Rigo, atual seleccionador dos Camarões, terminou a carreira com 36 jogos no torneio africano, enquanto Ayew, filho de Abedi Pelé, tem 34 partidas pelas Estrelas Negras (Black Stars) que entram em campo no domingo, no Estádio Houphouët-Boigny.
No entanto, Song, lendário capitão dos Leões Indomáveis ganhou o título por duas vezes, em 2000 e 2002, enquanto o recorde internacional de Ayew (115 jogos e 24 golos) permanece sem troféus.
"É como se houvesse uma espécie de maldição sobre ele", disse à AFP Claude Le Roy, o primeiro homem a convocá-lo para a seleção nacional, em 2007.
O Sorcier Blond (feiticeiro loiro) aponta em particular a "maldição dos penáltis". Ayew perdeu a final de 2015 contra a Costa do Marfim (0-0, 9-8 nas grandes penalidades), apesar de ter convertido o seu pontapé da marca dos 11 metros, e na edição de 2019, a equipa caiu nos oitavos de final, também nos penáltis perante a Tunísia (1-1, 5-4 no desempate), do qual saiu pouco antes do prolongamento.
"Um troféu com as Estrelas Negras"
Também assistiu do banco à queda desoladora nos míticos quartos de final do Mundial-2010 frente ao Uruguai (1-1, 4-2 após grandes penalidades), aquela com a mão de Luis Suárez, em que Asamoah Gyan falhou um penálti nos últimos segundos do prolongamento.
"Tinha apenas 20 anos, era um bebé e chorei, mas não me apercebi da perda que foi, que se tivéssemos marcado estaríamos nas meias-finais do Campeonato do Mundo", disse Ayew ao Graphic.com.gh antes do Mundial-2022.
"Ganhei a Taça das Nações Africanas e o Campeonato do Mundo de Sub-20 (em 2009), mas o meu único objetivo é ganhar um troféu com a camisola da seleção, é esse o meu objetivo, a minha aspiração, e é por isso que rezo e trabalho arduamente todos os dias", recordou ainda o jogador.
Por seu lado, Le Roy admite: "Ele deveria ter vencido a primeira Taça das Nações Africanas, em 2008, no Gana. Tínhamos a melhor equipa, mas o único lance dos Camarões em 90 minutos perfurou-nos o coração, num canto a nosso favor", referindo-se ao golo de Alain Nkong e a vitória por 1-0 dos Leões Indomáveis na meia-final em Acra.
Le Roy descreve Ayew como "um futebolista completo, que não tem uma velocidade excecional, mas que sabe usar a sua força atlética para recuperar a bola".
"Mentalmente muito forte"
"O André tem um grande jogo aéreo e uma técnica perfeita com o pé esquerdo, é capaz de manter a bola em zonas apertadas. Mentalmente, é muito forte e moralmente exemplar", continuou o treinador que participou em nove edições da CAN e venceu uma, em 1988, com Camarões.
"Quando o chamei, ele tinha 17 anos e fazia questão de marcar território contra jogadores experientes. Ele sabia levantar a voz nos treinos e mostrar que não ia ser menosprezado. Lembro-me de uma briga que ele teve no treino, acho que com o atacante Laryea Kingston", conta Le Roy.
A personalidade forte de Ayew ficou evidente na última CAN. Ficou furioso após o empate 1-1 com o Gabão em que o golo do empate surgiu no final, depois de os gaboneses terem continuado a jogar apesar de os ganeses terem atirado a bola para fora para um jogador ser assistido, na segunda jornada da fase de grupos. Por seu lado, as panteras argumentam que a lesão foi simulada.
Já sem hipóteses de passar à fase seguinte, o Gana perdeu o jogo seguinte contra as Comores (3-2), com Ayew a ser expulso logo aos 25 minutos.
Agora, de regresso à Ligue 1 ao serviço do Le Havre, o capitão do Gana quer vingar-se e voltar a lutar por um título. Em 22 de janeiro, contra Moçambique, poderá receber o título honorário de jogador mais internacional da história da CAN, se disputar os três jogos.