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Albânia com Tiago Nani: "Estou a ser um dos jogadores mais importantes da equipa"

Tiago Nani em destaque no Dinamo Tirana
Tiago Nani em destaque no Dinamo TiranaArquivo Pessoal, Flashscore
O Flash pelo Mundo é a nova rubrica mensal do Flashscore. Neste espaço, traremos entrevistas exclusivas com portugueses que elevam bem alto a bandeira nacional além-fronteiras. O nosso sétimo convidado é Tiago Nani, extremo do Dinamo Tirana, da Albânia.

Tiago Ferreira herdou a alcunha Nani de tenra idade e levou-a consigo para a sua carreira no mundo do futebol profissional.

Depois de perceber nas camadas jovens do Estoril que o "sonho" era possível, foi na equipa sub-23 do Aves que conquistou os primeiros títulos - Liga e Taça Revelação, antes de assumir o estatuto de emigrante.

Passou cinco temporadas nas divisões secundárias da Grécia até que surgiu a oportunidade em Tirana, na Albânia, onde está a ser destaque no Dinamo e de onde partilhou com o Flashscore os desejos para o futuro. 

Tiago Nani em foco no Dinamo Tirana
Tiago Nani em foco no Dinamo TiranaArquivo Pessoal, Opta by Stats Perform

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"Não conhecia o campeonato, mas estou muito contente"

- Como está a correr a experiência na Albânia?

- Por acaso, está a correr muito bem. Aceitei este desafio com bons olhos, pois a equipa é boa e tem objetivos. O campeonato está a correr bem e estamos a lutar pelo título. Individualmente, as coisas também estão a correr bem, embora no início tenha sido difícil para mim, já que não jogava. Depois, mudámos de treinador e lesionei-me logo a seguir. Quando voltei, também não estava a jogar, mas quando surgiu uma oportunidade, agarrei-a e agora sou um dos jogadores mais importantes da equipa.

- O que pensou quando lhe disseram que existia esta oportunidade para si?

- Fiquei a pensar nisso, porque uma pessoa tende a associar a Albânia a um lugar um pouco perigoso. Além disso, não conhecia o campeonato, nunca tinha ouvido falar dele. Mas arrisquei. Por acaso, sou uma pessoa que não tem medo de arriscar. Aceitei o desafio e estou muito contente, na verdade, estou mesmo muito contente.

- Como é o campeonato? E como são as equipas?

- O campeonato é competitivo e mais físico, com menos foco na parte técnica. Há muita luta. Na primeira parte, as equipas fecham-se bastante, mas na segunda parte já se abrem mais. E uma pessoa como eu, que é rápida, gosta muito quando as equipas se abrem. O futebol é pouco organizado.

A forma recente do Dinamo Tirana
A forma recente do Dinamo TiranaFlashscore

- E em termos de campos e infraestruturas?

- Não são maus. Podiam ser melhores, mas não são maus. Quanto aos campos, há uns bons e outros que são mais ou menos. Mas, no geral, acho que está tudo bem...

- O que pode dizer sobre os jogadores albaneses?

- Os albaneses são fortes, gostam de entrar com tudo. A personalidade deles é muito fechada. Os defesas também são um pouco lentos, o que é bom para mim. Mas, apesar disso, não são maus jogadores. Alguns já saíram para a Ucrânia em janeiro. Eram bons jogadores, por acaso. Mas, no geral, os portugueses têm mais qualidade (risos).

- Como é que é viver em Tirana?

- Gosto de viver aqui. É uma cidade boa, está a evoluir. Estão a fazer muitas construções, a tentar crescer. Normalmente, passo os dias em casa. Só de vez em quando é que vou ali ao café ver um jogo de futebol. Mas sou uma pessoa muito sossegada, gosto de estar no meu canto e não sou fã de sair.

- Os albaneses gostam de futebol?

- Antigamente, eles gostavam muito de futebol, mas depois houve problemas com as apostas, acho eu. E pronto, agora já não têm muito interesse em ver os jogos nos estádios. No entanto, há jogos que enchem, como os dérbis. (...) Quando me veem na rua, algumas pessoas reconhecem-me e perguntam como estou e tal. Tentam falar inglês, mas não sabem falar muito.

Tiago Nani passou cinco épocas na Grécia
Tiago Nani passou cinco épocas na GréciaArquivo Pessoal

"Estive quase a ir para a equipa B do Panathinaikos, mas..."

- O Tiago sai de Portugal em 2019 para a Grécia e nunca mais voltou, depois de uma época nos sub-23 do Aves. Sentiu necessidade ou não teve a oportunidade certa para continuar por cá?

- Sinceramente, na altura, eu já achava que não ia ficar no Aves. Entretanto, um treinador da Grécia falou com o meu treinador e perguntou se ele tinha algum extremo e indicou-me. E pronto, o treinador grego entrou em contacto comigo, explicou-me os objetivos e eu achei interessante. Mas também fiquei com receio, pois era uma terceira liga da Grécia. Fiquei a pensar sobre isso e falei primeiro com a família. Depois, como o tempo foi passando e não encontrei nada em Portugal, decidi que tinha de ir. Se não fosse, também não ia perder nada. E pronto, fui.

- Como foram esses anos na Grécia?

- O primeiro ano correu muito bem, conseguimos subir de divisão e fomos para a segunda B da Grécia. No ano seguinte, também correu bem e fui um dos melhores jogadores do campeonato. Acabei por ser transferido para a equipa campeã da minha liga. No entanto, lá as coisas não correram tão bem. Não me adaptei ao estilo do treinador e foi difícil. Em janeiro, fui emprestado para uma equipa histórica, mas que estava em último na segunda divisão. A adaptação foi igualmente complicada.

Na época seguinte, rescindi com a minha equipa e voltei para a terceira divisão da Grécia, onde acabei por mudar para outra equipa. Nessa altura, ia ser transferido para o Panathinaikos B, pois o meu primeiro treinador na Grécia foi para lá e falou comigo para me juntar a ele. No entanto, ele recebeu uma proposta para ir para a primeira liga da Grécia, o que acabou por complicar tudo. Assim, não fui para o Panathinaikos B e, sem mais opções, acabei por voltar à terceira divisão.

Dinamo Tirana está na luta pelo título
Dinamo Tirana está na luta pelo títuloFlashscore

- Lidou bem com essa situação?

- Não foi mau… Entretanto, arranjei um bom clube aqui na Albânia.

- Voltando ao tema Albânia, sentiu necessidade de adaptar o seu estilo de jogo ao futebol albanês?

- Não foi assim tão difícil, sinceramente. A tática do treinador, que eu gostava muito, ajudou. Fiz uma boa pré-época, até diria que foi muito boa. Eles gostaram bastante do meu desempenho. Depois começámos o campeonato e jogámos os dois primeiros jogos. Perdemos ambos, mas eu entrei em ambos os jogos e corriam bem quando entrei. No entanto, depois mudámos de treinador e a situação tornou-se difícil.

- Teve de lutar muito para conseguir as suas oportunidades…

- Tive que lutar e, acima de tudo, ser muito paciente. O meu irmão, que é scout do Sporting, ajuda-me bastante, principalmente a nível psicológico. Ele diz-me para ter calma, que a oportunidade vai aparecer e que não devo precipitar-me, como aconteceu da última vez, na Grécia, em que fiz isso e as coisas correram mal. Esperei, e quando a oportunidade apareceu, agarrei-a.

- É bom ter alguém próximo para nos dar conselhos, mesmo estando longe...

- Ele já veio cá umas três vezes e tem-me acompanhado muito, por acaso. Está a ser mais fácil e, além disso, fala comigo todos os dias. Mesmo quando o meu jogo não corre bem, ou quando corre bem, ele diz sempre que tenho de melhorar nisto ou naquilo.

Tiago Nani assinou pelo Dinamo Tirana
Tiago Nani assinou pelo Dinamo TiranaFC Dinamo City

"Prefiro continuar no estrangeiro para ganhar estabilidade financeira"

- 17 jogos, 6 golos e 2 assistências. Para quem perdeu um bocado o rasto ao Tiago, o que diria a essas pessoas?

- Diria que estou um jogador mais completo e experiente. Tenho muitos pontos fortes, como a velocidade, sou bom no um para um e um finalizador eficaz. Acima de tudo, gosto de jogar em equipa, não sou muito individualista. Luto sempre, gosto de atacar e, quando é necessário, também defendo.

- Está a jogar numa primeira liga, está a destacar-se e na luta pelo título. O que é que espera que esta época lhe dê em termos futuros?

- Espero ser campeão, sinceramente. Esse é o meu principal objetivo aqui. Depois, verei o que surge no final da temporada. Gosto sempre de querer mais, de ter grandes objetivos. Gostava de chegar a uma liga como a Serie A italiana ou a Ligue 1 francesa. Acredito que consigo lá chegar, tenho a certeza, pelas minhas qualidades. Acho que no final desta época vou conseguir dar um salto maior.

Os números de Tiago no campeonato albanês
Os números de Tiago no campeonato albanêsFlashscore

- Durante estes anos nunca surgiu a oportunidade para regressar a Portugal? Ou acha que é muito difícil esse cenário?

- Sinceramente, gostaria de voltar para Portugal, claro. Mas, por agora, prefiro continuar no estrangeiro para ganhar estabilidade financeira. Já tive oportunidades de regressar, mas eram para o Campeonato de Portugal ou a Liga 3. Preferi continuar fora e tentar alcançar uma primeira liga, como consegui agora. Talvez, mais tarde, possa jogar numa primeira liga portuguesa.

- As condições oferecidas por um clube do Campeonato de Portugal ou da Liga 3 não têm nada a ver com aquilo que vocês conseguem aí fora, não é? 

- Claro. Sempre que volto de férias a Portugal, perguntam-me: 'Porque é que não regressas?'. Mas eu prefiro garantir a minha estabilidade financeira do que estar perto da família sem ter nada. Penso sempre no meu futuro. Prefiro construir um bom futuro a regressar a Portugal e depois não me darem oportunidades, obrigando-me a procurar outro caminho.

Tiago Nani em destaque na Albânia
Tiago Nani em destaque na AlbâniaArquivo Pessoal

"Se ficarem na zona de conforto, vai ser difícil alcançar grandes coisas"

- O futebol sempre foi aquilo que quis?

- Sempre, sempre. Até faltava às aulas para ir treinar. O meu pensamento sempre foi jogar futebol.

- Recorde connosco a sua trajetória.

- Comecei no Fontainhas, onde joguei durante duas épocas, antes de me transferir para o Estoril-Praia. A minha formação lá correu muito bem. Quando cheguei ao primeiro ano de júnior, tive a oportunidade de treinar com a equipa principal, que na altura estava na primeira divisão. Mais tarde, surgiu uma proposta do Aves, ainda enquanto júnior. Decidi aceitar, pois o clube tinha investidores na altura, e acabei por me mudar para lá. Também correu bem. Assinei o meu primeiro contrato profissional ainda como júnior e, a partir daí, fui construindo o meu percurso.

- Quando é que percebe que dava para chegar ao patamar de profissional?

- Foi no Estoril. Antes, jogava nos iniciados B, mas, às vezes, também era chamado para os iniciados A e juvenis B. Tinha qualidade, e os treinadores viam isso. Quando cheguei ao primeiro ano de júnior e fui chamado para treinar com a equipa principal, pensei: 'Espera aí, eu consigo construir um bom futuro'.

- Nos sub-23 do Aves acaba por conquistar o campeonato e a Taça. Como foi viver tudo isso?

- Foi uma experiência incrível, algo que não estava nada à espera. Conquistar o Campeonato e a Taça, fazer a dobradinha, foi simplesmente inesquecível. O Aves tinha uma equipa muito forte, com jogadores que fizeram formação no Benfica e no Sporting, e a qualidade estava lá. O treinador também era excelente, o que ajudou muito. Foi um ano fantástico, gostei imenso. O ambiente no balneário era espetacular, éramos muito unidos, sempre a brincar uns com os outros. Foi realmente especial.

Os próximos jogos do Dinamo Tirana
Os próximos jogos do Dinamo TiranaFlashscore

- De onde vem a alcunha 'Nani'?

- Isso surgiu quando eu era criança, com uns oito ou nove anos. Sinceramente, não me lembro bem de quem começou a chamar-me assim, mas agora é o nome que tenho no futebol.

- Mas algo relacionado com o antigo internacional português Nani?

- Dizem que sou parecido com o Nani, é o que dizem (risos). O Nani era uma verdadeira máquina, mas eu ainda não sou essa máquina (mais risos).

- Quais os conselhos que gostaria de deixar aos jogadores que pensam em emigrar? 

- O que eu tenho a dizer é que devem sempre arriscar. Não tenham medo. Se virem que em Portugal as oportunidades não estão a surgir, têm que arriscar. Às vezes pode dar certo, outras vezes pode dar errado, mas só arriscando é que sabem. Eu acredito que é preciso tentar, sair de Portugal e sair da zona de conforto para conseguir alcançar algo. Se ficarem na zona de conforto, vai ser difícil alcançar grandes coisas. O jogador tem que passar por dificuldades, tem que sofrer um pouco para chegar longe, porque a vida é assim: é preciso enfrentar desafios para conquistar o sucesso."

- Por fim, gostava que partilhasse connosco quais as suas metas individuais para esta temporada?

- Quero alcançar a marca dos 10 golos e continuar a fazer assistências também.

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