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Dani começou no basquetebol, mas foi depressa absorvido pelo mundo do futebol. Passou por Monte Caparica, Benfica, Belenenses e Vitória FC antes de deixar a sua casa e iniciar uma história bonita com o "seu" Vitória SC aos 18 anos.
Ingressou nos juniores dos conquistadores e subiu pelos vários escalões (sub-23 e equipa B) até se afirmar como uma das grandes figuras do Castelo. Em janeiro de 2024, fez a mudança para o Hellas Verona, onde sentiu que o seu estilo de jogo não se adaptava completamente. Um ano depois, iniciou o seu novo capítulo no FC Midtjylland.

"Os dirigentes do Midtjylland adoram Portugal"
- Como está a correr a experiência no Midtjylland. Está surpreendido com o que encontrou na Dinamarca?
- Está a correr muito bem e surpreendeu-me bastante pela positiva. Tanto a grandeza do clube como a competitividade do campeonato superaram as minhas expectativas. O campeonato tem jogadores de grande qualidade. Em relação ao clube, trata-se de uma instituição de enorme dimensão aqui na Dinamarca, que tem crescido imenso. Apesar de ter apenas 25 anos – fará 26 este ano – já demonstra uma grande maturidade. O acolhimento também é notável. O lema deles é 'clube-família' e isso reflete-se na forma como recebem não só os atletas, mas também as suas famílias e amigos. Desde o primeiro dia, senti essa preocupação genuína.
- Tendo em conta a ligação ao Mafra e o facto de terem defrontado equipas portuguesas, o clube tornou-se mais conhecido em Portugal. Pode falar-nos um pouco mais sobre esse projeto? Como funciona a academia e de que forma potenciam os jovens talentos?
- Acho que, em Portugal, sobretudo entre os amantes do futebol, ainda não há uma perceção clara do que se passa por aqui. No entanto, isso está a mudar, até porque o Midtjylland tem marcado presença na Liga dos Campeões e na Liga Europa, tornando-se cada vez mais conhecido na Europa. Eles trabalham muito bem, tal como mencionaste em relação ao Mafra. Estão a transformá-lo num clube satélite do Midtjylland, apostando muito forte nos jovens. A nossa equipa tem muitos jogadores jovens, e quando percebem que alguém precisa de mais tempo para evoluir, enviam-no para o Mafra para ganhar experiência. Essa estratégia é fundamental.
Além disso, apreciam imenso a nossa cultura. Já tive a oportunidade de conversar com alguns dirigentes e eles adoram Portugal, seja pelo futebol, pelo clima ou até pela gastronomia. Eles procuram absorver ideias dos melhores — Premier League, Liga Portuguesa, Serie A — e essa mentalidade de aprendizagem contínua tem permitido ao clube crescer a passos largos, rumo a um futuro de sucesso.
- Além da formação, o Midtjylland também quer criar a hegemonia a nível de títulos?
- A ideia é simples: construir uma equipa para ser campeã que seja jovem, competitiva, com qualidade, que jogue bom futebol e, quando for o momento certo, vender os jogadores valorizados. Há muitos clubes que vendem por necessidade, mas esse não é o caso do Midtjylland, felizmente. O clube preocupa-se com o melhor para o jogador e sabe quando é o momento certo para uma transferência, tanto para o atleta como para a própria equipa. Em janeiro, receberam várias propostas, mas, como o objetivo é conquistar o bicampeonato – algo inédito na história do Midtjylland –, optaram por não deixar sair alguns jogadores. Isso, por si só, já diz muito sobre a mentalidade do clube.
- Apresente-nos o campeonato dinamarquês. Muito diferente?
- É um formato um pouco diferente, pois são apenas 12 equipas. A primeira fase é a fase regular, onde jogamos duas vezes contra cada equipa – um jogo em casa e outro fora. Até aqui, tudo normal. Depois, o campeonato divide-se em duas fases: a luta pelo título e a fase de despromoção. As 12 equipas são separadas em dois grupos de seis, e cada equipa disputa mais 10 jogos – dois contra cada adversário. Os pontos da fase regular acumulam-se nesta nova fase, sendo então decidido tanto o campeão como as equipas que descem de divisão.
É um campeonato que, talvez, os portugueses ainda não acompanhem muito, mas que começa a ganhar mais atenção. Como já disse, é uma liga jovem, competitiva e ofensiva, com jogadores muito técnicos. Os dinamarqueses destacam-se pelo físico, mas há também muitos estrangeiros de grande qualidade, o que dá ainda mais visibilidade à competição. Aqui, tudo pode acontecer. Na Liga Portuguesa, por exemplo, se o último classificado vencer o primeiro, é uma grande surpresa. Mas neste campeonato, isso é mais comum, o que o torna ainda mais imprevisível e competitivo.
- O que o jogador português pode acrescentar?
- Falo por experiência própria, tanto no campeonato português como no italiano. O jogador português, em geral, destaca-se pela sua qualidade técnica, pela capacidade de ler o jogo e de se associar bem com os colegas. E isso não se reflete apenas dentro de campo. Fora dele, no balneário, o jogador português, sendo latino, tem facilidade em socializar e criar um bom ambiente. Aqui, eles valorizam muito esse espírito de equipa e a boa convivência, tanto dentro como fora de campo.

"Estilo de jogo do Hellas Verona não se enquadrava bem comigo"
- Deixa o Hellas Verona para assinar pelo Midtjylland, com um contrato até 2029. O que motivou esta mudança? Passou de lutar pela permanência na Serie A para lutar pelo título – como vê essa transição?"
- A escolha foi bastante simples. Sempre fui um jogador que gosta de lutar por algo, e no Verona havia esse desafio – a permanência na Serie A, que é algo muito grande. No entanto, o estilo de jogo não se enquadrava bem comigo, por isso a decisão acabou por ser fácil. Acima de tudo, queria ser feliz. E para mim, ser feliz significa jogar futebol, ter a bola nos pés. O Midtjylland demonstrou uma grande vontade em contar comigo, o que tornou tudo ainda mais fácil. Além disso, aqui tenho a possibilidade de lutar por títulos todos os anos, ser campeão e jogar nas competições europeias. Foi isso que me atraiu.
- Acha que foi uma decisão precipitada ir para o Hellas Verona?
- Sentia que estava preparado para dar o próximo passo, para jogar num dos melhores campeonatos do mundo. Na minha opinião, é o segundo melhor, apenas atrás da Premier League. Queria essa mudança para um contexto diferente, num país diferente, com uma cultura diferente. Senti que precisava disso para crescer, tanto como pessoa como atleta.
Não me arrependo de nada. Fiz grandes amigos e ganhei muito com a experiência que tenho hoje, até a nível físico. Talvez as coisas pudessem ter sido diferentes, mas isso faz parte dos caminhos que percorremos. E agora, estou aqui na Dinamarca, feliz, graças a Deus. No final, isso é o que importa.

- O que mudou em si desde que deixou o Vitória SC?
- Não sou muito diferente, mas tive de me adaptar às circunstâncias, especialmente ao campeonato italiano. A nível tático, aprendi coisas novas, como, por exemplo, a marcar individualmente em toda a largura do campo – o famoso "homem a homem", entre outras situações. O campeonato italiano é muito intenso e físico, e sinto que isso me enriqueceu como atleta. Além disso, a experiência também me ajudou a crescer como pessoa, principalmente no balneário. Sinto que agora sou um jogador com mais experiência, capaz de gerir melhor os tempos de jogo. No Vitória SC, quando era mais novo e nos meus primeiros anos como profissional, queria que o jogo fosse sempre rápido e para a frente. Mas, com o tempo, aprendi que nem sempre é assim, e acredito que agora sou mais equilibrado nesse aspeto. A minha passagem por Itália foi essencial para me ajudar a evoluir nesse sentido.
- De Itália para a Dinamarca, correu bem a adaptação em termos culturais?
A adaptação foi muito fácil, porque eles sabem receber muito bem. Não estou a dizer que os portugueses são diferentes, mas como mencionaste, nós somos mais latinos, mais sangue quente, enquanto aqui as pessoas são mais calmas e aceitam tudo sem grandes preocupações, mesmo quando poderiam ficar chateadas com algumas coisas.
A única diferença que senti, e foi logo na primeira semana, foi o frio. Mas foi só isso, porque depois de algum tempo já me habituei. Em termos de comida, a Dinamarca tem peixe de excelente qualidade e uma grande variedade de restaurantes, por isso não senti grande diferença. Claro que em Itália temos as massas, as pizzas e uma gastronomia incrível, mas em termos alimentares, aqui adaptei-me bem. A maior diferença, de facto, é no aspecto pessoal de cada pessoa e na cultura local.

- O Dani teve uma grande experiência em Guimarães no que toca aos adeptos, por isso tenho particular interesse para saber como é que as pessoas vivem o futebol na Dinamarca?
- Os adeptos do Vitória SC são, sem dúvida, especiais, mas os adeptos do Midtjylland também criam um ambiente incrível, tanto fora como dentro de casa. O estádio está sempre cheio, fazem coreografias e são muito fervorosos. No entanto, sinto que eles respeitam muito o futebol e os limites – nunca ultrapassam a linha. Eles apoiam a equipa de forma genuína, e isso é muito positivo. Ainda bem que, até agora, não tive de enfrentar uma fase menos boa para ver como seria o outro lado da moeda, mas, de qualquer forma, o apoio que sinto tem sido ótimo.
- Estreou-se a marcar no último jogo, antes da pausa. Sente que foi um momento importante para a sua afirmação no novo clube?
- Claro que é sempre bom marcar, mas tento não focar demasiado nessas questões. As coisas acontecem naturalmente. Os meus colegas têm-me ajudado desde o primeiro dia a integrar-me na equipa, e sinto-me confortável a jogar com eles. Neste momento, estou a desfrutar do futebol, praticamos um bom jogo, muito ofensivo, com posse de bola, a gerir os tempos de jogo. É um estilo que me encaixa perfeitamente e que corresponde à maneira como vejo o futebol. As coisas estão a correr bem, e fico contente por isso.

Presente e futuro no Midtjylland: "Espero que seja uma história repleta de títulos"
- Ousmane Diao, que passou pelo Mafra, e Franculino Djú, formado no Benfica, são dois exemplos da juventude de qualidade que existe no Midtjylland. Até onde podem ir?
- São apenas dois entre muitos outros. Penso que têm os dois cerca de 20 anos, mas há muitos jovens aqui com imensa qualidade que, mais cedo ou mais tarde, vão dar o salto. Isso surpreendeu-me bastante, porque quando cheguei não sabia a idade deles, e quando soube, fiquei ainda mais impressionado. A qualidade deles é evidente – basta ver um jogo, ou até receber e passar uma bola, para perceber logo o talento que têm. Sem dúvida, eles têm-nos ajudado imenso, e faltam apenas dez jogos. Tenho a certeza de que vão continuar no bom caminho. Quando chegar o momento de dar o salto, que seja um grande passo para eles e também para o clube.
- Quais os objetivos individuais até ao final da temporada?
- O que posso prometer é trabalhar todos os dias, como tenho feito até agora, e tentar ajudar o clube da melhor forma possível. Se for dentro de campo, ainda melhor, mas se outro colega estiver a jogar melhor que eu, sou o primeiro a reconhecer isso. O objetivo é ser campeão, sem dúvida. É a única competição que nos resta, por isso, temos de focar nesta reta final, que vai ser bastante difícil, e acredito que será até ao último jogo. Não posso prometer golos ou assistências, mas posso garantir que vou dar o meu máximo, como tenho feito até agora.
- Como imagina que seja esta ligação ao clube?
- Espero que seja uma história repleta de títulos e que o Midtjylland me ajude a crescer, tanto como pessoa como atleta. Acredito que o clube tem um departamento e condições excelentes para me ajudar a evoluir nesse sentido. É isso que espero. Quanto a previsões, não sei. No futebol, tudo pode mudar de um momento para o outro. Já passei por isso em dois mercados, no Vitória SC e no Verona. Por isso, o foco é viver o dia a dia e, claro, espero que seja com muito sucesso.

"O Vitória SC é a minha casa em Portugal"
- Como tem sido para ti acompanhar o futebol português à distância, agora mais na posição de adepto?
- Eu não perco um jogo do Vitória SC. Mas, claro, também gosto de ver as outras grandes equipas e bons jogos em geral. Sempre acompanhei, mesmo quando estava em Itália. O campeonato português, como todos sabemos, é de grande nível, com um trampolim muito grande e muita qualidade.
- Acompanhou o trajeto europeu do Vitória SC?
- Não perdi nenhum jogo, acompanhei todas as competições – campeonato, taças, tudo. Tem sido uma época muito positiva a nível europeu. Foi uma pena o último jogo, acho que mereciam sair da competição de outra forma, mas, no fundo, nada apaga o belo trajeto que fizeram. Vai ficar para a história, sem dúvida.
- Percebe-se o carinho que nutre pelo clube. Que espaço é que o Vitória SC ocupa no seu coração?
- O Vitória marcou-me imenso. Sem dúvida, quando cheguei ao clube, já o respeitava imenso. Claro que não acompanhava todos os jogos, não era um adepto ativo na altura, mas desde o dia em que saí, tornei-me um verdadeiro adepto e acompanho o clube com grande carinho. Vou continuar a acompanhar o Vitória SC até perder a memória. Vai sempre estar ligado a mim, especialmente porque a minha namorada é de Guimarães. Sempre que vou a Portugal, passo por lá, e acho que não há como escapar a isso.

- Como vé que viu as muitas saídas no último mercado? Podemos assumir que o Vitória é um espaço para crescer e ganhar asas?
- O Vitória tem uma estrutura muito sólida e uma formação excelente, cheia de jovens com imensa qualidade. Vejo isso de forma natural, porque é normal que o clube, com tantos bons atletas e pessoas, atraia o interesse de clubes maiores. Acredito que a participação na Liga Conferência ajudou no desenvolvimento dos jogadores e na sua valorização, sem dúvida. Mas, de uma forma geral, vejo isso como algo natural, pois os jogadores do Vitória SC demonstram, a cada dia e em cada jogo, o seu valor e mostram que merecem estar em outros patamares.
- Será sempre um capítulo em aberto na sua carreira?
- Vejo o Vitória SC como a minha casa em Portugal. Claro que agora quero construir a minha história aqui no Midtjylland, mas, se o Vitória SC me ligasse no futuro, teria que pensar duas vezes. A parte emocional falaria sempre mais alto, porque tenho família lá, amigos, e o clube significa muito para mim, como já disse e como já percebeste. Mas, claro, o futuro ninguém sabe.
Gostaria de voltar ao Vitória SC, quem sabe até para terminar a minha carreira lá, mas não de uma forma em que apenas "acabo a carreira", como alguns jogadores dizem, mas sim para continuar a contribuir a nível desportivo e ajudar o clube. Eu gostaria de ainda poder ajudar o Vitória ainda mais do que já ajudei.

"Seleção seria um marco muito importante na minha vida"
- Aos 24 anos, olhando para trás, começou no basquetebol, passou pelo Benfica, Belenenses, Vitória FC e Vitória SC. Foi difícil chegar ao nível profissional?
- Dito assim, até parece que foi um estalar de dedos, mas na realidade passou muito tempo. E não fui só eu, mas também todos à minha volta, que passámos por muita coisa, como é óbvio, como todos os profissionais de futebol, com certeza, acabam por passar. Mas, como sabes, comecei no basquetebol e desde essa altura, os meus pais, especialmente a minha mãe, sempre estiveram ao meu lado, acompanhando-me aos treinos, e também muitos colegas e pais de colegas. Parece que tudo passou tão rápido. Aos 18 anos, saí de casa, o que foi um choque para a minha mãe... Foi um momento difícil para ela, mas, no fim, tudo passou e, graças a Deus, os esforços valeram a pena.
- De que forma a sua família olhou para o que conseguiu conquistar ao longo dos últimos anos?
- Aos 18 anos, quando recebi a proposta do Vitória SC, estava ainda na escola e tive de fazer uma escolha importante. A minha mãe sempre foi defensora de eu terminar os estudos e dar prioridade à escola, colocando-a à frente do futebol. No entanto, chegou o momento em que tive de decidir, não só eu, mas também os meus pais, como muitos jovens e as suas famílias passam por esse dilema. Falei com a minha mãe, falei com o meu pai, e percebi que era isso que eu queria, o que eles também sabiam, porque eu dava tudo por este sonho. Eles também acreditaram nele e acompanharam-me nessa decisão. Por isso, acho que foi uma aposta que valeu a pena e sou muito grato a eles por sempre terem apoiado os meus sonhos.

- Foi difícil sair de casa aos 18 anos para uma cidade diferente?
- Acho que foi um choque maior para ela (mãe) do que para mim, porque eu não tenho problema nenhum em sair da minha zona de conforto. Sempre fui um pouco aventureiro e, naquele momento, sentia que estava pronto para dar esse passo na minha vida, para crescer e tentar alcançar algo no futebol. Claro que os primeiros tempos foram um pouco estranhos, mas o Vitória SC sempre me estendeu a mão. Tenho grandes amigos desde essa altura que me ajudaram imenso.
- Que sonhos ainda existem em si?
- A longo prazo, sem dúvida, a Seleção seria um marco muito importante na minha vida e, sem dúvida, o momento mais feliz da minha carreira. Mas o que me faz acordar todos os dias é a vontade de ser um jogador melhor, uma pessoa melhor, respeitar o próximo, dar tudo de mim e ser um exemplo. Acredito que, ao ser um exemplo, as coisas acabam por acontecer naturalmente. Não se trata de pensar demasiado nisso, mas sim de fazer as coisas certas no momento certo. E, quando a carreira acabar, quero olhar para trás e não me arrepender, pensando "se eu tivesse feito isto de forma diferente, talvez tivesse dado mais aqui ou ali".
- Como gostaria de ser recordado no dia em que decidir terminar a carreira?
- É uma excelente pergunta. Quero deixar esta mensagem: o Dani foi sempre um profissional exemplar, um grande colega de equipa, um líder dentro de campo e um jogador que nunca se esconde do jogo, sempre com a bola nos pés. Ele é um exemplo a seguir para os mais jovens, mostrando que é possível ser competitivo e, ao mesmo tempo, um bom companheiro de equipa.