A Red Bull já estava presente no Brasil antes de desembarcar em Bragança Paulista. A empresa austríaca comandava o Red Bull Brasil, clube focado na formação de atletas, fundado em novembro de 2007. O plano de ação era semelhante ao desenvolvimento estratégico promovido em cidades onde a empresa já possuía clubes de futebol, como Nova Iorque, nos Estados Unidos, e Salzburgo, na Áustria.

Uma das maiores conquistas da era Red Bull Brasil foi chegar à elite do Paulistão em 2015, terminando em segundo lugar no Grupo A e qualificando-se para os quartos de final, onde a equipa perdeu com o São Paulo. No ano seguinte, o clube repetiu o feito, mas também foi eliminado nos quartos de final pelo Corinthians.
Apesar de algum sucesso no futebol local, o Red Bull Brasil não conseguiu destacar-se no cenário nacional, caindo na primeira fase em ambas as ocasiões na Série D, o quarto escalão do futebol brasileiro, e sendo eliminado na fase inicial da Taça do Brasil.
Era, portanto, necessária uma mudança de rumo no projeto, e o Bragantino passou a ser o clube que representaria esse novo capítulo da história da empresa em solo brasileiro.
Bragança Paulista escolhido pelo Red Bull
Fundado em 1928, o Bragantino teve grande sucesso no futebol paulista e nacional. Um dos seus maiores sucessos aconteceu em 1990, quando se sagrou campeão paulista, ao vencer o Novorizontino naquela que foi apelidada de "final caipira", pois colocou frente a frente duas equipas do interior do país numa final da elite paulista, batendo os gigantes Corinthians, São Paulo, Palmeiras e Santos.
Foi o primeiro grande trabalho de Vanderlei Luxemburgo, um dos treinadores mais vitoriosos da história do futebol brasileiro, que chegou ao Real Madrid em 2004/05.
O Massa Bruta, como é conhecido, contava com jogadores que viriam a integrar a seleção brasileira, como Mazinho, Gil Baiano, Sílvio e Mauro Silva, campeão do Mundial de 1994. O Bragantino terminou o Paulistão de 1990 com 18 vitórias, 12 empates e apenas sete derrotas em 37 jogos.

Naquela temporada, a equipa do Bragantino enfrentou os grandes de São Paulo oito vezes no estadual, perdendo apenas com o Santos.
No mesmo ano, o Massa Bruta fez a sua primeira participação na elite do futebol brasileiro, terminando em oitavo lugar no campeonato. Na temporada seguinte, sob o comando de outro grande nome do futebol brasileiro, Carlos Alberto Parreira, o Bragantino chegou à final do Campeonato Brasileiro, eliminando o Fluminense diante de um Maracanã lotado e perdendo apenas com o São Paulo na final.
Do Bragantino, Carlos Alberto Parreira tornou-se técnico da seleção brasileira, levando a Canarinha ao tetracampeonato mundial em 1994, nos Estados Unidos. Enquanto isso, o clube alvinegro paulista continuava a sua ascensão, participando pela primeira vez numa competição internacional: a Taça CONMEBOL.
Porém, a partir de 1995, o Bragantino passou por maus momentos, começando pela despromoção para a Série A2 do futebol paulista. O risco da descida da primeira divisão brasileira, que poderia ter acontecido em 1996, confirmou-se em 1998. O Bragantino teria de esperar 22 anos para regressar à Série A nacional. A volta por cima do clube deveu-se, sem dúvida, à organização do projeto colocado em prática pelo Red Bull.

A empresa austríaca chegou ao clube em 2019, um ano que começou cheio de esperanças para os adeptos do Massa Bruta. Afinal, o clube havia conquistado o acesso à Série B do Brasileirão na temporada anterior. Mas o Bragantino voltou a evitar a despromoção por pouco no Paulistão de 2019, escapando na última tentativa.
Naquele mesmo março de 2019, o alívio da permanência transformou-se em esperança imediata de dias melhores com o anúncio da chegada do Red Bull. A parceria envolveu um investimento de cerca de 7 milhões de euros para lutar pelo acesso à Série A, além de oferecer melhorias no estádio Nabi Abi Chedid e em outras propriedades do clube.

Como foi destacado na época, o Red Bull Brasil sofria pressão da matriz austríaca para fazer parte da elite do futebol brasileiro. Mas o clube-empresa não disputou nenhuma divisão do campeonato brasileiro em 2019.
O Bragantino, que estava a regressar à Série B, era o destino ideal para atingir esse objetivo. A franquia austríaca já havia tentado comprar o Oeste por 45 milhões de reais, mas as negociações não tiveram sucesso.
Trabalho duro valeu a pena
Ao contrário de de alguns clubes que administra na Europa, como o Leipzig, o Red Bull encontrou no Bragantino um lugar tranquilo, sem pressão de adeptos, sem críticas fundamentais à mudança de status, já que agora era um clube administrado por uma empresa, sem exigência de títulos a curto prazo e com a possibilidade de mudar as cores do equipamento e até o símbolo, o que de fato aconteceu, com o vermelho e o brasão da franquia adicionados ao uniforme.

No seu primeiro ano, 2019, o Bragantino conquistou o título da Série B e garantiu o tão esperado regresso à elite do futebol brasileiro, algo que a empresa austríaca havia idealizado. Era o salto qualitativo que o projeto precisava para se estabelecer no país do futebol.
Com um projeto de longo prazo, um alto nível de investimento na base e, posteriormente, o fecho definitivo do Red Bull Brasil, os austríacos injetaram mais de 100 milhões em reforços nos dois primeiros anos de gestão do Bragantino. Também fizeram melhorias fundamentais na infraestrutura do clube, com o Centro de Treinos em Jarinu e reformas no estádio Nabi Abi Chedid.

Em 2021, colhendo os frutos desse processo de gestão, o Massa Bruta chegou à primeira final internacional da sua história, perdendo por 1-0 com o Athletico-PR na final da Taça Sul-Americana.
"O Red Bull é um projeto inédito. Trata-se de um clube que estava a trabalhar organicamente e resolveu 'comprar' uma vaga da Série B para a Série A. Ou seja, investiu no Bragantino para ganhar impulso e chegar à elite. E na elite, o fenómeno só cresce. Na Série A do Brasileirão, mesmo que os custos sejam maiores, também se beneficia da televisão, os contratos aumentam ano a ano e ganha-se em visibilidade. Ao jogar contra clubes como Flamengo e Corinthians, a marca Red Bull tem trazido mais recursos, o que faz com que o clube, mesmo com os recursos da matriz, tenha aumentado sua receita operacional", explicou Amir Somoggi, sócio-fundador da Sports Value, empresa especializada em marketing desportivo, gestão e avaliação de clubes, em entrevista ao Flashscore.
"O crescimento da Red Bull está acima da média. Eles saíram de uma renda muito baixa, na época do Bragantino, para uma das maiores rendas do Brasil. Hoje, tem vendas de atletas muito fortes, bons contratos de televisão e bons desempenhos desportivos", acrescentou o especialista.
O momento atual
O ano de 2024 quase terminou em desastre para o Bragantino, que conseguiu escapar da despromoção da Série A do Brasileiro na última jornada. No entanto, os números financeiros do Bragantino são positivos.
De acordo com um estudo da Sports Value, o clube cresceu 287% entre 2020 e 2024, tornando-se o 12.º emblema mais valioso do Brasil, com um valor de mercado estimado em 1,438 mil milhões de reais, à frente de clubes tradicionais como Vasco e Santos.

Em 2023, a receita do Bragantino será de R$ 488 milhões, representando um crescimento de 1.147% em cinco anos. Os custos do futebol em 2023 foram de R$ 406 milhões. Os ativos totais somam R$ 709 milhões, com dívidas que totalizam R$ 408 milhões.
Amir Somoggi acredita que o projeto Red Bull está consolidado no Brasil e tem enorme potencial de crescimento, principalmente se o clube conseguir aliar o sucesso da marca de bebidas à população jovem do país.
"No Brasil vejo um grande potencial, quanto mais a equipa estiver associada à marca de bebidas, mais os adeptos se entusiasmam com a marca Red Bull Bragantino por causa da marca global Red Bull. É possível, não é absurdo", diz o especialista.

"O projeto Red Bull tende a descolar quanto mais 'cult' ele for, quanto mais moderno ele for, quanto mais contemporânea for a perceção dos adeptos no Brasil. Porque existe um número muito grande de pessoas que acham que o futebol é um território ultrapassado, principalmente os jovens, que focam mais na NBA, na NFL, nos games, e não acham que algo como Corinthians, São Paulo ou Palmeiras seja moderno", completa Somoggi.
"A Red Bull poderia ter um espaço muito grande nesse vazio, olhando como um produto de marketing para a população jovem que busca expressar-se através de marcas. Do ponto de vista económico, o clube é muito forte, o centro de formação é um dos melhores da América Latina. A grande questão é a marca. Quanto mais a marca for valorizada, mais o projeto tende a ter sucesso para além da questão financeira", concluiu o sócio-gerente da Sports Value.

Recentemente, o diretor do Red Bull, Jürgen Klopp, viajou até ao Brasil para visitar as instalações do Bragantino e ver como o clube funciona no dia a dia. Nas suas redes sociais, elogiou a experiência com o clube brasileiro e prometeu voltar ao país.
"A minha primeira vez no Brasil. Que grande experiência, além de conhecer os incríveis talentos do Centro de Performance e Desenvolvimento (CPD) do Red Bull Bragantino", postou.
"Obrigado Brasil. Até à próxima", concluiu.

Um estádio moderno no horizonte
Além de uma estrutura técnica alugada, o Bragantino vai transformar o seu atual estádio, o emblemático Nabi Abi Chedid, com capacidade para pouco mais de 15 mil pessoas, numa arena. As obras de reforma devem começar ainda este ano.
Além do "habitat natural", o clube já assinou um convénio com a prefeitura de Bragança e passará a disputar os seus jogos no estádio municipal Cícero de Souza Marques, que passou por uma série de melhorias. O clube vai investir cerca de R$ 22 milhões na reforma do estádio municipal, para aumentar a sua capacidade para 10 mil espectadores.
Também estão previstos um novo sistema de drenagem, iluminação, balneários, pontos de restauração, acessibilidade, novas bancadas e um centro de imprensa.