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Exclusivo com Luis Binks (Brondby): A experiência com Frank Lampard e passar o Covid-19 com Thierry Henry

Luis Binks após marcar contra o Copenhaga no dérbi dinamarquês
Luis Binks após marcar contra o Copenhaga no dérbi dinamarquêsČTK / imago stock&people / Gonzales Photo/Rasmus Jensen

O defesa inglês Luis Binks assinou um contrato de cinco anos com o Brondby, da Dinamarca, em agosto, oriundo do Coventry. Apesar de ter apenas 24 anos, Binks, que pode representar tanto Inglaterra como Escócia, já viveu uma carreira fascinante, tendo sido treinado por Thierry Henry, Sinisa Mihajlovic e Frank Lampard, no Montreal, Bolonha e Coventry, respetivamente.

O Flashscore conversou com Luis Binks para saber como trabalhar com estas lendas desde cedo influenciou a sua carreira e o que o levou a dedicar o seu futuro imediato ao Brondby.

Os números de Luis Binks
Os números de Luis BinksFlashscore

- Como surgiu a transferência para o Brondby e quanto conhecia do clube antes de assinar?

- Soube da transferência enquanto estava de férias, provavelmente cerca de seis semanas antes de a finalizarmos. Tinha outras propostas de clubes ingleses, mas quando o Brondby apresentou a sua oferta, não consegui recusar. Sabia que o Brondby era um clube grande, porque já tinha ouvido falar de (Peter) Schmeichel, dos irmãos Laudrup, e vi muitas pessoas com camisolas do Brondby quando fui a Copenhaga em março, mas só percebi realmente a dimensão do clube quando cheguei aqui.

- Chegou para substituir Jacob Rasmussen, antigo capitão e um dos jogadores-chave da equipa. Sente que isso lhe traz pressão extra para corresponder?

- Sim, provavelmente aumenta a pressão. Ele era o capitão e o Brondby investiu bastante em mim (€3 milhões) para vir para cá, mas não sinto assim tanta pressão. Leva tempo a adaptar-se; mudamos para outro país, a família vem connosco, e é preciso habituar-se à cultura, mas consegui integrar-me rapidamente, por isso estou satisfeito com o início e com o que está a acontecer.

- O treinador Frederik Birk foi despedido pouco depois da sua chegada em agosto. Normalmente, pode ser difícil para os jogadores quando o treinador que apostou em si sai logo após a sua chegada. Como foi para si depois da saída de Birk?

- Nunca é agradável quando alguém perde o emprego, mas faz parte do futebol. Trabalhei um pouco com Steve Cooper (o novo treinador) quando estava nas seleções jovens de Inglaterra, mas nessa altura eu era apenas um miúdo e nenhum de nós é igual ao que era. Mas ele trouxe-nos mais identidade em relação ao nosso estilo de jogo. Acho que já se notam pequenas melhorias, mas só se pode avaliar quando ele estiver cá há mais tempo.

- Ouvi dizer que Steve Cooper mudou a forma como se veste antes dos jogos...

- Sim, é verdade. Agora temos de chegar ao clube, no dia do jogo, com o fato de treino oficial, enquanto antes podíamos ir com roupa pessoal. E acho que é melhor assim. Em todos os clubes onde estive antes, chegava-se com o fato de treino do clube, e é assim que deve ser, porque estamos a representar o clube, por isso considero uma mudança positiva."

- Passou dois anos no Coventry, onde teve Frank Lampard como treinador. Imagino que tenha sido um ídolo para si quando jovem. Como foi essa experiência e o que o levou a sair?

- Frank Lampard e Steven Gerrard eram os ícones da minha infância. Gerrard era o meu favorito, mas claro que foi fantástico trabalhar com alguém como Lampard. Também já trabalhei com (Cesc) Fabregas, (Sinisa) Mihajlovic e (Thierry) Henry, por isso não foi assim tão diferente para mim. É preciso lembrar que eles já não são os jogadores que víamos na televisão; agora são treinadores, é uma pessoa diferente que temos à frente. No Coventry, entrava e saía da equipa, por isso achei que era altura de procurar um lugar onde pudesse afirmar-me. Além disso, prefiro o estilo de vida europeu e conhecer novas culturas.

Binks jogou sob o comando de Frank Lampard no Coventry
Binks jogou sob o comando de Frank Lampard no CoventryJacob King / PA Images / Profimedia

- Teve Sinisa Mihajlovic como treinador no Bolonha, onde passou algum tempo. Foi uma boa experiência e quanto contribuiu para o seu desenvolvimento?

- Adorei o tempo que passei em Itália. Estive apenas um ano no Bolonha, mas Mihajlovic foi excecional. Deu-me a estreia. Tinha 19 anos e já tinha jogado 15 partidas, por isso queria sair. No entanto, ele queria que eu renovasse antes de sair, pois queria que continuasse a fazer parte da equipa. Deu-me muita confiança, mas depois, quando estava emprestado, ele adoeceu e infelizmente faleceu. Isso acabou com a minha passagem pelo Bolonha, e tenho a certeza de que, se ele ainda fosse treinador, eu estaria lá agora."

- Pouco depois de assinar pelo Montreal Impact, oriundo do Tottenham em fevereiro de 2020, rebentou a pandemia global de Covid-19 e ficou isolado num hotel. Mas depois (o treinador) Thierry Henry ligou-lhe. Conte-nos essa experiência.

- Só tinha feito dois jogos de liga pelo Montreal antes do COVID. Estava a viver num hotel porque só lá estava há um mês. O hotel fechou e mandaram-me para outro, a uma hora da cidade, e não estava nada satisfeito porque não havia nada por lá. Então, Thierry Henry telefonou-me e perguntou se queria juntar-me a ele num hotel perto da cidade, onde ele era o único hóspede. Foi uma situação surreal; ele estava longe da família, eu também, por isso só nos tínhamos um ao outro. Ficávamos sentados na receção a conversar durante horas. Poder conversar e aprender com ele era estranho, porque ele era também o treinador, e é algo que nunca vou esquecer."

Sinisa Mihajlovic deu a estreia a Luis Binks na Serie A pelo Bolonha
Sinisa Mihajlovic deu a estreia a Luis Binks na Serie A pelo BolonhaIPA, Independent Photo Agency Srl / Alamy / Profimedia

- Chegou a Copenhaga em agosto. Como sente que se adaptou dentro e fora de campo, e o que pensa do nível da liga dinamarquesa?

- Já estou aqui há três meses com a minha namorada e o nosso cão, e estamos todos apaixonados por Copenhaga. Todos os colegas da equipa foram muito acolhedores e simpáticos, o que facilitou a minha integração. Os dinamarqueses, em geral, são muito abertos e amigáveis, por isso é fácil adaptar-se à cultura. O nível da liga dinamarquesa surpreendeu-me pela positiva. A maioria conhece o FC Copenhaga e o Brondby, mas talvez as outras equipas não sejam tão faladas fora da Dinamarca. Há uma diferença entre os clubes do topo e os do fundo, mas isso acontece em qualquer liga. Parece que quem está fora da Dinamarca não tem noção de quão elevado é o nível aqui.

- Nasceu em Inglaterra, mas tem um avô escocês, por isso ainda pode jogar pela seleção principal de Inglaterra ou Escócia. Já decidiu por quem jogaria se tivesse essa oportunidade?

- Ainda não decidi, mas se a Escócia me chamasse amanhã, claro que adoraria jogar por eles. É um objetivo meu ser convocado para a seleção escocesa, e acho que há uma oportunidade, porque alguns dos defesas deles já estão mais velhos ou jogam em ligas que não têm o mesmo nível da liga dinamarquesa. Por isso, vejo ali uma possibilidade, e se a Escócia me escolher amanhã, estarei mais do que pronto.

- Agora assinou um contrato de longa duração (cinco anos) com o Brondby. Quais são as suas ambições para o futuro? Tem algum sonho ou clubes onde gostaria de jogar?

- Assinei um contrato longo aqui, e tudo pode mudar nesse período. No Coventry, assinei por quatro anos, mas só lá fiquei um, mas quero conquistar troféus com o Brondby e afirmar-me como um dos melhores defesas da liga. Mas claro, olhando mais à frente, adorava jogar numa das cinco principais ligas europeias. Tive uma breve experiência no Bolonha, mas gostava mesmo de voltar a tentar. Mas, acima de tudo, o importante é jogar bem pelo Brondby, porque se o fizer, torno-me uma lenda aqui, já que o clube espera que ganhemos troféus, e os adeptos nunca esquecem quem consegue isso.