Acompanhe aqui o Henan Songshan Longmen
A segunda experiência de Daniel Ramos fora do futebol português pode ficar marcada na história de um clube. Falamos do Henan, equipa chinesa que o técnico levou pela primeira vez à final da Taça e que está apenas um passo de uma conquista inédita que vale também o primeiro apuramento do clube para as competições asiáticas.
Em entrevista ao Flashscore, o técnico português lançou a final e fez uma retrospetiva da carreira, abordando ainda a atualidade do futebol nacional.
- Está na China há seis meses. Como está a ser essa experiência?
- Já são mais de seis meses. Apesar de sentirmos que estávamos bem, temos vindo a crescer como equipa. Eles têm vindo a responder às exigências que temos vindo a provocar, a equipa está a gostar muito. Vínhamos de Portugal, onde a intensidade é maior, o equilíbrio é maior e aqui sente-se isso às vezes e outras vezes não. Há equipas mais fortes, como aí, mas a possibilidade de competir de igual para igual contra as melhores equipas fica mais difícil na China. O que é certo é, com o aumento da exigência, a equipa tem respondido muito bem. Estamos a praticar um bom futebol e, além disso, a ter bons resultados. Sentimos que estamos a melhorar a identidade e a exigência do clube. Os próprios adeptos reveem-se na forma de jogar da equipa e isso é muito positivo.
- Como surgiu o desafio de treinar o Henan? O que o levou a aceitar, sendo que é apenas a 2.ª vez que treina no estrangeiro?
- Já tive várias oportunidades para treinar fora, mas fui rejeitando em função do que achava ser bom para a minha carreira. Tentei escolher projetos que me dissessem alguma coisa. Às vezes tentei entrar em campeonatos bem exigentes e bons clubes, mas fica difícil de entrar e não consegui. Este projeto acabou por aparecer por intermédio do Carlos Gonçalves, da Proeleven, que me ligou e disse 'Daniel, tenho um projeto interessante para ti, pensa nele'. Eu vi o projeto com atenção e, depois disso, decidi ver o que o clube tinha para me dizer. Fui entrevistado pelo diretor desportivo, que criou todo o cenário do momento do clube e do que queria. Ele também estava a entrar, tinha um mês de trabalho, queria melhorar e precisava de um treinador com ideias próximas e isso foi um grande aspeto que me fez aceitar, tinha um diretor desportivo que acreditava num processo evolutivo que pode levar o clube a patamares superiores e acreditei desde início nessa melhoria que se pode fazer aqui no Henan. Tentei aprofundar o meu conhecimento em relação ao clube e à cidade, contactei pessoas que trabalharam na China e que deram feedback positivo. Há diferenças, mas eu gosto de desafios. Falei com a minha equipa técnica, é um trabalho diferente, mas motivador porque podemos deixar a nossa marca no clube e foi isso que me fez aceitar.
- Superou as expectativas?
- As informações que me foram dadas, principalmente ao nível de condições de trabalho, do lado habitacional, que é muito importante para quem está longe de casa. Nós não temos aqui as nossas famílias e precisávamos de nos sentir bem no dia-a-dia e era fundamental saber onde íamos viver. O diretor desportivo, Pere Garcia, que é espanhol, passou toda a informação através de vídeos e imagens. Vimos vários jogos, percebemos a assistência média do clube. É um clube com estabilidade, credível na China e isso foi importante para nós, a forma como queriam que estivéssemos no clube foi muito importante para a nossa vinda.

"Há equipas de meio da tabela com mais de 40 mil adeptos por jogo"
- Como é viver na China? É um país culturalmente distante de Portugal.
- Têm sido meses bem positivos. Claro que existem diferenças, mas muitas delas a surpreender pela positiva. Acabou por ser fácil para nós. Os portugueses adaptam-se e aceitam as diferenças, trabalhando no sentido de nos aproximar. Essa diferença não foi um entrave assim tão grande. É uma questão de adaptação, são coisas naturais e que não trazem constrangimento. Encaro isso de uma forma natural e muito positiva.
- A nível de plantel, quais as principais dificuldades? Há vários jogadores chineses, naturalmente, acredito que tenham muitos tradutores.
- A equipa técnica tem um tradutor que fala inglês, mandarim e português. Temos quatro brasileiros e um ganês, são os cinco estrangeiros permitidos por equipa. Existem quatro tradutores no clube, também temos um tradutor de espanhol por causa do diretor. A partir das dificuldades de comunicação utilizamos muitas vezes o tradutor, que é fundamental no processo diário para criar dinâmicas de comunicação. Tive muita sorte com o tradutor que está comigo. Fui eu que o entrevistei e, dentro das opções que me foram dadas, gostei dele. O tradutor é muito importante aqui, a mensagem tem de ser passada exatamente igual por ele. A maioria dos jogadores chineses não falam inglês, mas vão percebendo algumas coisas e o nosso capitão fala muito bem e isso também ajuda. Mas o futebol também é emoção e os gestos são fundamentais, muitas vezes comunico por gestos e conseguimos dizer muito sem precisar de tradução. Eles têm de me conhecer e eu a eles. Houve uma explicação clara da ideia de jogo, houve uma proposta de jogo, tive boa recetividade em relação a isso e disse logo que era um processo. 'Não vou mudar e se acreditarem vamos ter um crescimento sustentado e vão sentir que vão começar a falar de nós. Quanto tempo vai demorar? Não sei'. Foi um processo difícil ao início, mas nos últimos tempos tivemos excelentes resultados - uma derrota nos últimos nove jogos. O Henan tem conseguido afirmar-se como uma das boas equipas da liga chinesa.
- São desafios novos que acabam por funcionar como evolução para um treinador, não?
- Sem dúvida, também cresço como treinador. Estes desafios obrigam-nos a ser melhores, a adaptar-nos, a criarmos formas diferentes de comunicar que não pensávamos nelas em Portugal, por exemplo. Às vezes não chega só dizer as coisas, temos de transmitir emoções e mesmo o tradutor tem de meter a mesma emoção. É engraçado perceber o aumento do tom de voz do tradutor quando eu o faço. A forma como nos relacionamos no dia-a-dia é muito importante. Fui muito bem recebido desde o primeiro dia, assistimos ao primeiro jogo e os adeptos cativaram-me muito e apoiam bastante. A média de adeptos neste momento é superior a 18 mil, que é um número bem considerável. Temos uma lotação próxima do máximo, que é de 20 mil. São adeptos entusiastas e isso é fantástico. Esperam por nós à saída do hotel, à saída do comboio rápido, que muitas vezes é como vamos para os jogos, vêm tirar fotos, pedir autógrafos e essa empatia é muito boa. Dizem 'mister, gostamos muito da sua forma de jogar, que seja um treinador ofensivo'. Tenho pessoas que mandam mensagem e dizem 'vejo os jogos há 20 anos e isto é o que eu gostava de ver mais cedo'. Isto é muito gratificante. A equipa cria muitas oportunidades. Desde que estou aqui, só houve um jogo em que não marcámos um golo, temos uma média superior a dois golos por jogo. São dados muito significativos que os adeptos não estavam habituados.

- Quando chega, o Henan está apenas dois pontos acima da zona de descida, mas conseguiu garantir a manutenção e a equipa atravessa até um excelente momento, com apenas uma derrota nos últimos nove jogos. O que mudou desde a sua chegada?
- Alterei várias coisas, cada treinador tem a sua ideia de jogo. Pelo que vi e pelas características do plantel, mudei o sistema tático. A equipa jogava com linha de cinco, passei a jogar com linha de quatro, em 4x3x3 ou 4x2x3x1, subi o bloco, a pressão, a arriscar homem para homem, algo a que eles não estavam habituados. O desafio também foi ter mais bola do que o adversário para controlarmos melhor o jogo, passámos a treinar muito o processo ofensivo. A equipa jogava em transição e com bloco baixo, agora somos uma equipa mais dominadora, com mais espaço nas costas, mas a tentar criar dinâmicas diferentes. Tentamos que o nosso jogo fosse mais direcionado para proporcionar um bom espetáculo para quem nos vai ver, criamos muitas oportunidades e isso é bom para quem assiste. No primeiro jogo, perdemos 3-4 em casa. No final, a dar a volta ao campo, junto de uma das claques, atiraram um cachecol que eu tenho no meu quarto e diz 'Fight for Henan'. Passaram-me o microfone, foi a primeira vez que aconteceu na minha vida, em mais de 20 anos de carreira. Estava de microfone dentro de campo e o que eu disse foi 'vou lutar por Henan'. Neste momento, existe uma boa empatia entre adeptos e equipa.
- Antes de irmos à Taça, fale-me um pouco do campeonato. Como é o campeonato chinês? Há uns anos havia muitos olhares atentos, devido ao investimento e aos jogadores que se tinham mudado para lá, mas agora fala-se menos.
- O campeonato chinês está a reerguer-se aos poucos. Pelas informações que tenho, tem vindo a melhorar ao nível do controlo sobre os clubes, os orçamentos são controlados, as responsabilidades dos clubes têm de ser cumpridas. Existem tetos salariais, por exemplo, existe preocupação para melhorar a arbitragem, que as organizações cumpram horários, idas às conferências, muito idêntico ao que se pratica na Europa. Estão a tentar melhorar a esse nível para o campeonato ser mais credível. Há muito a melhorar. O campeonato está competitivo, vai haver a última jornada e estão duas equipas a lutar pelo título, estavam três na penúltima jornada e há competitividade na zona de descida também. Há muita preocupação da CFA para melhorar cada detalhe e recebemos uma informação semanal para melhorar determinados aspetos. É um campeonato que já está num bom nível e que tem tendência para melhorar.

- Falou dos 18 mil adeptos, acredito que seja uma novidade na sua carreira, algo que nem acontecia na Arábia Saudita. Quais são as grandes diferenças em relação ao futebol em Portugal, por exemplo?
- Na Arábia, eu tinha uma média de 6 mil adeptos por jogo. O entusiasmo é muito da claque e pouco da generalidade. Aqui é toda a gente. São os 18 mil a vibrar, é o estádio todo e isso é bonito de ver. Em Portugal, as claques são exigentes, mas os adeptos em geral estão reservados e só festejam nas oportunidades ou golos, aqui temos logo os adeptos a levantar a cada ataque. Há muita energia que passa para o jogo e não é só no Henan, é na maioria dos estádios. Há equipas de meio da tabela com mais de 40 mil adeptos por jogo, há clubismo, gostam de apoiar a equipa com emoção.
- E a nível futebolístico, que diferenças notou?
- A intensidade de jogo em Portugal é mais alta, aqui é intenso, mas o jogo parte-se, as equipas não conseguem manter a intensidade muito tempo. O que é preciso fazer em cada situação de jogo é importante, em Portugal temos essa capacidade e percebemos qual o momento de ter mais bola, reorganizar a equipa, fazer uma falta. Aqui faz-se, mas às vezes alguém esquece-se de fazer uma determinada tarefa. Há jogadores que precisam de melhorar o conhecimento do jogo. Há qualidade, mas a nível de conhecimento de jogo as equipas podem ser melhores.

"A final da Taça é um dos momentos mais altos da minha carreira"
- Vamos agora à Taça da China. É a primeira vez que o clube chega à final, o mister conduziu todo o processo até lá.
- O primeiro jogo foi com o 1.º classificado da Segunda Liga, foi complicado, vencemos por 1-2. Depois, jogámos em casa com o Zhejiang, uma equipa forte, mas vencemos por 3-2. Quando jogámos com eles, sabíamos o trajeto que iríamos apanhar e, mesmo vencendo, sabíamos que íamos jogar fora com Shanghai Port ou Shanghai Shenhua, 1.º e 2.º classificados do campeonato. Passando, teríamos de jogar com a equipa teoricamente mais forte, o Chengdu, mas acreditámos. Jogámos com o Shenhua, um jogo fantástico, que termina 3-3 após prolongamento e vencemos nos penáltis ao final do 10.º penálti. Nas meias, jogámos com o Chengdu, ficou 0-0 e vencemos novamente nos penáltis para passar à final. No jogo dos quartos de final, curiosamente, perguntei ao tradutor onde iam ficar os adeptos e disse que era ali que íamos festejar. Passámos e fomos festejar, foi fantástico. Depois, na marcação de penáltis, eu estou com o meu adjunto, o Renato, e disse 'nós já fomos felizes no 10.º penálti, isto vai ficar resolvido a nosso favor no 10.º penálti'. Nós subimos de divisão no Trofense no 10.º penálti e não é que, no 10.º penálti, festejámos a passagem às meias-finais? Curiosamente, não treinámos penáltis nos jogos dos quartos e das meias-finais, passei essa mensagem porque não queria ir a penáltis.
- O Beijing Guoan, que era treinado até pouco tempo pelo Quique Setién, é favorito na final?
- Saiu ele, mas quem está à frente da equipa é o seu adjunto e mantiveram a linha. É uma equipa dominadora, que gosta de ter bola, tem dois jogadores que jogaram em Portugal - Fábio Abreu, melhor marcador do campeonato, que foi meu jogador no Marítimo, e o Guga. Em casa, vencemos 2-0 para o campeonato e vamos ter o jogo da final. Vai ser um jogo difícil, é realmente uma boa equipa. Estão a passar uma má fase, mas na primeira volta não perderam com ninguém, estiveram 18 jogos sem perder e só uma boa equipa consegue ter isto. Acabaram por atrasar-se no campeonato e fizeram um bom registo na Taça. Temos a última jornada do campeonato no dia 22 de novembro e a 6 de dezembro temos a final. Nós temos é de estar preparados para esse jogo, temos de deixar tudo neste jogo. É a primeira final da história do clube, a primeira grande oportunidade de título na história do clube e nós podemos ficar na história.
- Por tudo o que mencionou, por dar também acesso à Champions League asiática, acaba por ser o jogo mais importante da sua carreira?
- No próximo ano há play-off - quem ganha, joga Liga dos Campeões 1, perdendo vai jogar na Liga dos Campeões 2. Acredito que sim, é o jogo mais importante. É um título que fica na história, que pode ser marcante na história do clube e, por isso, tem grande importância para nós. Tenho subidas de divisão, idas às competições europeias, mas ganhar uma Taça é um momento alto e, se não é o momento mais alto, é um dos momentos mais altos da minha carreira, sem dúvida.
- Como vê a possibilidade de jogar nessa competição? O Henan nunca participou na prova. Os seus planos passam por continuar no clube?
- O meu contrato termina no final do ano, o clube está em conversações com o meu agente no sentido da renovação e, em caso de continuidade, vejo com bons olhos o facto de jogar Liga dos Campeões (N.d.r: Após a realização desta entrevista, Daniel Ramos renovou por uma época, com mais uma de opção com o Henan Songshan Longmen). É uma competição de grande visibilidade na Ásia, que proporciona experiências muito boas, que nos coloca à prova, vai proporcionar vivências significativas porque aprendemos muito com estas experiências. Há muitas equipas boas na Liga dos Campeões, basta ver as equipas japonesas ou da Arábia Saudita, que têm dificuldades em competir com equipas de outros países porque os campeonatos asiáticos estão a desenvolver-se bastante.

"Com a ida de Mourinho para Portugal, há notícias em chinês"
- Gostaria aqui de voltar um pouco a Portugal. Primeiro, pergunto-lhe se tem acompanhado o futebol português e o que tem achado?
- Sim, tenho vindo a acompanhar dentro do possível e sinto que está um pouco parecido com os anos anteriores. Há momentos em que existe mais ou menos polémica, mas pelo que percebi há queixas de arbitragem nas primeiras jornadas. Este ambiente não é bom para o futebol português, cada um olha para a sua casa, mas se queremos ser um campeonato mais credível e com maior projeção temos de reduzir este ruído e isso passa pelos clubes, pelos seus intervenientes e pela Liga. Há que pensar um pouco nisto. A nível de competitividade, parece-me que existe, vê-se nos resultados, penso que a distância encurtou e isso é bom para o futebol e para o espetáculo.
- Como treinador, como viu a chegada de um nome como José Mourinho ao futebol português?
- Vi com muito agrado, acho que foi muito positivo para o futebol português. O mister José Mourinho é uma figura ímpar a nível mundial, ao nível dos treinadores. É um dos melhores treinadores do Mundo, ponto final. Merece tudo o que se diz dele de forma positiva, já provou várias vezes a qualidade que tem. Ter vindo para o futebol português veio trazer uma melhoria de imagem e visibilidade. Nós temos as nossas aplicações chinesas aqui e agora, com a ida de José Mourinho para Portugal, há notícias, em chinês, de algo relacionado com José Mourinho e antes não havia nada. Depois disso já recebi uma ou outra informação do Sérgio Conceição e do Jorge Jesus. É algo muito positivo para o futebol português.
- O seu último clube, o AFS, ainda não venceu na Liga. Na época passada também teve dificuldades para conseguir a manutenção. O que pensa que tem corrido mal?
- Tem a ver com a construção do plantel e com a liderança que o clube deve ter. Neste momento, acho que o clube deu um passo importante. Conheço a pessoa e trabalhei com ela. Falo da entrada do Diogo Boa Alma. É uma pessoa que vai trazer maior liderança, maior credibilidade, boa capacidade da seleção de jogadores e isso é fundamental. Não chega vontade, quantidade, é preciso qualidade e saber escolher. É preciso liderar e orientar o clube para um determinado rumo e acho que o clube vai ficar a ganhar com ele. O AFS é um clube com bons princípios, está organizado, mas o principal tem a ver com a liderança assertiva e definição de um rumo. Depois, trazer qualidade na escolha de jogadores e filtrar quem interessa e não interessa na estrutura para conseguirem ter melhores resultados.

"Às vezes, pensava que podia mudar o mundo e não é assim"
- Como vê a sua trajetória pelo campeonato português? Há pouco, falou da visão dos adeptos do Henan sobre si, um treinador que gosta de futebol ofensivo. Nos últimos anos, sinto que essa visão sobre o mister em Portugal perdeu-se. Concorda que passou a ser visto de forma diferente ao longo dos últimos anos?
- Eu venho das divisões inferiores e sempre procurei equipas que lutassem para ser campeãs e subir. Há uns anos, os treinadores dificilmente tinham oportunidades para chegar rapidamente à Liga Portugal. Às vezes, pensava que podia mudar o mundo e não é assim. Dei passos atrás e quando cheguei à Liga Portugal já tinha subido o Trofense, quase subi duas vezes consecutivas com o Famalicão, União da Madeira, andei perto com o Ribeirão, que nunca esteve na Liga 2 e uma vez foi 2.º, quase subiu. Tentei melhorar clubes.
Quando chegou a oportunidade de chegar à Liga Portugal, conseguimos, no Marítimo, além do 6.º lugar, jogar muito bem, ter uma equipa muito competente. No mesmo clube, no segundo ano ficámos em 7.º lugar. Dois plantéis diferentes, os melhores jogadores saíram, mas houve resultados e o que é o que os dirigentes nos pedem? Resultados. Sem ter a mesma qualidade, precisamos de resultados porque se não tivermos, estavamos fora. É a realidade de um treinador, ponto final e vem outro. Sinto-me realizado por mais do que isso, para mim não chega só o resultado, estou à procura de satisfação pessoal e sentir que faço parte do processo de construção de uma equipa. O que mais me agradou foi ter qualidade futebolística com resultados e é isso que procuro neste momento. Quando fui para o Famalicão e Trofense isso foi conseguido, tínhamos estádios cheios do Trofense, Famalicão e Marítimo. Em alguns clubes para onde fui, não me proporcionaram essa emoção e fica esse vazio. Às vezes temos de perceber a realidade que temos. Quando tenho a possibilidade de escolher, como fiz agora, não olho para trás e vou à procura dessa realização pessoal e emotividade. Se eu puder continuar a treinar clubes que tenham isso, vou dar preferência a esses clubes.

- Por fim, pergunto se tem algum arrependimento na carreira?
- Sou uma pessoa orgulhosa e que gosta de andar de cabeça erguida. Saí de alguns clubes por orgulho, por sentir que, se existia dúvida na minha qualidade, sou o primeiro a dizer 'ok, vou embora'. Gosto de sentir as pessoas 100 por cento comigo e, às vezes, não foram as melhores decisões. Não me arrependo disso, é só um aspeto que faz parte de mim, não tiro isso. Acho que me arrependo, isso sim, de arriscar sem necessidade. Treinei várias equipas pela necessidade, porque o presidente apelou ao meu coração e dei passos atrás sem necessidade. Depois de um bom trabalho, treinei equipas de escalão inferior sem necessidade de ir para lá porque sabia que iria ter oportunidade a seguir, pelo menos no mesmo escalão. Arrisquei demasiado e não o devia ter feito, mas foi numa de acreditar que conseguia. Felizmente, tive sempre trabalho e sinto que sou muito mais treinador e estou muito mais preparado para as exigências.
- E qual o seu grande objetivo ainda por cumprir?
- Gostava de treinar equipas para lutar por títulos, seja em Portugal, na Europa, na Ásia, que me proporcionem aquela emoção. Quero jogar Liga dos Campeões e treinar uma seleção mais para a frente, é um objetivo de carreira.
