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Neymar na Juventus: um sonho tentador, mas perigoso para a realidade do clube

Neymar disputa a bola com Bremer
Neymar disputa a bola com BremerALAIN JOCARD / AFP

Gleison Bremer lançou, ainda que de forma casual, um tema que incendiou a imaginação dos adeptos da Juventus: a chegada de Neymar a Turim.

Durante uma entrevista à Gazzetta dello Sport, o defesa-central admitiu que gostaria de ver o craque brasileiro fazer a sua “última dança” com a camisola bianconera, uma frase que rapidamente se espalhou e reacendeu o eterno debate entre fantasia e realidade.

A ideia não passa, para já, de uma mera sugestão sem qualquer negociação ou contacto oficial em curso. Mas as palavras de Bremer bastaram para alimentar um sonho. A Juventus, afinal, já provou no passado que é capaz de transformar o improvável em realidade, como esquecer a chegada de Cristiano Ronaldo em 2018?

Por trás do fascínio global de Neymar, contudo, surgem as interrogações de sempre: a sua frágil condição física, o peso financeiro de um salário astronómico e as dúvidas táticas que a sua integração num coletivo exigente como o da Juventus traria.

O eco da declaração de Bremer, ainda assim, não deixa de fazer o seu caminho entre adeptos e analistas. Sonho ou provocação? Por enquanto, é apenas conversa. Mas no futebol, nunca se sabe.

Se já aconteceu uma vez, por que não imaginar que possa voltar a acontecer? Mas, por enquanto, fica-se pela imaginação. A realidade é que Cristiano Ronaldo chegou à Juventus como protagonista absoluto, após conquistar três Ligas dos Campeões consecutivas pelo Real Madrid. Neymar, neste momento, enfrenta um cenário muito diferente, marcado por sucessivas lesões e com um estatuto de “ex-futebolista” para muitos observadores.

A ideia de ver Neymar com a camisola da Juventus é, por isso, mais um exercício de emocionalismo e paixão do que uma hipótese com verdadeira sustentação no mercado. Ainda assim, vale a pena refletir, sem ilusões, sobre os prós e os contras de uma operação desta dimensão, mesmo que tenha sido evocada, para já, quase em tom de brincadeira.

Os prós: imagem global e retorno mediático imediato

Em termos de impacto mediático, a chegada de Neymar seria um verdadeiro golpe de mestre. Não apenas para a Juventus, mas para toda a Serie A, que voltaria a ocupar o centro das atenções no cenário internacional. Apesar de ter perdido o estatuto de estrela durante a sua curta passagem pelo Al Hilal, onde somou apenas sete jogos e um golo, o antigo astro de Barcelona e PSG continua a ser um dos jogadores mais seguidos do planeta.

O peso de Neymar em termos de visibilidade, marketing e retorno comercial permanece gigantesco. A sua simples presença seria suficiente para atrair patrocinadores, aumentar a exposição global da Juventus e devolver ao clube de Turim um protagonismo mediático que tem oscilado nos últimos anos. Para a Serie A, seria uma oportunidade de ouro para reconquistar terreno na batalha pela atenção global, num contexto onde Premier League, La Liga e até Bundesliga têm dominado o espaço mediático.

Num contexto em que os clubes apostam cada vez mais no valor da marca e na internacionalização, Neymar representa uma figura magnética. O golpe de CR7 demonstrou como o retorno em termos de merchandising e visibilidade pode, em parte, tornar esse investimento menos arriscado do que se poderia pensar, pelo menos em termos económicos.

Neymar teria um impacto semelhante, pelo menos no início, graças ao seu apelo planetário, desde os mercados asiáticos aos sul-americanos e árabes. A sua chegada a Turim significaria a venda de bilhetes, de camisolas inatingíveis, de recordes de audiência. E, talvez, também um impulso psicológico para um ambiente que precisa de recuperar o entusiasmo.

Os contras: um talento frágil e temperamental

No entanto, o cenário muda radicalmente se olharmos para o terreno. Neymar, desde que deixou o Barcelona, nunca mais foi o mesmo. No Paris Saint-Germain, alternou lampejos de classe com longos períodos de ausência, colecionando lesões, polémicas, tensões com os colegas de equipa e com o clube.

Finalmente, antes de regressar a casa, a transferência para a Arábia Saudita - que deveria ter marcado uma mudança de ritmo - transformou-se numa experiência marginal, marcada por outra lesão grave e mais um longo período de inatividade.

Os números de Neymar
Os números de NeymarFlashscore

Do ponto de vista físico, Ney já não oferece quaisquer garantias. Na sua carreira, falhou muitos, demasiados jogos, época após época, muitas vezes em momentos decisivos.

A isto junta-se uma perceção pública de descontinuidade, capricho e uma certa alergia à disciplina: não é exatamente o tipo de perfil que se enquadre facilmente num contexto como o que Igor Tudor está a tentar criar, onde trabalha a identidade colectiva, o sacrifício e o equilíbrio tático.

Conclusão: Bremer brinca, Juve não

A ideia de ver Neymar a envergar a camisola da Juventus é, sem dúvida, fascinante. É uma reação compreensível, até humana. Bremer fez uma simples piada, mas tocou de imediato nas cordas sensíveis do orgulho e da grandeza perdida no imaginário coletivo da Juventus. No entanto, o clube de Turim sabe bem que uma sugestão deve, por vezes, permanecer apenas isso: uma sugestão.

Permitir que esta fantasia cresça sem controlo seria correr o risco de transformar uma inocente bola de neve numa avalanche difícil de travar. A Juventus, na realidade atual, precisa de foco, sustentabilidade e certezas, pilares que Neymar, infelizmente, não oferece neste momento. Sonhar (e brincar) com cenários de grande impacto mediático é tentador, mas também pode ser perigoso para um clube que precisa de estabilidade e de um projeto desportivo sólido.