Após o jogo entre Atlético-MG e Palmeiras no Mineirão, no último domingo, Abel tirou o telefone ao jornalista e tentou (não sei se conseguiu) apagar o vídeo que estava a ser gravado e que filmava um membro da direção palmeirense a discutir com um membro da arbitragem. O produtor estava na chamada "zona mista", área permitida aos jornalistas para gravação de imagens e entrevistas.
Abel simplesmente foi em direção ao jornalista e retirou-lhe o telemóvel das mãos, interrompendo o seu trabalho. O treinador do Palmeiras agiu como se tivesse o direito de escolher o que o jornalista devia ou não registar, "perdendo a cabeça" na sua atitude intempestiva, que não aconteceu pela primeira vez.
Antes mesmo de começar a conferência de imprensa após o jogo, Abel tentou desculpar-se. Na verdade, não foi uma tentativa, uma vez que o treinador mencionou a palavra "se".

"Se eu me excedi...".
Se? Isso deixa claro que ele ainda não tinha a noção do que tinha feito. Abel restringiu o trabalho de um membro da imprensa, nada mais do que isso. Se ele acha que isso é normal, os seus valores estão distorcidos.
A situação foi gravada por outro jornalista, Henrique André, da Rádio Itatiaia. Henrique estava um pouco mais distante, mas capturou tudo. Se estivesse perto, tinha a hipótese de, também, ver o seu telemóvel "confiscado" por Abel.
O português dirigiu-se para o balneário dizendo que os jornalistas queriam criar polémica e tinham culpa pelo estado atual do futebol brasileiro. Abel precisa saber que o papel da imprensa é procurar informações e divulgá-las quando são relevantes. Não é ele quem decide o que um jornalista deve ou não gravar numa zona mista.
Esta última situação era 100% evitável e a polémica foi causada pelo próprio treinador.
Abel chegou a afirmar que existem coisas que a imprensa não precisa de saber. Se é assim, que a próxima discussão com a equipa de arbitragem aconteça noutro ambiente. Se for numa área destinada para os jornalistas, há grandes chances de ficar registado e não há nada de ilegal com isso, que fique bem claro.
Esta não é a primeira vez que Abel tem atritos com jornalistas. As "patadas" já foram algumas, faltando uma certa compreensão do técnico sobre o trabalho da imprensa, que tem todo o direito de perguntar sobre a pouca utilização de Endrick e o possível interesse do PSG no seu trabalho. Ele não precisa gostar do conteúdo que os jornalistas brasileiros produzem, mas precisa, pelo menos, de respeitá-los. Nem isso ele tem conseguido fazer.
Um dos primeiros incidentes veio quando o jornalista elogiou a sua equipa e recebeu a seguinte resposta: "É por isso que sou treinador e vocês jornalistas. Se quiserem, vão à CBF e façam o curso, depois sentem-se aqui no meu lugar. É isso que têm que fazer", afirmou.
Eficiente no comando da equipa, mas do lado de fora...
Abel é um excelente treinador, sendo apontado para dirigir a seleção brasileira. Mas, fora das quatro linhas, tem criado um "burburinho" desnecessário, fazendo a imprensa ter uma visão e impressão dele que diferem bastante da sua capacidade como estrategista.
Os árbitros, que costumam advertí-lo com cartões amarelos e vermelhos, não devem ter opinião muito diferente, sofrendo com o temperamento do treinador, que precisa de controlar melhor as suas atitudes durante e após os jogos.
As informações que chegam de Portugal indicam que por lá não era muito diferente, acostumando-se a indicar os jornalistas como responsáveis ou culpados por algumas situações que não faziam muito sentido.
Abel, em boa parte dos casos, reconhece a sua falha e pede desculpas, como aconteceu agora e em outra situação anterior. Louvável. Mas isso de pouco tira a impressão negativa que tem deixado com alguma frequência fora dos relvados. É hora de rever seus conceitos e controlar melhor a cabeça quente.