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Exclusivo com Nuno Lima: "O Paços de Ferreira é um clube que me marcou muito"

Nuno Lima, jogador do Alanyaspor
Nuno Lima, jogador do AlanyasporFATIH HEPOKUR / ANADOLU / ANADOLU VIA AFP

Nuno Lima acabou de renovar o contrato com o Alanyaspor, da Turquia, onde é treinado por João Pereira, antigo treinador do Sporting, até 2029. Em entrevista ao Flashscore, o defesa-central de 24 anos falou da mudança para o futebol turco, da adaptação e ainda do início da carreira, destacando a importância de Paços de Ferreira para reerguer uma carreira que ainda tem dois grandes objetivos por cumprir.

- Está na Turquia, no Alanyaspor, há três anos e renovou recentemente até 2029. Significa que está bem, está feliz?

- Sim, renovei recentemente com o Alanyaspor. Foi um voto de confiança que o clube me deu, vou para a minha terceira época aqui. Sinto que tem sido uma boa experiência para mim, sinto-me bem cá. Obviamente que tenho outros objetivos e outros sonhos, mas esta renovação passa por isso. Para me dar mais confiança e conforto num local onde me sinto bem, num clube que me acolheu muito bem e também para continuar o meu trajeto no clube e, quem sabe, dar o salto.

- Como é o teu dia-a-dia aí?

- Aqui a vida é muito parecida à que tinha em Portugal, quando jogava no Paços de Ferreira. A única diferença é que aqui, em 365 dias, 300 são dias de sol. O clube tem condições muito boas. Treino de manhã, como em Portugal. O clube fornece todas as refeições nas instalações, para levarmos para casa e sermos controlados a nível nutricional. Tenho o meu trabalho extra, que sempre fiz e continuo a fazer pela Turquia e passa também muito pelo descanso.

- Há muitas diferenças em relação a Portugal? A cultura, os costumes, estilo de vida. O que nota de diferente?

- Tenho de admitir que quando vim para cá sabia muito pouco do país em si, no entanto o choque cultural foi quase zero. A cidade onde estou é muito turística. Apesar de ser um país onde a maior parte das pessoas são muçulmanas, onde estou não vejo muito essa cultura. No entanto, após descobrir, porque já estou aqui há algum tempo, gosto muito da cultura muçulmana, da cultura do país. São pessoas um bocado diferentes das pessoas europeias, os costumes são diferentes, mas nada que tenha causado transtorno e a adaptação foi muito fácil.

Os números de Nuno Lima
Os números de Nuno LimaFlashscore

- Certamente que uma das diferenças são as condições dos contratos, não é? Há pouco tempo, um jogador português disse que só os três grandes conseguiam pagar ao nível dos clubes da Turquia. É uma realidade, também?

- Sim, obviamente que a vida para cá não foi de todo pelo aspeto financeiro, mas é impossível esconder que, nesse nível, está muito acima de Portugal e da maior parte dos países do topo das ligas. É fácil perceber por que é que jogadores com carreiras conceituadas acabam por vir fazer contratos na Turquia. O nível da Liga, felizmente, está a subir, mas o nível financeiro aqui também é muito mais alto do que noutro lado qualquer.

- O nível da Liga está a subir porque todos os anos têm chegado aí grandes craques, não é?

- Sim, a cada ano que passa vemos o número de craques, pessoas, treinadores, dirigentes a escolher a Turquia e também é por isso. A Liga está a desenvolver-se, a atrair nomes fortes no futebol. A maior parte é pela questão financeira, mas também os clubes. Os treinos são muito evoluídos, estádios enormes com muitos adeptos por jogo. É sempre apelativo continuar cá a carreira porque é um lugar onde se sente o verdadeiro futebol, é um desporto muito adorado pelos turcos e a atmosfera que se cria à volta do jogo cativa toda a gente.

- Uma paixão com alguns exageros, não é?

- Felizmente, onde eu estou, no Alanyaspor, a massa adepta não é daquelas exigentes demais. Vemos muitos casos na Turquia, como há em todo o lado, em que eles são muito apaixonados e confudem a paixão com a raiva e o exagero. Vemos algumas cenas mais desagradáveis, dentro e nos arredores do estádio. Faz parte. Não devia fazer, mas a cultura deles é assim. Temos de respeitar e não alimentar mais esse tipo de situações.

"Com o João Pereira as coisas estão mais cimentadas"

- É o único português no plantel do Alanyaspor, mas há muitos portugueses na equipa técnica, que é liderada pelo João Pereira. Como é que estão esses portugueses aí contigo?

- A chegada da equipa técnica portuguesa foi muito boa, não só para mim mas para o clube. Chegaram numa fase delicada, estávamos a lutar pela manutenção, fizeram um bom trabalho e têm vindo a fazer um bom trabalho. Tentei ajudar na adaptação ao máximo porque tínhamos pouco tempo para trabalhar. Agora com mais calma, com uma pré-época liderada pela equipa técnica portuguesa, pelo mister João, as coisas estão mais cimentadas. Já estão na cultura do clube. O mister João jogou na Turquia e já tinha conhecimento de como funcionavam as coisas, mas sinto que estão muito mais confortáveis e muito mais habituados ao que é a cultura turca.

- Como foi o efeito Mourinho? O Fenerbahçe não conseguiu ser campeão e o Mourinho não saiu da melhor maneira. Como é que se viveu isso tudo por aí?

- O Mourinho, em termos de treinador, deve ser um dos melhores do mundo, pela sua carreira. Quando chegou, havia uma grande expectativa à volta dele, vinha valorizar a Liga. Infelizmente, não conseguiu os objetivos. Deixou um sabor amargo nos adeptos do Fenerbahçe pela maneira que saiu e porque não conseguiram os objetivos. O clube não está numa fase de muitos títulos e decidiram separar-se e tentar de outra maneira.

- Em relação a vocês: no primeiro ano ficaram à beira do apuramento europeu, no segundo lutaram pela manutenção, esta época qual é o objetivo?

- É não passarmos o que passámos na época passada, queremos ser o mais competitivos possível, ir para todos os jogos para vencer, seja com quem for, e garantir o mais rápido possível a manutenção ou chegar a um lugar na tabela que nos dê mais conforto. Na época passada, até à chegada do mister João, foi muito complicado e foi um sentimento de tristeza enquanto as coisas não corriam bem. Quem cá está não quer passar pelo menos e queremos amealhar o máximo de pontos possíveis para depois podermos desfrutar e jogarmos com mais confiança.

Alanyaspor é 9.º classificado
Alanyaspor é 9.º classificadoFlashscore

"O Paços de Ferreira é um clube que me marcou muito"

- Vamos fazer uma pequena viagem ao passado, às escolas do FC Porto. Como é que tudo começou para ti no futebol?

- Comecei a jogar bastante novo, com quatro anos. Os meus pais inscreveram-me numa escola de futebol chamada Os Baixinhos, que é de Anta, em Espinho. Era mais uma diversão para mim, para me distrair, conviver com colegas e amigos. Com nove anos, passei para as escolas do FC Porto. Foi um processo importante na minha formação. As condições eram outras, a qualidade dos treinadores e colegas eram outras, o que me fez evoluir mais rápido. Há um momento em que temos de tomar opções, em que percebemos que não estamos a ser opção e que aquele caminho não vai ser o nosso. Qualquer jogador que entra na formação do FC Porto sonha em chegar à equipa principal e depois a um patamar alto, mas temos de ir para outro lado e por outro caminho. Felizmente, o meu caminho foi feito no Feirense e no Paços de Ferreira, onde me tornei profissional.

- Continua a torcer pelo FC Porto? Acompanha o trajeto?

- Sinceramente, neste momento o meu clube em Portugal é o Paços de Ferreira, um clube que me marcou muito. Saí da escola do FC Porto, um momento difícil, quase de rejeição, e o Paços de Ferreira deu-me a mão, ajudou-me muito e foi ali que quis acabar a formação e que me estreei na Liga, tive a possibilidade de jogar competições europeias e vai ser sempre um clube muito especial para mim. Sendo sincero, o meu clube neste momento é o Paços de Ferreira, é o clube que acompanho, tento ver todos os jogos. O FC Porto, por ser português, é um clube que acompanho, principalmente nas competições europeias, mas fora disso não.

Nuno Lima terminou a formação no Paços de Ferreira
Nuno Lima terminou a formação no Paços de FerreiraMIGUEL RIOPA / AFP / AFP / Profimedia

- Ainda é novo, tem 24 anos. Que sonhos tem na carreira?

- Cada jogador tem os seus sonhos e objetivos. Tenho um que sempre esteve muito presente e nunca tive a possibilidade, nem sequer nos escalões de formação, que é representar a seleção nacional. Obviamente que é um sonho que está distante neste momento, pela qualidade da seleção, dos jogadores, pelo patamar onde estou agora, mas não há impossíveis. A nível de clubes, gostava de jogar uma Liga dos Campeões, jogar numa das ligas do top 5. São esses os objetivos que vejo para mim no futuro. Se tudo correr bem, acho que posso estar perto de os concluir, não quer dizer que vá concluir, mas acredito que pode ser possível, por mais longe que pareça. Acho que não devo deixar de sonhar.