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"Acho que tive poucas oportunidades a nível nacional"
- Qual é o balanço desta nova aventura no Politehnica Iasi, da Roménia?
- O balanço é positivo. Tomei a opção certa em vir para cá. Estou a ter tempo de jogo e a oportunidade de me mostrar num contexto de primeira liga, fora da minha zona de conforto, algo que está a ser muito bom para mim. Estou a tentar aproveitar ao máximo. É difícil a parte social, porque estou sozinho, mas tenho dois portugueses e consigo conviver da forma mais próxima possível.

- O que o motivou mais a tomar a opção de sair para o estrangeiro?
- Muito sinceramente, um problema que eu acho que é eterno no futebol português é a falta de valorização que se dá aos jovens portugueses e à formação portuguesa, apesar de a escola portuguesa ser das melhores. Acho que tive poucas oportunidades a nível nacional e, por isso, tentei seguir um caminho alternativo, de primeira liga, onde me dessem a oportunidade de jogar, mostrar o meu valor e, por esta via, alcançar os objetivos que tenho. Espero que isso me permita, no futuro, estar bem financeiramente e construir uma carreira sólida.
- Sente que valorizam mais o jogador português na Roménia?
- É um bocadinho como em Portugal. Em Portugal valorizam muito o jogador estrangeiro, e aqui acaba por ser igual. Mas, atenção, valorizam muito o jogador romeno, isso sim. Em Portugal, vinha de um contexto de formação e de um clube grande, numa das melhores escolas. Sentia que, a nível de aproveitamento do que aprendi, havia pouca oferta.

- Aquilo que encontrou foi ao encontro do que tinha imaginado?
- Fiquei surpreendido com o país. A minha cidade é interessante e tem muitas coisas para fazer. Quanto ao futebol, já me tinham dito que os jogos eram menos organizados, mais intensos e partidos, sobretudo na segunda parte. E sinto muito isso.
- Como é que um jogador formado no SC Braga, onde tudo é certamente muito organizado e trabalhado de forma minucios, se enquadra num sistema mais desorganizado?
- É adaptação à realidade. Tenho essa base tática que os anos no SC Braga me deram, portanto acho que consigo moldar o meu jogo em função do contexto. Foi difícil no início, porque é um choque de realidade, mas quanto maior for a capacidade de adaptação, mais rapidamente entro no estilo.
- Quais foram entao os principais desafios?
- No meu período de adaptação, não comecei logo a jogar como titular; tive de esperar pela minha oportunidade. Senti que, fisicamente, precisava de ser mais incisivo, algo que não era tão necessário na formação do SC Braga, porque 90% do tempo tínhamos a bola e a parte defensiva não era tão importante. Acho que melhorei bastante fisicamente, algo que consegui superar. Também já mudámos de treinador: o estilo de jogo era mais apoiado com o Tony, mas, entretanto, houve uma mudança de treinador, e agora a ideia é diferente, com um bloco mais baixo e em transição.

"Sinto que este campeonato pode catapultar a carreira"
- Para quem não conhece, como é que o Guilherme apresenta o campeonato romeno?
- Para mim, e sou suspeito para falar, porque estou a jogar cá, surpreenderam-me alguns jogadores. Há jogadores com qualidade. O contexto do campeonato é um jogo muito atlético, menos organizado do que estamos a ver em Portugal. Para quem sai de Portugal, sinto que este campeonato pode catapultar uma carreira.
- Olhamos para a tabela e vemos as equipas muito juntas...
- Sinto que o campeonato é muito competitivo. É difícil apontar um vencedor. As equipas da parte de cima têm ascendência no jogo, mas as restantes estão muito divididas. O nosso objetivo é tentar amealhar o máximo de pontos nesta fase.
- Como foi recebido pelos seus companheiros de equipa? E o que nos pode dizer sobre as condições ao nível de infraestruturas que encontrou?
- Em termos de infraestruturas, é difícil encontrar algo como o SC Braga tem, mesmo na formação. Mesmo em Portugal, não existe algo assim na primeira liga, exceto nos 4 ou 5 clubes da frente. Portanto, há uma grande diferença. O método de trabalho também é diferente; não dão tanto valor a algumas coisas que nós portugueses damos. Mas fui bem recebido. O mais importante era aquilo que ia fazer em campo e foi tranquilo. Não tenho razão de queixa.

- Os adeptos romenos são conhecidos por serem muito fervorosos. Já sentiu isso?
- No meu clube, os adeptos são muito pacíficos. Apesar de ser uma grande cidade, a cidade não tem uma cultura de futebol como tem a capital. Temos 6 a 7 mil no estádio, o que é bom para quem vem para se mostrar, pois não há a pressão de uma equipa grande com adeptos que têm grandes expectativas. Mas, nas equipas da capital, esses clubes têm muitos adeptos e são muito fervorosos.
- Algum episódio assim mais diferente e/ou caricato?
- Muitas. Posso contar uma: o que mais me queixo são as viagens para fora. São 7 a 8 horas de autocarro, em estradas com muitas curvas.
- Acredito que também esteja a ser um desafio enorme do ponto de vista pessoal. O Guilherme de hoje é muito diferente daquele que saiu de Braga?
- Tem de ser diferente, para melhor, espero eu. Era algo que, nos últimos meses, já pensava que poderia acontecer e fui-me preparando mentalmente para isso. Por isso, não foi um choque muito grande ter de fazer tudo sozinho.

"SC Braga tem todas as condições para lutar pelo título"
- Olhemos um pouco para o seu passado. Como é que o futebol aparece na sua vida?
- Comecei a jogar logo no SC Braga, o meu clube e o do meu pai. Foi numa daquelas de jogar futebol, como tantos outros miúdos. Com o passar do tempo, acho que só me apercebi de que podia ser a minha vida quando comecei a jogar a um nível mais profissional. Nos sub-15 e sub-17, acreditava que podia ser profissional, mas só se concretizou aos 18-19 anos. O maior salto foi nos sub-23, quando me estreei na equipa principal. Aí, pensei que podia fazer uma boa carreira. Foi o clique.
- 15 anos de SC Braga. É uma vida...
- Tudo o que sou como jogador e muito do que sou como pessoa devo aos anos que passei em Braga. Vão ficar para sempre na minha memória. Aprendi muito, criei relações para a vida e devo muito a muitas pessoas. Foi lá que concretizei o meu sonho, só tenho coisas boas a dizer. Tivemos de separar-nos porque cada um tinha de seguir o seu caminho, e acho que foi o correto.
- Por lá apanha o surgimento da Cidade Desportiva…
- Tínhamos umas condições abaixo do que eram dignas para o clube. E, a partir do momento em que se vê a quantidade de jogadores que sobem, é o maior clique. A Cidade Desportiva trouxe algo que é difícil de encontrar em Portugal. Quando estamos lá, não damos o devido valor. Só quando viemos para realidades diferentes é que começamos a dar valor. Quando se sai, é quando se dá o maior valor ao que o SC Braga tem enquanto estrutura.

- Difícil fechar esse capítulo?
- Foi mais difícil no momento do empréstimo (à UD Oliveirense). Depois disso, já tinha passado um ano e não custou tanto. Foi um choque de realidade passar da equipa B para o contexto da Liga 2. Agora, já estava preparado mentalmente para o fazer. Acho que não foi tão difícil a separação.
- Artur Jorge, Custódio e Carlos Carvalhal foram alguns dos treinadores com quem trabalhou no SC Braga. O que pode dizer sobre eles?
- Tenho muito boas impressões. O Artur tem muito mérito no que tem feito, é uma pessoa dedicada, profissional e ambiciosa, e é isso que lhe traz sucesso; Identifiquei-me muito com a forma de pensar e de jogar do Custódio, acho que foi com ele que dei o salto qualitativo no jogo com bola. Ele acreditava muito em mim. Já o mister Carvalhal deu-me a oportunidade de me estrear na equipa principal, quando poucos davam alguma coisa por mim. Estou muito, muito grato por tudo o que me proporcionou.
- A estreia terá sido o momento mais alto, não?
- Foi o ponto mais alto da minha passagem em Braga, um dos momentos mais felizes da minha vida. Sonhava há muitos anos, desde que comecei a ver futebol no estádio. Joguei com os jogadores que via da bancada.
- Acredito que continue a acompanhar o clube. Como olha para o momento atual do SC Braga? É possível lutar pelo título em breve?
- Acredito e espero que sim, mas não é fácil. Acredito que o SC Braga tenha mudado um pouco a política em relação aos últimos anos, mudou muito o plantel e perdeu algumas referências. Acho que o regresso do mister Carvalhal vai ajudar. O SC Braga tem todas as condições, a nível de infraestruturas e estrutura, para lutar pelo título. Espero que isso aconteça em breve.

"Espero que seja um trampolim para um voo mais alto"
- Voltando a si. O que espera que esta temporada lhe dê em termos futuros?
- O investimento está todo no plano desportivo. Espero que seja um trampolim para um voo mais alto, para jogar noutro contexto, com outra dificuldade e visibilidade, e também financeiro. Mas também não penso muito nisso diariamente. Primeiro, tenho de fazer o meu trabalho e concentrar-me nos treinos e nos jogos. O que vier será reflexo do meu trabalho.
- Confirma aquela ideia que existe de que quando se sai de Portugal fica mais difícil o regresso?
- É mais difícil voltar, principalmente pelo plano financeiro e pela experiência de vida que temos fora. Damos logo um salto nesse nível. Assim, em termos desportivos, o campeonato português vai perdendo os seus melhores jogadores para as equipas com mais poder financeiro, mas é o eterno problema do futebol português. Não se vai resolver facilmente.

Portanto, tenciono manter-me fora de Portugal, a não ser que chegue uma oferta, em termos financeiros, desportivos e pessoais, que me compense mais ir para Portugal. Estou aberto a qualquer possibilidade. Não fecho portas.
- Qual a mensagem que deixa para os mais novos?
- Acredito que seja muito mental. Temos de definir objetivos, prioridades e ir até ao fim por elas. Em termos de futebol, temos de ter qualidade e manter a mente focada no objetivo que definimos.