Tiago Ferreira herdou a alcunha Nani de tenra idade e levou-a consigo para a sua carreira no mundo do futebol profissional.
Depois de perceber nas camadas jovens do Estoril que o "sonho" era possível, foi na equipa sub-23 do Aves que conquistou os primeiros títulos - Liga e Taça Revelação, antes de assumir o estatuto de emigrante.
Passou cinco temporadas nas divisões secundárias da Grécia até que surgiu a oportunidade em Tirana, na Albânia, onde está a ser destaque no Dinamo e de onde partilhou com o Flashscore os desejos para o futuro.

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"Não conhecia o campeonato, mas estou muito contente"
- Como está a correr a experiência na Albânia?
- Por acaso, está a correr muito bem. Aceitei este desafio com bons olhos, pois a equipa é boa e tem objetivos. O campeonato está a correr bem e estamos a lutar pelo título. Individualmente, as coisas também estão a correr bem, embora no início tenha sido difícil para mim, já que não jogava. Depois, mudámos de treinador e lesionei-me logo a seguir. Quando voltei, também não estava a jogar, mas quando surgiu uma oportunidade, agarrei-a e agora sou um dos jogadores mais importantes da equipa.
- O que pensou quando lhe disseram que existia esta oportunidade para si?
- Fiquei a pensar nisso, porque uma pessoa tende a associar a Albânia a um lugar um pouco perigoso. Além disso, não conhecia o campeonato, nunca tinha ouvido falar dele. Mas arrisquei. Por acaso, sou uma pessoa que não tem medo de arriscar. Aceitei o desafio e estou muito contente, na verdade, estou mesmo muito contente.
- Como é o campeonato? E como são as equipas?
- O campeonato é competitivo e mais físico, com menos foco na parte técnica. Há muita luta. Na primeira parte, as equipas fecham-se bastante, mas na segunda parte já se abrem mais. E uma pessoa como eu, que é rápida, gosta muito quando as equipas se abrem. O futebol é pouco organizado.

- E em termos de campos e infraestruturas?
- Não são maus. Podiam ser melhores, mas não são maus. Quanto aos campos, há uns bons e outros que são mais ou menos. Mas, no geral, acho que está tudo bem...
- O que pode dizer sobre os jogadores albaneses?
- Os albaneses são fortes, gostam de entrar com tudo. A personalidade deles é muito fechada. Os defesas também são um pouco lentos, o que é bom para mim. Mas, apesar disso, não são maus jogadores. Alguns já saíram para a Ucrânia em janeiro. Eram bons jogadores, por acaso. Mas, no geral, os portugueses têm mais qualidade (risos).
- Como é que é viver em Tirana?
- Gosto de viver aqui. É uma cidade boa, está a evoluir. Estão a fazer muitas construções, a tentar crescer. Normalmente, passo os dias em casa. Só de vez em quando é que vou ali ao café ver um jogo de futebol. Mas sou uma pessoa muito sossegada, gosto de estar no meu canto e não sou fã de sair.
- Os albaneses gostam de futebol?
- Antigamente, eles gostavam muito de futebol, mas depois houve problemas com as apostas, acho eu. E pronto, agora já não têm muito interesse em ver os jogos nos estádios. No entanto, há jogos que enchem, como os dérbis. (...) Quando me veem na rua, algumas pessoas reconhecem-me e perguntam como estou e tal. Tentam falar inglês, mas não sabem falar muito.

"Estive quase a ir para a equipa B do Panathinaikos, mas..."
- O Tiago sai de Portugal em 2019 para a Grécia e nunca mais voltou, depois de uma época nos sub-23 do Aves. Sentiu necessidade ou não teve a oportunidade certa para continuar por cá?
- Sinceramente, na altura, eu já achava que não ia ficar no Aves. Entretanto, um treinador da Grécia falou com o meu treinador e perguntou se ele tinha algum extremo e indicou-me. E pronto, o treinador grego entrou em contacto comigo, explicou-me os objetivos e eu achei interessante. Mas também fiquei com receio, pois era uma terceira liga da Grécia. Fiquei a pensar sobre isso e falei primeiro com a família. Depois, como o tempo foi passando e não encontrei nada em Portugal, decidi que tinha de ir. Se não fosse, também não ia perder nada. E pronto, fui.
- Como foram esses anos na Grécia?
- O primeiro ano correu muito bem, conseguimos subir de divisão e fomos para a segunda B da Grécia. No ano seguinte, também correu bem e fui um dos melhores jogadores do campeonato. Acabei por ser transferido para a equipa campeã da minha liga. No entanto, lá as coisas não correram tão bem. Não me adaptei ao estilo do treinador e foi difícil. Em janeiro, fui emprestado para uma equipa histórica, mas que estava em último na segunda divisão. A adaptação foi igualmente complicada.
Na época seguinte, rescindi com a minha equipa e voltei para a terceira divisão da Grécia, onde acabei por mudar para outra equipa. Nessa altura, ia ser transferido para o Panathinaikos B, pois o meu primeiro treinador na Grécia foi para lá e falou comigo para me juntar a ele. No entanto, ele recebeu uma proposta para ir para a primeira liga da Grécia, o que acabou por complicar tudo. Assim, não fui para o Panathinaikos B e, sem mais opções, acabei por voltar à terceira divisão.

- Lidou bem com essa situação?
- Não foi mau… Entretanto, arranjei um bom clube aqui na Albânia.
- Voltando ao tema Albânia, sentiu necessidade de adaptar o seu estilo de jogo ao futebol albanês?
- Não foi assim tão difícil, sinceramente. A tática do treinador, que eu gostava muito, ajudou. Fiz uma boa pré-época, até diria que foi muito boa. Eles gostaram bastante do meu desempenho. Depois começámos o campeonato e jogámos os dois primeiros jogos. Perdemos ambos, mas eu entrei em ambos os jogos e corriam bem quando entrei. No entanto, depois mudámos de treinador e a situação tornou-se difícil.
- Teve de lutar muito para conseguir as suas oportunidades…
- Tive que lutar e, acima de tudo, ser muito paciente. O meu irmão, que é scout do Sporting, ajuda-me bastante, principalmente a nível psicológico. Ele diz-me para ter calma, que a oportunidade vai aparecer e que não devo precipitar-me, como aconteceu da última vez, na Grécia, em que fiz isso e as coisas correram mal. Esperei, e quando a oportunidade apareceu, agarrei-a.
- É bom ter alguém próximo para nos dar conselhos, mesmo estando longe...
- Ele já veio cá umas três vezes e tem-me acompanhado muito, por acaso. Está a ser mais fácil e, além disso, fala comigo todos os dias. Mesmo quando o meu jogo não corre bem, ou quando corre bem, ele diz sempre que tenho de melhorar nisto ou naquilo.

"Prefiro continuar no estrangeiro para ganhar estabilidade financeira"
- 17 jogos, 6 golos e 2 assistências. Para quem perdeu um bocado o rasto ao Tiago, o que diria a essas pessoas?
- Diria que estou um jogador mais completo e experiente. Tenho muitos pontos fortes, como a velocidade, sou bom no um para um e um finalizador eficaz. Acima de tudo, gosto de jogar em equipa, não sou muito individualista. Luto sempre, gosto de atacar e, quando é necessário, também defendo.
- Está a jogar numa primeira liga, está a destacar-se e na luta pelo título. O que é que espera que esta época lhe dê em termos futuros?
- Espero ser campeão, sinceramente. Esse é o meu principal objetivo aqui. Depois, verei o que surge no final da temporada. Gosto sempre de querer mais, de ter grandes objetivos. Gostava de chegar a uma liga como a Serie A italiana ou a Ligue 1 francesa. Acredito que consigo lá chegar, tenho a certeza, pelas minhas qualidades. Acho que no final desta época vou conseguir dar um salto maior.

- Durante estes anos nunca surgiu a oportunidade para regressar a Portugal? Ou acha que é muito difícil esse cenário?
- Sinceramente, gostaria de voltar para Portugal, claro. Mas, por agora, prefiro continuar no estrangeiro para ganhar estabilidade financeira. Já tive oportunidades de regressar, mas eram para o Campeonato de Portugal ou a Liga 3. Preferi continuar fora e tentar alcançar uma primeira liga, como consegui agora. Talvez, mais tarde, possa jogar numa primeira liga portuguesa.
- As condições oferecidas por um clube do Campeonato de Portugal ou da Liga 3 não têm nada a ver com aquilo que vocês conseguem aí fora, não é?
- Claro. Sempre que volto de férias a Portugal, perguntam-me: 'Porque é que não regressas?'. Mas eu prefiro garantir a minha estabilidade financeira do que estar perto da família sem ter nada. Penso sempre no meu futuro. Prefiro construir um bom futuro a regressar a Portugal e depois não me darem oportunidades, obrigando-me a procurar outro caminho.

"Se ficarem na zona de conforto, vai ser difícil alcançar grandes coisas"
- O futebol sempre foi aquilo que quis?
- Sempre, sempre. Até faltava às aulas para ir treinar. O meu pensamento sempre foi jogar futebol.
- Recorde connosco a sua trajetória.
- Comecei no Fontainhas, onde joguei durante duas épocas, antes de me transferir para o Estoril-Praia. A minha formação lá correu muito bem. Quando cheguei ao primeiro ano de júnior, tive a oportunidade de treinar com a equipa principal, que na altura estava na primeira divisão. Mais tarde, surgiu uma proposta do Aves, ainda enquanto júnior. Decidi aceitar, pois o clube tinha investidores na altura, e acabei por me mudar para lá. Também correu bem. Assinei o meu primeiro contrato profissional ainda como júnior e, a partir daí, fui construindo o meu percurso.
- Quando é que percebe que dava para chegar ao patamar de profissional?
- Foi no Estoril. Antes, jogava nos iniciados B, mas, às vezes, também era chamado para os iniciados A e juvenis B. Tinha qualidade, e os treinadores viam isso. Quando cheguei ao primeiro ano de júnior e fui chamado para treinar com a equipa principal, pensei: 'Espera aí, eu consigo construir um bom futuro'.
- Nos sub-23 do Aves acaba por conquistar o campeonato e a Taça. Como foi viver tudo isso?
- Foi uma experiência incrível, algo que não estava nada à espera. Conquistar o Campeonato e a Taça, fazer a dobradinha, foi simplesmente inesquecível. O Aves tinha uma equipa muito forte, com jogadores que fizeram formação no Benfica e no Sporting, e a qualidade estava lá. O treinador também era excelente, o que ajudou muito. Foi um ano fantástico, gostei imenso. O ambiente no balneário era espetacular, éramos muito unidos, sempre a brincar uns com os outros. Foi realmente especial.

- De onde vem a alcunha 'Nani'?
- Isso surgiu quando eu era criança, com uns oito ou nove anos. Sinceramente, não me lembro bem de quem começou a chamar-me assim, mas agora é o nome que tenho no futebol.
- Mas algo relacionado com o antigo internacional português Nani?
- Dizem que sou parecido com o Nani, é o que dizem (risos). O Nani era uma verdadeira máquina, mas eu ainda não sou essa máquina (mais risos).
- Quais os conselhos que gostaria de deixar aos jogadores que pensam em emigrar?
- O que eu tenho a dizer é que devem sempre arriscar. Não tenham medo. Se virem que em Portugal as oportunidades não estão a surgir, têm que arriscar. Às vezes pode dar certo, outras vezes pode dar errado, mas só arriscando é que sabem. Eu acredito que é preciso tentar, sair de Portugal e sair da zona de conforto para conseguir alcançar algo. Se ficarem na zona de conforto, vai ser difícil alcançar grandes coisas. O jogador tem que passar por dificuldades, tem que sofrer um pouco para chegar longe, porque a vida é assim: é preciso enfrentar desafios para conquistar o sucesso."
- Por fim, gostava que partilhasse connosco quais as suas metas individuais para esta temporada?
- Quero alcançar a marca dos 10 golos e continuar a fazer assistências também.
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