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Guilherme Soares: "Tomei a opção certa em vir para a Roménia"

Guilherme Soares em destaque no Poli Iasi
Guilherme Soares em destaque no Poli IasiArquivo Pessoal, Flashscore
Guilherme Soares cumpre a primeira temporada fora de Portugal depois de uma vida (e carreira) dedicada ao SC Braga, com um empréstimo à UD Oliveirense pelo meio, e o balanço dos primeiros meses na Roménia é bastante positivo. O central, de 23 anos, conquistou o seu espaço no Poli Iasi e conta que o seu futuro a breve trecho passe por continuar no estrangeiro, embora não feche portas, como admite nesta entrevista exclusiva ao Flashscore.

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"Acho que tive poucas oportunidades a nível nacional"

- Qual é o balanço desta nova aventura no Politehnica Iasi, da Roménia?

- O balanço é positivo. Tomei a opção certa em vir para cá. Estou a ter tempo de jogo e a oportunidade de me mostrar num contexto de primeira liga, fora da minha zona de conforto, algo que está a ser muito bom para mim. Estou a tentar aproveitar ao máximo. É difícil a parte social, porque estou sozinho, mas tenho dois portugueses e consigo conviver da forma mais próxima possível.

Guilherme Soares satisfeito com projeto no Poli Iasi
Guilherme Soares satisfeito com projeto no Poli IasiPoli Iasi/Opta by Stats Perform

- O que o motivou mais a tomar a opção de sair para o estrangeiro?

- Muito sinceramente, um problema que eu acho que é eterno no futebol português é a falta de valorização que se dá aos jovens portugueses e à formação portuguesa, apesar de a escola portuguesa ser das melhores. Acho que tive poucas oportunidades a nível nacional e, por isso, tentei seguir um caminho alternativo, de primeira liga, onde me dessem a oportunidade de jogar, mostrar o meu valor e, por esta via, alcançar os objetivos que tenho. Espero que isso me permita, no futuro, estar bem financeiramente e construir uma carreira sólida.

- Sente que valorizam mais o jogador português na Roménia?

- É um bocadinho como em Portugal. Em Portugal valorizam muito o jogador estrangeiro, e aqui acaba por ser igual. Mas, atenção, valorizam muito o jogador romeno, isso sim. Em Portugal, vinha de um contexto de formação e de um clube grande, numa das melhores escolas. Sentia que, a nível de aproveitamento do que aprendi, havia pouca oferta.

Os números de Guilherme Soares na Liga romena
Os números de Guilherme Soares na Liga romenaFlashscore

- Aquilo que encontrou foi ao encontro do que tinha imaginado?

- Fiquei surpreendido com o país. A minha cidade é interessante e tem muitas coisas para fazer. Quanto ao futebol, já me tinham dito que os jogos eram menos organizados, mais intensos e partidos, sobretudo na segunda parte. E sinto muito isso.

- Como é que um jogador formado no SC Braga, onde tudo é certamente muito organizado e trabalhado de forma minucios, se enquadra num sistema mais desorganizado?

- É adaptação à realidade. Tenho essa base tática que os anos no SC Braga me deram, portanto acho que consigo moldar o meu jogo em função do contexto. Foi difícil no início, porque é um choque de realidade, mas quanto maior for a capacidade de adaptação, mais rapidamente entro no estilo.

- Quais foram entao os principais desafios?

- No meu período de adaptação, não comecei logo a jogar como titular; tive de esperar pela minha oportunidade. Senti que, fisicamente, precisava de ser mais incisivo, algo que não era tão necessário na formação do SC Braga, porque 90% do tempo tínhamos a bola e a parte defensiva não era tão importante. Acho que melhorei bastante fisicamente, algo que consegui superar. Também já mudámos de treinador: o estilo de jogo era mais apoiado com o Tony, mas, entretanto, houve uma mudança de treinador, e agora a ideia é diferente, com um bloco mais baixo e em transição.

Guilherme Soares cumpre primeira experiência no estrangeiro
Guilherme Soares cumpre primeira experiência no estrangeiroArquivo Pessoal

"Sinto que este campeonato pode catapultar a carreira"

- Para quem não conhece, como é que o Guilherme apresenta o campeonato romeno?

- Para mim, e sou suspeito para falar, porque estou a jogar cá, surpreenderam-me alguns jogadores. Há jogadores com qualidade. O contexto do campeonato é um jogo muito atlético, menos organizado do que estamos a ver em Portugal. Para quem sai de Portugal, sinto que este campeonato pode catapultar uma carreira.

- Olhamos para a tabela e vemos as equipas muito juntas...

- Sinto que o campeonato é muito competitivo. É difícil apontar um vencedor. As equipas da parte de cima têm ascendência no jogo, mas as restantes estão muito divididas. O nosso objetivo é tentar amealhar o máximo de pontos nesta fase.

- Como foi recebido pelos seus companheiros de equipa? E o que nos pode dizer sobre as condições ao nível de infraestruturas que encontrou?

- Em termos de infraestruturas, é difícil encontrar algo como o SC Braga tem, mesmo na formação. Mesmo em Portugal, não existe algo assim na primeira liga, exceto nos 4 ou 5 clubes da frente. Portanto, há uma grande diferença. O método de trabalho também é diferente; não dão tanto valor a algumas coisas que nós portugueses damos. Mas fui bem recebido. O mais importante era aquilo que ia fazer em campo e foi tranquilo. Não tenho razão de queixa.

A forma recente do Poli Iasi
A forma recente do Poli IasiFlashscore

- Os adeptos romenos são conhecidos por serem muito fervorosos. Já sentiu isso?

- No meu clube, os adeptos são muito pacíficos. Apesar de ser uma grande cidade, a cidade não tem uma cultura de futebol como tem a capital. Temos 6 a 7 mil no estádio, o que é bom para quem vem para se mostrar, pois não há a pressão de uma equipa grande com adeptos que têm grandes expectativas. Mas, nas equipas da capital, esses clubes têm muitos adeptos e são muito fervorosos.

- Algum episódio assim mais diferente e/ou caricato?

- Muitas. Posso contar uma: o que mais me queixo são as viagens para fora. São 7 a 8 horas de autocarro, em estradas com muitas curvas.

- Acredito que também esteja a ser um desafio enorme do ponto de vista pessoal. O Guilherme de hoje é muito diferente daquele que saiu de Braga?

- Tem de ser diferente, para melhor, espero eu. Era algo que, nos últimos meses, já pensava que poderia acontecer e fui-me preparando mentalmente para isso. Por isso, não foi um choque muito grande ter de fazer tudo sozinho.

Guilherme continua a acompanhar o SC Braga
Guilherme continua a acompanhar o SC BragaArquivo Pessoal

"SC Braga tem todas as condições para lutar pelo título" 

- Olhemos um pouco para o seu passado. Como é que o futebol aparece na sua vida?

- Comecei a jogar logo no SC Braga, o meu clube e o do meu pai. Foi numa daquelas de jogar futebol, como tantos outros miúdos. Com o passar do tempo, acho que só me apercebi de que podia ser a minha vida quando comecei a jogar a um nível mais profissional. Nos sub-15 e sub-17, acreditava que podia ser profissional, mas só se concretizou aos 18-19 anos. O maior salto foi nos sub-23, quando me estreei na equipa principal. Aí, pensei que podia fazer uma boa carreira. Foi o clique.

- 15 anos de SC Braga. É uma vida...

- Tudo o que sou como jogador e muito do que sou como pessoa devo aos anos que passei em Braga. Vão ficar para sempre na minha memória. Aprendi muito, criei relações para a vida e devo muito a muitas pessoas. Foi lá que concretizei o meu sonho, só tenho coisas boas a dizer. Tivemos de separar-nos porque cada um tinha de seguir o seu caminho, e acho que foi o correto.

- Por lá apanha o surgimento da Cidade Desportiva…

- Tínhamos umas condições abaixo do que eram dignas para o clube. E, a partir do momento em que se vê a quantidade de jogadores que sobem, é o maior clique. A Cidade Desportiva trouxe algo que é difícil de encontrar em Portugal. Quando estamos lá, não damos o devido valor. Só quando viemos para realidades diferentes é que começamos a dar valor. Quando se sai, é quando se dá o maior valor ao que o SC Braga tem enquanto estrutura.

Guilherme Soares avalia projeto bracarense
Guilherme Soares avalia projeto bracarensePoli Iasi/Opta by Stats Perform

- Difícil fechar esse capítulo?

- Foi mais difícil no momento do empréstimo (à UD Oliveirense). Depois disso, já tinha passado um ano e não custou tanto. Foi um choque de realidade passar da equipa B para o contexto da Liga 2. Agora, já estava preparado mentalmente para o fazer. Acho que não foi tão difícil a separação.

- Artur Jorge, Custódio e Carlos Carvalhal foram alguns dos treinadores com quem trabalhou no SC Braga. O que pode dizer sobre eles?

- Tenho muito boas impressões. O Artur tem muito mérito no que tem feito, é uma pessoa dedicada, profissional e ambiciosa, e é isso que lhe traz sucesso; Identifiquei-me muito com a forma de pensar e de jogar do Custódio, acho que foi com ele que dei o salto qualitativo no jogo com bola. Ele acreditava muito em mim. Já o mister Carvalhal deu-me a oportunidade de me estrear na equipa principal, quando poucos davam alguma coisa por mim. Estou muito, muito grato por tudo o que me proporcionou.

- A estreia terá sido o momento mais alto, não?

- Foi o ponto mais alto da minha passagem em Braga, um dos momentos mais felizes da minha vida. Sonhava há muitos anos, desde que comecei a ver futebol no estádio. Joguei com os jogadores que via da bancada.

- Acredito que continue a acompanhar o clube. Como olha para o momento atual do SC Braga? É possível lutar pelo título em breve?

- Acredito e espero que sim, mas não é fácil. Acredito que o SC Braga tenha mudado um pouco a política em relação aos últimos anos, mudou muito o plantel e perdeu algumas referências. Acho que o regresso do mister Carvalhal vai ajudar. O SC Braga tem todas as condições, a nível de infraestruturas e estrutura, para lutar pelo título. Espero que isso aconteça em breve.

Guilherme tem sido aposta na Roménia
Guilherme tem sido aposta na RoméniaArquivo Pessoal

"Espero que seja um trampolim para um voo mais alto"

- Voltando a si. O que espera que esta temporada lhe dê em termos futuros?

- O investimento está todo no plano desportivo. Espero que seja um trampolim para um voo mais alto, para jogar noutro contexto, com outra dificuldade e visibilidade, e também financeiro. Mas também não penso muito nisso diariamente. Primeiro, tenho de fazer o meu trabalho e concentrar-me nos treinos e nos jogos. O que vier será reflexo do meu trabalho.

- Confirma aquela ideia que existe de que quando se sai de Portugal fica mais difícil o regresso?

- É mais difícil voltar, principalmente pelo plano financeiro e pela experiência de vida que temos fora. Damos logo um salto nesse nível. Assim, em termos desportivos, o campeonato português vai perdendo os seus melhores jogadores para as equipas com mais poder financeiro, mas é o eterno problema do futebol português. Não se vai resolver facilmente.

Os próximos jogos do Poli Iasi
Os próximos jogos do Poli IasiFlashscore

Portanto, tenciono manter-me fora de Portugal, a não ser que chegue uma oferta, em termos financeiros, desportivos e pessoais, que me compense mais ir para Portugal. Estou aberto a qualquer possibilidade. Não fecho portas.

- Qual a mensagem que deixa para os mais novos?

- Acredito que seja muito mental. Temos de definir objetivos, prioridades e ir até ao fim por elas. Em termos de futebol, temos de ter qualidade e manter a mente focada no objetivo que definimos.