Mais

Opinião: Abel Ferreira tem "perdido a cabeça" na relação com a imprensa brasileira

Abel envolveu-se numa nova polémica com um jornalista
Abel envolveu-se numa nova polémica com um jornalistaPalmeiras
O incidente que envoleu o técnico do Palmeiras, Abel Ferreira, e o jornalista Pedro Spinelli, produtor da Globo Minas, foi mais um na lista de atritos entre o treinador português e a imprensa brasileira.

Após o jogo entre Atlético-MG e Palmeiras no Mineirão, no último domingo, Abel tirou o telefone ao jornalista e tentou (não sei se conseguiu) apagar o vídeo que estava a ser gravado e que filmava um membro da direção palmeirense a discutir com um membro da arbitragem. O produtor estava na chamada "zona mista", área permitida aos jornalistas para gravação de imagens e entrevistas.

Abel simplesmente foi em direção ao jornalista e retirou-lhe o telemóvel das mãos, interrompendo o seu trabalho. O treinador do Palmeiras agiu como se tivesse o direito de escolher o que o jornalista devia ou não registar, "perdendo a cabeça" na sua atitude intempestiva, que não aconteceu pela primeira vez.

Antes mesmo de começar a conferência de imprensa após o jogo, Abel tentou desculpar-se. Na verdade, não foi uma tentativa, uma vez que o treinador mencionou a palavra "se".

Abel tem tido atitudes que não condizem com sua eficiência como treinador
Abel tem tido atitudes que não condizem com sua eficiência como treinadorPalmeiras

"Se eu me excedi...".

Se? Isso deixa claro que ele ainda não tinha a noção do que tinha feito. Abel restringiu o trabalho de um membro da imprensa, nada mais do que isso. Se ele acha que isso é normal, os seus valores estão distorcidos.

A situação foi gravada por outro jornalista, Henrique André, da Rádio Itatiaia. Henrique estava um pouco mais distante, mas capturou tudo. Se estivesse perto, tinha a hipótese de, também, ver o seu telemóvel "confiscado" por Abel.

O português dirigiu-se para o balneário dizendo que os jornalistas queriam criar polémica e tinham culpa pelo estado atual do futebol brasileiro. Abel precisa saber que o papel da imprensa é procurar informações e divulgá-las quando são relevantes. Não é ele quem decide o que um jornalista deve ou não gravar numa zona mista.

Esta última situação era 100% evitável e a polémica foi causada pelo próprio treinador.

Abel chegou a afirmar que existem coisas que a imprensa não precisa de saber. Se é assim, que a próxima discussão com a equipa de arbitragem aconteça noutro ambiente. Se for numa área destinada para os jornalistas, há grandes chances de ficar registado e não há nada de ilegal com isso, que fique bem claro. 

Esta não é a primeira vez que Abel tem atritos com jornalistas. As "patadas" já foram algumas, faltando uma certa compreensão do técnico sobre o trabalho da imprensa, que tem todo o direito de perguntar sobre a pouca utilização de Endrick e o possível interesse do PSG no seu trabalho. Ele não precisa gostar do conteúdo que os jornalistas brasileiros produzem, mas precisa, pelo menos, de respeitá-los. Nem isso ele tem conseguido fazer.

Um dos primeiros incidentes veio quando o jornalista elogiou a sua equipa e recebeu a seguinte resposta: "É por isso que sou treinador e vocês jornalistas. Se quiserem, vão à CBF e façam o curso, depois sentem-se aqui no meu lugar. É isso que têm que fazer", afirmou.

Eficiente no comando da equipa, mas do lado de fora...

Abel é um excelente treinador, sendo apontado para dirigir a seleção brasileira. Mas, fora das quatro linhas, tem criado um "burburinho" desnecessário, fazendo a imprensa ter uma visão e impressão dele que diferem bastante da sua capacidade como estrategista.

Os árbitros, que costumam advertí-lo com cartões amarelos e vermelhos, não devem ter opinião muito diferente, sofrendo com o temperamento do treinador, que precisa de controlar melhor as suas atitudes durante e após os jogos.

As informações que chegam de Portugal indicam que por lá não era muito diferente, acostumando-se a indicar os jornalistas como responsáveis ou culpados por algumas situações que não faziam muito sentido. 

Abel, em boa parte dos casos, reconhece a sua falha e pede desculpas, como aconteceu agora e em outra situação anterior. Louvável. Mas isso de pouco tira a impressão negativa que tem deixado com alguma frequência fora dos relvados. É hora de rever seus conceitos e controlar melhor a cabeça quente.