas sobretudo pela atitude de quem preferiu a pertença à glória fácil, a lealdade à comodidade.

Com a camisola roxa vestida, Batigol tornou-se um ícone, elevado à categoria de semideus por uma praça que o adotou como um filho e o defendeu como uma bandeira. Florença amou-o visceralmente, e ele respondeu ficando nos momentos mais difíceis, quando qualquer outro teria dito adeus.

Em 1993, com a Fiorentina despromovida para a Série B, ele não abandonou o barco. E mesmo quando os grandes bateram à porta, preferiu ficar. Os adeptos adoravam-no, e ele retribuía com golos em todas as posições, com exaltações com o coração na mão e aquele cabelo rebelde a balançar ao vento do Franchi. Ele não era apenas um avançado: era um símbolo, quase uma promessa de eternidade.

Mas o tempo, como se sabe, apresenta sempre a fatura. E, no verão de 2000, aos 31 anos, Batistuta tomou a decisão mais dolorosa da sua carreira: deixou Florença para perseguir um sonho chamado Scudetto, aceitando uma proposta da Roma.

"Nunca vou dizer o que me incomodava no clube. Só quero ser um jogador de futebol. Não partilhava muitas coisas com o clube. Penso que é correto mudar, para não sofrer mais", declarou com dignidade e medida. Em Trigoria, encontrou uma equipa ambiciosa, liderada por um treinador exigente como Fabio Capello e arrastada por um símbolo como Francesco Totti. O público da Roma acolheu-o com entusiasmo, o público Viola conteve as lágrimas mas nunca lhe virou as costas.

O dia do destino

26 de novembro de 2000, oitava jornada: Roma contra Fiorentina. O primeiro como ex-jogador, o mais esperado, o mais temido. O Stadio Olimpico estava cheio de emoção e tensão. Em campo, o jogo manteve-se empatado: a Fiorentina, com Rui Costa como capitão, defendia com ordem, Toldo estava num dia de graça. A Roma pressionava, mas não conseguia passar para a frente.

Então, chegamos aos 83 minutos. Uma bola perdida na entrada da área foi cabeceada por Gigou em direção a Batistuta. O "Rei Leão" não pensou duas vezes. Um remate forte e potente com o pé direito: Toldo foi batido. O Estádio Olímpico explodiu. Estava feito o 1-0. A Roma voou e manteve-se na liderança. Mas Batistuta não. Ficou imóvel. Cobriu a cara com as mãos. Chorou.

A moldura aperta-se-lhe no rosto. Os seus olhos ficam vidrados, o seu olhar abatido, a sua respiração difícil. Foi um momento de pura e pungente humanidade. Aquele golo não foi apenas um golo decisivo. Foi um corte emocional, uma rutura entre o passado e o presente, entre o que se tinha sido e o que se era chamado a ser. Naquele instante, Batistuta não era um jogador da Roma nem um antigo jogador da equipa viola: era um homem que marcou contra uma parte de si próprio.

Esse golo foi decisivo na corrida dos Giallorossi para o Scudetto, o único da carreira de Batistuta. Mas nenhuma fotografia dessa época teve a mesma força icónica como aquelas lágrimas sob o céu de Roma. Mais do que um golo. Mais do que uma vitória. Uma despedida silenciosa e chorosa de um amor que nunca acabou.