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O primeiro treinador de Fàbregas: "Está feliz no Como, mas pronto para uma equipa de topo"

Fàbregas tem sido bem-sucedido em Como
Fàbregas tem sido bem-sucedido em ComoProfimedia
O Flashscore conversou em exclusivo com Joaquim Garcia, o primeiro treinador do atual treinador do Como. O antigo internacional espanhol tem sido um dos destaques no campeonato italiano e já viu o seu nome ser apontado a alguns clubes de topo.

"Corajoso e inteligente". É assim que Joaquim Garcia define o estilo do Como, a equipa treinada pelo seu mais famoso pupilo: Cesc Fàbregas. Foi ele que o lançou, quando tinha apenas 9 anos, fazendo-o jogar, com a camisola do F.C. Arenys de Mar, com rapazes mais velhos, porque já era de outro planeta.

"Ele podia treinar em qualquer lugar", garantiu sobre o atual treinador do Como, numa entrevista exclusiva concedida ao Flashscore, na qual se disse muito satisfeito com o seu trabalho: "Há muito tempo que não víamos uma equipa a jogar tão bem como o Como de Cesc no campeonato italiano. Ele tem tantas experiências no futebol que sabe sempre o que fazer".

"Fàbregas está feliz em Itália"

- Há quanto tempo é que o conhece?

- Praticamente desde sempre. Desde que ele nasceu. Fui treinador do pai dele, além de ter jogado com ele, e nessa mesma altura nasceu o Cesc. A nossa relação começou há muitos anos.

Joaquim Garcia foi convidado de Cesc Fàbregas em dezembro passado em Como
Joaquim Garcia foi convidado de Cesc Fàbregas em dezembro passado em ComoFlashscore

- Ainda se mantêm em contacto?

- Claro que sim. Em dezembro passado fui visitá-lo a Como para ver o jogo contra a Roma. E a verdade é que fiquei muito contente por o rever e, sobretudo, por o ver treinar, porque é uma nova fase da sua vida profissional e, logicamente, há sempre alguma incerteza sobre como as coisas vão correr. Mas pelo que vi e pelo que ele me disse, posso dizer que o vi muito bem preparado para ter sucesso também no banco.

- Lembra-se da primeira vez que o viu jogar futebol?

- Na nossa aldeia (Arenys de Mar, na província de Barcelona) só tínhamos uma rua principal e quando ele ia comer a casa da avó, depois do almoço saía e começava a jogar com o pai. Percebia-se logo que ele tinha algo de especial. Mas isso não teria sido suficiente. Como acontece frequentemente no mundo do futebol, há muitos rapazes que, à primeira vista, parecem ter algo de especial, mas depois, devido à idade, preferem fazer outras coisas. Ele, pelo contrário, já sabia que ia ser futebolista.

- E, de facto, pouco tempo depois chegou o Barcelona?

- Para qualquer jogador, e sobretudo para um catalão, é um privilégio ter a oportunidade de ir para a Masia. Era uma opção a considerar seriamente e penso que tanto ele como os seus pais tomaram a decisão correta.

C.F. Arenys de Mar: Joaquim Garcia e Cesc Fàbregas
C.F. Arenys de Mar: Joaquim Garcia e Cesc FàbregasArchivio Joaquim Garcia

- Em que posição é que ele jogava?

- Em todas, do meio-campo para cima.

- Era o clássico miúdo que jogava bem em todas as posições, certo?

- Exatamente. Se me apercebia que num dos lados estávamos mais fracos ou que faltava alguém, colocava-o lá. E há que ter em conta que ele era dois anos mais novo do que todos os outros quando o treinei.

- Quando se mudou para Londres, achava que estava a tomar a decisão certa para a sua carreira?

- Eu tinha ido vê-lo na final do Campeonato de Cadetes e descobri que Arsène Wenger também estava lá e tinha ido falar com ele e com a família. Eles tinham de tomar uma decisão e tinham de o fazer sabendo que não sabiam como as coisas iriam acabar no Barcelona. Quando se tem uma oportunidade destas, no início não se sabe o que fazer, porque todos nos lembram que estamos no Barcelona, mas eu diria que o que aconteceu depois e o facto de ele continuar a ser muito respeitado em Inglaterra confirma que tomaram a decisão certa. Pessoalmente, tenho de admitir que, na altura, foi um pouco difícil para mim, mas demorei pouco tempo a convencer-me de que era realmente o melhor que podiam fazer.

Garcia ao lado de Fàbregas
Garcia ao lado de FàbregasArchivio Joaquim Garcia

- Até porque foi com a camisola do Arsenal, bem como com a camisola da seleção espanhola, que ele se deu melhor.

- Sim, mas o primeiro ano no Barcelona também foi muito bom. Mas depois, com Tata Martino, as coisas não correram muito bem com a equipa e sabe-se que quando a equipa não funciona para os jogadores é mais difícil. Ainda assim, falar da sua aventura na Premier League enche-o de alegria, porque se sente muito amado em Inglaterra, um país que lhe é muito querido. Também porque saiu de casa quando tinha 15-16 anos e cresceu lá, fez lá a sua família. A Inglaterra e a Premier League representam dois aspetos muito importantes da sua vida.

- Nessa altura, o Arsenal de Wenger era um dos melhores clubes da Europa.

- Ele disse-me que ficou muito impressionado quando soube que o tinha ido ver jogar pessoalmente, até porque estamos a falar de um grande treinador que, naquele momento, estava a viver o seu momento mais doce no banco do Arsenal. Ficou muito surpreendido. Positivamente.

- Também o foi ver a Londres?

- Sim, claro. Fui com o pai dele e nessa altura o Arsenal perdeu o jogo. Depois do final do jogo, estávamos à espera dele no parque de estacionamento porque tínhamos de ir jantar, mas quando o vimos, estava tão zangado que pensámos 'acho que não vamos comer esta noite' (risos). Mas depois o seu humor melhorou, mas depressa me apercebi de como ele não gostava de perder.

- Alguma vez imaginou que viria a ser treinador?

- Eu queria que ele fosse, mas devo dizer que não tinha a certeza de que isso iria acontecer. Mas um dia o pai dele disse-me que ele ia tentar. Achei imediatamente que era a decisão correta, porque ele tem todas as caraterísticas para se sair bem.

- Qual poderá ser a sua mais-valia?

- A experiência de ter trabalhado com treinadores do calibre de Wenger, Mourinho, Guardiola, Tito Vilanova... Embora eu ache que todos os treinadores que ele teve o ajudaram a crescer.

- E qual foi o seu contributo?

- Talvez o facto de o ter iniciado numa liga mais competitiva quando ele ainda era muito jovem. Por isso, o meu contributo pode ser o facto de ter feito com que tudo corresse mais depressa do que em condições normais. É preciso dizer que só o treinei durante um ano, porque toda a gente percebeu imediatamente que ele era especial e os maiores clubes da zona foram atrás dele. E depois veio o Barça....

O primeiro passe de Cesc Fàbregas
O primeiro passe de Cesc FàbregasArchivio di Joaquim Garcia

- Ao ver Como jogar, acha que Cesc tem um estilo definido ou que a sua filosofia será uma síntese da de todos os seus mestres?

- Sem dúvida uma síntese. Também já falei sobre isso e posso garantir-lhe que não vai ficar por aí, mas vai dar uma interpretação própria ao que aprendeu com os seus treinadores. Vai tirar o melhor da filosofia de cada um deles e dar-lhe a sua própria interpretação nova e pessoal. Pelo que vi até agora, posso dizer que já está a fazer com que a sua equipa jogue de forma muito diferente das outras equipas da Série A.

- Quando o foi ver no Natal, as coisas não estavam a correr muito bem. Como é que ele encarou a situação?

- Ele tinha consciência de que era necessário reforçar a equipa. Era isso que mais o preocupava na altura. E felizmente conseguiu. Vi-o feliz e confiante, embora seja evidente que ainda está no início e que terá de trabalhar muito.

- Ele está feliz em Itália?

- Sim, vi-o feliz. Organizou-se bem: a casa, a escola das crianças.... Vi-o muito feliz. Também porque faz um trabalho que é também a sua paixão. E a sua paixão é o futebol, bem como a sua família. Portanto, se ele tem tudo o que gosta, o que é que pode querer mais?

- Alguns grandes clubes já estão de olho nele. Qual é o seu sonho? Regressar ao Arsenal ou ao Barça...?

- Não me parece que ele esteja a pensar noutro clube que não seja Como. Neste momento, não. A sua principal preocupação é e continua a ser o Como. Tenho-o visto muito concentrado no que está a fazer. Depois, é claro que as coisas que têm de vir, virão. Mas tudo no seu devido tempo. Repito: neste momento, o projeto dele chama-se 'Como'.

- Acredita que ficar mais alguns anos na Série A o ajudaria a melhorar em termos táticos?

- Meu Deus! Comparativamente a Espanha, Inglaterra, França e Alemanha, em Itália dá-se uma atenção especial à tática. Por isso, estou convencido de que esta seria uma experiência muito importante para o seu crescimento. Porque uma coisa são os resultados e os títulos e outra coisa são as verdadeiras oportunidades de crescimento.

- O objetivo de Cesc para este ano é a salvação ou ele já deixou claro que aspira a algo mais?

- Não, neste primeiro ano tem de ser claramente a manutenção. Aliás, mais do que a própria salvação, o objetivo é a tranquilidade, porque com a tranquilidade vem também a salvação. Vi-o muito satisfeito.

Acompanhe o Milan-Como no Flashscore

- Amanhã (hoje) Como vai a San Siro, convidado do AC Milan, uma das equipas de topo que poderá apostar nele em breve.

- É normal que as equipas que estão mal procurem os treinadores que estão bem, tal como acontece com os futebolistas. E a verdade é que há muito tempo que não se via uma equipa da liga italiana jogar tão bem como o Como de Cesc. Ele tem tantas experiências no futebol que sabe sempre o que fazer. No entanto, as decisões importantes devem ser tomadas sem pressa porque, caso contrário, podemos arrepender-nos. É preciso tempo e paciência. E repito, neste momento, para ele, só existe Como.

- Tempo e paciência não são exatamente dois conceitos próprios do futebol moderno.

- Ele ainda está a começar. Os treinadores não se formam tão depressa como os jogadores. Têm de levar o seu tempo e estar conscientes de que tudo depende dos resultados. Os bons treinadores são certamente aqueles que sabem ganhar, mas também aqueles que são capazes de fazer a sua equipa jogar bom futebol, especialmente quando os resultados não aparecem. Mas não tenho dúvidas de que Cesc estaria à altura dos melhores treinadores, mesmo numa equipa de topo.

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