Com os resultados desta sexta-feira, o Nápoles foi coroado campeão. Um Scudetto, o quarto na sua história, chegou depois de uma vitória contra o Cagliari (2-0), deixando por isso de interessar o facto do Inter ter vencido por 0-2 diante do Como.
Um sucesso que tem a assinatura de Antonio Conte, o verdadeiro criador do que ele próprio definiu como um "milagre".
Quando Antonio Conte assumiu o comando do Nápoles, poucos teriam apostado num renascimento tão rápido e espetacular. A equipa napolitana, saída de um período turbulento, parecia estar a anos-luz da glória. Os escombros deixados pela temporada anterior, no meio de incertezas táticas e instabilidade emocional, ainda eram evidentes. Mas, em apenas um ano, o ex-treinador de Juventus, Chelsea e Inter transformou o Nápoles numa máquina de guerra, levando o clube de volta ao sucesso na Serie A.
Olhando para a tabela classificativa, parece quase irreal: o Nápoles conquistou o título com uma determinação extraordinária, fruto de uma visão tática inabalável, de uma gestão psicológica impecável e, acima de tudo, de um trabalho de equipa que cimentou uma ligação profunda entre a equipa e os seus adeptos como nunca antes.
O primeiro milagre de Conte: compras direcionadas e visionárias
A chegada de Antonio Conte ao Nápoles suscitou inicialmente dúvidas e ceticismo. A sua carreira, enriquecida por sucessos e proezas memoráveis, e o seu temperamento decisivo, levaram a crer que apenas os clubes com imensos recursos poderiam prosperar sob a sua liderança.
No entanto, num emblema marcado por anos de incerteza entre o pré e o pós-Spalletti, a chegada de Conte provou ser uma verdadeira revolução. Um treinador capaz de incutir uma mentalidade vencedora, rigor e disciplina num grupo que precisava desesperadamente disso.

Uma vez em Castel Volturno, Conte não hesitou em pedir reforços a Aurelio De Laurentiis. Ciente do valor do treinador, o presidente mostrou-se pronto a satisfazer os seus pedidos, determinado a investir na construção de uma equipa à altura das suas ambições. Mas o verão que se seguiu foi tudo menos tranquilo para o Nápoles, dominado pela questão de Osimhen. O nigeriano, em rutura com o clube e afastado do plantel durante o estágio de verão, criou mais do que uma dor de cabeça ao clube.
Ultrapassado o problema de Osimhen, que foi emprestado ao Galatasaray, a direção pôde finalmente concentrar-se nos reforços. E, como sempre acontece sob a liderança de Conte, o primeiro alvo era claro: Romelu Lukaku. Um jogador que, sob o seu comando, sempre deu o seu melhor. Mas não se ficou por aqui: pediu reforços em todos os departamentos, concentrando-se num defesa para flanquear Rrahmani e num médio box-to-box para substituir Zielinski.
O primeiro reforço foi Buongiorno, ex-capitão do Torino, seguido de Brescianini, do Frosinone, que já estava comprometido. No entanto, no momento mais oportuno, a Atalanta interferiu nas negociações e, com um timing perfeito, arrancou o jogador das mãos dos napolitanos. Forçado a repensar a estratégia, o Nápoles concentrou em outro alvo que, para Conte, representava o verdadeiro golpe de mercado: Scott McTominay.
O médio escocês, à margem no Manchester United, viu finalmente a sua oportunidade de renascer em Nápoles. Com 30 milhões, a transferência foi oficializada, e com ele chegaram também os velozes David Neres (ex-Benfica), Billy Gilmour e Rafa Marin, completando um mercado que deu nova solidez e qualidade à equipa. O resto, como se costuma dizer, é história.
Do início surpreendente à venda de Kvara: Conte supera as dificuldades
No entanto, a estreia de Antonio Conte no banco do Nápoles parecia anunciar mais um capítulo difícil. A derrota por 0-3 para o Verona no Estádio Maradona fez muitos adeptos tremerem e gerou dúvidas sobre o futuro do técnico. A semana foi particularmente complexa para Conte, que, no entanto, foi capaz de diagnosticar rapidamente os problemas e implementar uma reviravolta fundamental.
A partir de então, o Nápoles começou a correr num ritmo vertiginoso. Oito vitórias nos primeiros 10 jogos deixaram imediatamente claras as intenções da equipa: o objetivo era claro, não havia espaço para indecisões.
Mas a Atalanta, na 11.ª jornada, trouxe uma dura realidade aos partenopei, infligindo uma pesada derrota por 3-0 que interrompeu temporariamente a trajetória de crescimento. Naquela altura, a eliminação da Taça de Itália também deixou sinais de problemas. No entanto, Conte não desanimou. Com determinação, continuou a concentrar-se apenas no campeonato e, ao fazê-lo, conseguiu endireitar a situação. Vitórias contra Fiorentina, Atalanta e Juventus, além de dois empates importantes contra Roma e Inter de Milão, consolidaram uma posição de liderança que agora parecia imparável.
No entanto, no meio desta incrível série, surgiu uma transferência que poderia ter minado seriamente as ambições: Kvaratskhelia voou para o PSG durante o mercado de janeiro. A perda da estrela georgiana poderia ter desestabilizado qualquer um, mas não o Nápoles de Conte.
Apesar de algumas lamentações, o treinador concentrou-se no presente e, com astúcia, encontrou em David Neres o substituto ideal para o 7, devolvendo à equipa uma dimensão ofensiva de grande qualidade.
O resto da época? Um percurso triunfante: o Nápoles perdeu apenas um jogo em 2025, um facto que sublinha claramente a mentalidade vencedora que Conte incutiu no grupo. Enquanto o Inter, ocupado em várias frentes, tropeçava em alguns erros, o Nápoles aproveitava-os, regressando ao topo da tabela e garantindo o título, graças a uma continuidade que surpreendeu até os mais céticos.