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Dean Furman ao Flashscore: "Esta CAN pode ser a melhor de sempre"

Dean Furman em ação com Mohamed Salah, do Egipto, durante a CAN de 2019
Dean Furman em ação com Mohamed Salah, do Egipto, durante a CAN de 2019Profimedia
Dean Furman (35 anos), antigo capitão da África do Sul, prevê que a Taça das Nações Africanas (CAN) deste ano poderá ser um dos torneios mais competitivos da história da competição.

O evento, que terá início no domingo, 13 de janeiro, com o jogo entre a anfitriã Costa do Marfim e a Guiné-Bissau, contará com a participação de 24 países para se tornarem os novos campeões de África.

A edição de 2021 do torneio foi marcada por muitas surpresas, como a Guiné Equatorial, que acabou com a invencibilidade de 35 jogos da Argélia, atual campeã, e as estreantes Comores, que conseguiram a sua primeira vitória na história da CAN contra o Gana, ajudando a mandar os tetracampeões para casa na fase de grupos.

Furman acredita que a distância entre as nações menores e as tradicionais potências do continente está a começar a diminuir e, por isso, espera que o torneio deste ano, que terá duração de um mês, apresente muitas outras grandes surpresas.

"Nos últimos torneios, vimos que os países de menor expressão estão a começar a causar mais problemas", explicou Furman, em entrevista exclusiva ao Flashscore.

"No passado, essas seleções eram deixadas de lado. Mas o que temos visto recentemente é a concorrência a tornar-se mais forte e os jogos nas fases iniciais a serem mais competitivos. Em 2021, a Argélia chegou ao torneio como campeã, mas nem sequer passou do grupo. Empatou 0-0 com a Serra Leoa na estreia e depois perdeu com a Guiné Equatorial, jogos que se esperava que ganhasse", recordou Furman.

"Obviamente, ainda se espera que um dos grandes nomes tradicionais levante o troféu, mas as pequenas nações estão a causar mais problemas, por isso não se surpreenda se vir alguns resultados surpreendentes nas próximas semanas", acrescentou o antigo internacional sul-africano.

A natureza imprevisível do torneio é evidenciada pelo facto de que houve sete vencedores diferentes da CAN nas últimas sete edições.

"Há muitas seleções excelentes na competição. Muitos dos jogadores que participam estão a competir todas as semanas nas melhores ligas da Europa. Acho que a Nigéria pode ser uma ameaça. Foi alvo de algumas críticas depois de ter empatado os dois primeiros jogos de qualificação para o Campeonato do Mundo, contra o Lesoto e o Zimbabué, mas tem muitos jogadores de topo e espero que chegue ao torneio a todo o gás. O Senegal, que é o atual campeão, também tem jogadores de topo. São sempre fortes, tal como o Gana e alguns outros", analisou Dean Furman.

"Mas penso que o facto de a Costa do Marfim ser o país de origem pode ter um papel importante para eles. O grupo não é dos mais fáceis, com Nigéria, Guiné Equatorial e Guiné-Bissau, mas, se conseguirem passar, acho que têm boas hipóteses", explicou o antigo jogador.

Furman, que disputou 56 partidas pela seleção principal durante a sua carreira, conhece bem o poder do apoio dos adeptos num grande torneio, já que fez parte do plantel da África do Sul no Mundial-2013, realizado no seu país.

O antigo médio falou sobre a influência que isso pode ter.

"Na minha opinião, jogar pelo seu país é a maior honra do futebol, mas há algo diferente quando se joga um grande torneio. Tive a sorte de jogar em três, e sentimos realmente a enormidade do torneio. O escrutínio da imprensa é enorme e a preparação é incrível. É uma sensação muito diferente de jogos como eliminatórias ou particulares. O primeiro Mundial que disputei foi em casa. Todos os jogos foram emocionantes, com 60.000 adeptos em cada partida - sente-se realmente isso em campo", assumiu Furman.

Naquele ano, foi apenas a segunda vez que o torneio foi sediado na África do Sul e a primeira desde 1996, quando os Bafana Bafana sagraram-se campeões africanos pela primeira e única vez na história.

A África do Sul venceu o grupo e chegou aos quartos de final, sendo eliminada por Mali nos penáltis - Furman foi um dos dois jogadores a desperdiçar a cobrança.

Furman (à direita) a jogar pela África do Sul numa partida de qualificação para a AFCON em 2019
Furman (à direita) a jogar pela África do Sul numa partida de qualificação para a AFCON em 2019AFP

"Não fui convocado para o Mundial de 2010, o que me deixou chateado" , revelou.

"Mas três anos depois tivemos a CAN e tive a sensação de ser o país anfitrião de um torneio - foi especial. Não joguei a primeira partida, mas joguei o segundo jogo da fase de grupos e fui eleito o melhor jogador da partida. Eu era relativamente novo na seleção e, por isso, ser eleito o melhor numa partida da CAN, pensei: 'Uau, isso é irreal'. Infelizmente, chegámos aos quartos de final e falhei um penálti", lembrou o antigo médio.

"No segundo Mundial que disputei, eu era o capitão. Foi muito especial para mim. Depois, na final, eliminámos o Egito perante 70 mil adeptos em casa. Vencer um dos favoritos do torneio, que contava com jogadores como (Mohamed) Salah nas suas fileiras, foi muito especial. Lembro-me muito bem desse jogo - estes jogos ficam connosco para o resto da vida", acrescentou.

A última participação de Furman na CAN aconteceu em 2019, quando a África do Sul foi derrotada novamente nos quartos fe final, por 1-2, diante a Nigéria. Os Bafana Bafana não vão além dos oitavos de final desde 2000, mas Furman tem grandes esperanças de que o grupo deste ano - liderado por Hugo Broos, que venceu a CAN de 2017 como treinador dos Camarões - possa fazer melhor desta vez.

"Estamos num grupo difícil", reconhece. 

"A Namíbia tem muitos jogadores que atuam na liga sul-africana, por isso vão estar familiarizados. O Mali é sempre forte, assim como a Tunísia. Mas, apesar disso, a expetativa mínima em casa será a de que a África do Sul saia do grupo. Sei que é difícil, mas a equipa precisa de, no mínimo, passar o grupo, ficar entre os dois primeiros ou tentar um dos melhores terceiros lugares", analisou.

"No nosso dia, acho que temos o talento para vencer qualquer um. E quando se chega à fase a eliminar, tudo muda. Há muito talento na equipa e, na fase final, a pressão vai recair sobre os favoritos, o que significa que os nossos rapazes podem expressar-se. Gostaria de os ver ir mais longe do que alguma vez fui, ultrapassar a fase dos quartos de final e talvez chegar a uma meia-final. A partir daí, quem sabe, tudo pode acontecer", explicou Furman.