15 de junho de 1997, Estádio San Paolo, em Nápoles. Foi disputado o play-off de salvação entre o Cagliari e o Piacenza, com os sardos treinados por Carletto Mazzone e os emilianos por Bortolo Mutti. O jogo terminou 3-1 para o Piacenza, que ganhou a salvação, enquanto o Cagliari caiu para a Série B.
Para os sardos, ficará uma ferida no coração, não só pelo resultado, mas por tudo o que aconteceu nesse dia. Os sardos, que tinham vindo em número de 20.000 da ilha para apoiar a equipa, tiveram vários problemas para chegar ao San Paolo: desde os atrasos na atracagem no porto até aos foguetes dos adeptos napolitanos. Adeptos que depois se colocaram abertamente ao lado dos adeptos emilianos, uma vez que no banco emiliano se encontrava Mutti, prestes a mudar para a Azzurra (com resultados desastrosos, pois o Nápoles acabou na Série B).
E não ficou por aqui, porque até o pós-jogo foi particularmente animado: após o apito final, houve uma verdadeira caça ao sardo nas ruas de Nápoles e várias agressões que deixaram marcas. Marcas que ficaram gravadas na memória desde então, e transmitidas pelos sardos, ao ponto de esta história ser também objeto de um filme documental intitulado "Deu ci seu": o êxodo de uma ilha para apoiar um dos seus símbolos e o acolhimento que recebeu.
Se esse ano de 1997 criou um divisor de águas, uma ferida irremediável, a rivalidade desenvolveu-se ainda antes, com Ferlaino, então presidente do Nápoles, a comprar 50% do clube sardo em 1992 para evitar que Daniel Fonseca, que aí jogava, fosse vendido à Juventus, como prometido pelo proprietário cessante Antonino Orru e pelo diretor desportivo do Salerno, Carmine Longo. Assim, com 20 mil milhões de liras por 50% do clube e 16 pelo uruguaio, Ferlaino comprou aquele que viria a ser o pomo de discórdia entre os dois clubes. Ficou célebre o gesto do guarda-chuva que o avançado fez aos adeptos do Cagliari após um golo no Sant'Elia, depois de ter sido insultado durante todo o jogo por essa mesma traição.
A rivalidade desportiva também se tornou política durante a emergência do lixo de 2008, quando o Estado decidiu que uma parte deveria ser transferida para a Sardenha, tendo o governador Soru concordado em dar uma ajuda à Campânia. Uma decisão que provocou a revolta dos sardos, com o presidente da câmara de Olbia, Giovannelli, de centro-direita, a vigiar o porto. E o protesto acabou por resultar, porque os navios só chegaram ao porto de Cagliari e foram descarregados em Casic, na zona industrial. Mas não sem problemas, porque os sardos, para manifestarem o seu descontentamento, atacaram a casa de Soru com pedras e sacos de lixo.

Uma rivalidade que nunca diminuiu, mas que se acentuou com o tempo. Tensões que levaram os adeptos a pedir hoje a Davide Nicola e aos seus homens uma proeza para estragar a festa dos partenopei, apesar de uma salvação já conseguida. Uma tarefa árdua, tendo em conta o que está em jogo para o Nápoles, a força da equipa de Conte e o público de 50.000 pessoas no Maradona, mas que para os sardos teria o sentido de "vingança desportiva".
É nesta animosidade, neste espírito de vingança que os adeptos esperam transmitir à equipa, que o Inter de Inzaghi pode apostar para arrebatar clamorosamente um Scudetto que parece já cosido nas camisolas azzurri.