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Das distritais ao topo do mundo: "Museu LP8" conta histórias através de camisolas

Luís Paiva conta com centenas de camisolas no seu espaço
Luís Paiva conta com centenas de camisolas no seu espaçoRodrigo Coimbra
Na antecâmara da Final Four da Taça da Liga, em Leiria, o Flashscore visitou um espaço cada vez mais icónico na cidade do Lis. O "Museu LP8 - Camisolas com História" é uma referência a nível local e nacional na arte relacionada com camisolas de futebol. E, claro, de histórias, muitas histórias.

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Uma, duas, três, quatro... 345, 346, 347... É possível, mas muito difícil contabilizar todas as camisolas presentes no "Museu LP8", um espaço absolutamente extraodrinário criado por Luís Paiva, um antigo futebolista amador da região de Leiria, que construiu um verdadeiro espaço de culto na garagem da sua habitação na cidade do Lis, que por estes dias recebe mais uma edição da final four da Taça da Liga.

"Nada disto foi pensado, planeado ou desejado", começa por contar este belo contador de histórias sobre esta sua grande paixão, em conversa com a equipa de reportagem do Flashscore.

Aquele que era inicialmente um espaço "onde via a bola com os amigos e jogava um ping pong ou uns matraquilhos" transformou-se rapidamente em algo único. Não estamos perante uma mera coleção de camisolas, estamos perante história. "Eu dou muito valor às pessoas, a camisola é apenas o mote para começar uma história com as pessoas", defende.

O espaço balneário criado pelo pai de Luís
O espaço balneário criado pelo pai de LuísRodrigo Coimbra

"Espaço começa a ser reduzido para esta história"

"A field of memories 1988-2012" intitula o ponto de partida deste "museu". Luís Paiva pintou um campo numa das paredes da garagem e por lá pendurou os primeiros quadros com as camisolas dos clubes que representou durante uma "modesta" carreira de mais de duas décadas: UD Leiria, GD Batalha, Cortes, GRAP, ARCUDA, Santo Amaro, Motor Clube, Vilarense, Caranguejeira e Ranha.

Assim que deixou os relvados, sem conseguir atingir o patamar profissional com que chegou a sonhar, este gestor comercial leiriense reavivou uma forte amizade com um antigo companheiro de equipa, hoje jornalista, e passou a acompanhá-lo nos jogos e a conhecer várias pessoas do mundo profissional. "Uma camisola aqui, uma camisola ali", descreve com orgulho por aquilo que conseguiu construir num tão curto espaço de tempo.

Camisolas com muitas (e boas) histórias
Camisolas com muitas (e boas) históriasRodrigo Coimbra

"90% desta história foi criada em três anos". Amigo puxa amigo, camisola atrás de camisola e o número aproxima-se a passos largos do milhar. Dos nomes mais reconhecidos do mundo do futebol - Cristiano Ronaldo e Lionel Messi ou Lampard e Pablo Aimar - aos mais anónimos, da distrital à Primeira Liga, da China ao Togo, de Riade a Benfica, no "Museu LP8" não há distinção. Há espaço para todos e todos são bem-vindos.

Há o cantinho do futsal, do futebol de praia, do feminino, dos eSports... E um muito especial: "Cantinho número 8", um espaço onde coabitam camisolas de Frank Lampard (Chelsea), Ola John (Vitória SC), Diogo Clemente (UD Oliveirense), Tarantini (Rio Ave), Pacheco (Santa Clara), Vieirinha (Wolfsburgo), Laura Luís (SC Braga), Kaká (Real Madrid), Correa (Marítimo, Uribe (FC Porto) e tantos outros. 

O espaço dedicado aos camisolas 8
O espaço dedicado aos camisolas 8Rodrigo Coimbra

Muitas destas camisolas foram utilizadas em jogo e estão assinadas pelos respetivos protagonistas. Acima de tudo, contam as histórias, a história da pessoa que a veste e a história de como chegaram até Leiria. Luís Paiva afasta o rótulo de "colecionador". Não quer ser visto como tal e faz questão de passar essa mensagem a todos os que se cruzaram e continuam a cruzar neste caminho.

"Não sou uma pessoa de cartaz; queria transmitir a mensagem da pessoa por trás do jogador. Isto que tenho aqui é uma história, não é uma coleção de camisolas", atira.

Luís Paiva revela ainda que a sua pretensão não é fazer disto um espaço só seu. A ideia é que alguém agarre neste seu mundo e lhe mostre a luz do dia: "O espaço começa a ser reduzido para esta história. Devia estar disponível para o mundo. Faria a doação disto e colaborava com ideias. Pode ser que alguém um dia agarre nesta ideia. Se não, vou continuar a divertir-me com isto e a criar momentos".

"Está limitado para que a história seja verdadeiramente valorizada e passada como eu gostava que fosse. As camisolas aqui têm vida e são valorizadas; em casa ficam muitas vezes por um mero caixote", reforça.

A camisola de e assinada pelo malogrado Robert Enke
A camisola de e assinada pelo malogrado Robert EnkeFlashscore

Camisola mais antiga data o ano de 1976

A organização e a forma brilhante como tudo está exposto são deliciosas. Estamos perante um mundo em que é muito fácil nos perdermos. Como conseguiu esta camisola? E esta? E aquela? Qual é a história que o liga a esta equipa ou a este jogador? As questões são muitas.

Uma camisola de Robert Enke (Benfica) assinada pelo malogrado guarda-redes alemão ou uma das últimas camisolas que o espanhol José Antonio Reyes vestiu antes do seu fatal acidente rodoviário, passando por uma "simples" camisola da Argentina, assinada por Aimar, Saviola, Garay, Nico Gaitán e Otamendi até a uma do antigo internacional português Dimas, dos seus tempos da Juventus, tudo é motivo de conversa.

Das mais recentes às mais antigas, que voltaram a estar na moda. Qual a mais antiga? "1976". "É esta aqui do Portimonense, da época em que subiram pela primeira vez à Primeira Liga. É a camisola do Lecas que era o número 5, de um jogo que realizou aqui em Leiria contra a UD Leiria".

A camisola de listas brancas e pretas é do Portimonense de 1976
A camisola de listas brancas e pretas é do Portimonense de 1976Rodrigo Coimbra

E a mais difícil de arranjar? "Esta camisola da UD Leiria. Época 1985/86", responde Luís Paiva, sem pensar muito. "Neste momento ando a tentar recolher o máximo de assinaturas dos jogadores desse plantel. 14 ou 15 já assinaram. É a que tem dado mais trabalho", regozija-se.

"Mas hoje não me preocupo tanto com as camisolas; preocupo-me mais em criar momentos e em trazer pessoas para conhecer o espaço", acrescenta.

Luís ao lado da mítica camisola da UD Leiria da época 1985/86
Luís ao lado da mítica camisola da UD Leiria da época 1985/86Rodrigo Coimbra

Questionado sobre a mais especial, Luís conta mais uma história curiosa: "É uma história engraçada. Eu tinha por hábito dizer que era a do Lampard, mas um dia o meu filho disse-me: 'então, foste dizer que a camisola mais especial era a do Lampard? Pensei que fosse a minha'. Eu respondi: 'Ainda não tenho aqui a tua'. Então houve um dia em que ele apareceu com ela e disse: 'pronto, agora já podes dizer que é a minha'", conta, entre risos.

Além de sonhar em passar todo este espólio para um espaço onde todos possam viver esta experiência, Luís Paiva revela que tem mais um desejo: "Gostava de transformar isto num livro, com algumas histórias interessantes. O grande desafio — e já houve conversas sobre isso — era criar, em Portugal, esse tal espaço que falei antes que não existe, onde se pudesse fazer um conjunto de coisas: programas, colóquios, centros de formação..."

Por fim, uma fotografia para eternizar o momento e está na hora de contar esta história aos leitores do Flashscore. E aqui chegamos. "Isto provoca curiosidade". A verdade é que enquanto o "Museu LP8" não está disponível para o público em geral, esperamos que estas linhas e fotografias o ajudem a 'matar' a curiosidade. Até breve, Luís.

Reportagem de Rodrigo Coimbra
Reportagem de Rodrigo CoimbraFlashscore