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Entrevista com Diogo Queirós: "Tive de fugir de Portugal para me reencontrar como jogador"

Diogo Queirós, jogador do Dunquerque
Diogo Queirós, jogador do DunquerqueDunquerque, Flashscore
Aos 26 anos, Diogo Queirós vive uma das melhores experiências das últimas temporadas. O antigo defesa convertido em médio faz parte da equipa do Dunquerque, treinada pelo português Luís Castro, que está a dar nas vistas na Ligue 2 e chegou às meias-finais da Taça de França, onde vai defrontar o Paris SG. O internacional sub-21 por Portugal falou em exclusivo ao Flashscore sobre a época em solo francês.

- Tem andado por França. Como estão a correr as coisas no Dunquerque?

- Estamos, enquanto equipa, a fazer uma época histórica para o clube. Já batemos imensos recordes e estamos muito felizes. É um trabalho que tem vindo a ser feito desde o início da época com o mister e toda a gente do clube e estamos satisfeitos. Queremos ir até ao fim nas competições em que estamos inseridos.

- Na Taça calharam com o gigante PSG...

- Não foi o sorteio mais fácil, mas vamos encarar como encarámos vários adversários fortes que nos apareceram pela frente. Já eliminámos três equipas da Ligue 1, duas delas jogavam na Liga dos Campeões e a esperança é a última a morrer. Vamos entrar em campo a acreditar que podemos eliminar o PSG, alcançar a final e sonhar com o troféu.

- É verdadeiramente a história de David contra Golias.

- É um bocadinho isso. Eles são das melhores equipas do mundo, calhou-nos a nós jogar contra eles e de certeza que vamos dar o nosso melhor porque no final de contas são 11 contra 11, é um só jogo e tudo pode acontecer no futebol como já foi demonstrado muitas vezes.

Diogo Queirós celebra triunfo do Dunquerque
Diogo Queirós celebra triunfo do DunquerqueDunquerque

"Trabalho todos os dias para chegar onde acho que mereço"

- Encontrámo-nos em fases menos boas, as lesões não o deixavam no Famalicão. Já passou o mau tempo?

- Sim, foram tempos negativos. No ano passado tive de rumar à Roménia, fugir um bocado de Portugal, de onde me encontrava, para voltar a jogar, ter minutos e me reencontrar como jogador. Correu bem, a época foi boa a nível pessoal e consegui, graças à época passada, voltar aos grandes países da Europa, como a França, e com a época que a equipa está a fazer estou muito feliz com a minha decisão.

- Começou no Leixões, cresceu no FC Porto, foi capitão da equipa B, vencedor da Youth League, campeão europeu sub-19 por Portugal. Foram grandes momentos no final da transição para o futebol sénior.

- Sim, acho que a maioria das pessoas sabe do meu trajeto na formação. Foi um trajeto vitorioso, com muitos títulos e toda a gente pensava que iria ser assim depois de passar para o patamar de sénior, mas infelizmente, até agora porque continuo a acreditar que posso chegar lá, não foi o que as pessoas estavam à espera. Cada um tem o seu caminho, o meu tem sido esse. Trabalho todos os dias para chegar onde acho que mereço e onde a minha qualidade pode atingir.

- O que faltou naquele processo de transição para se conseguir afirmar nas equipas principais?

- Não sei. Ao longo destes anos, tenho debatido comigo próprio e com pessoas próximas de mim. Acho que são muitos fatores, alguns podem ter dependido de mim, outros que eu não podia fazer nada para alterar, mas que me levaram ao caminho que tenho percorrido. Como já disse antes, é passado e não vale a pena estar muito focado no que podia ter sido e que passou, mas sim focar-me no que posso controlar e fazer neste momento.

Os números mais recentes de Diogo Queirós
Os números mais recentes de Diogo QueirósFlashscore

- Até porque ainda tem 26, tem muito pela frente. Olhando para trás, e falando em Diogo, aquela transição de junior para sénior foi uma verdadeira equipaça de Diogos - Costa, Dalot, Leite, Queirós e o Bessa. Como é que se tratavam em campo?

- Era engraçado porque só o Diogo Costa é que tratávamos por Diogo, de resto era sempre pelo apelido. Não era muito difícil.

- Foi uma geração riquíssima em termos de formação do FC Porto, além dos Diogos o Baró também apareceu nessa equipa que ganhou a Youth League. Foi um bom sítio para se formar como jogador e crescer como homem?

- Sim, na minha opinião foi o sítio perfeito. Conquistei imensa coisa, aprendi imenso, aprendi as minhas bases enquanto jogador e enquanto homem. Acho que foi o melhor sítio possível.

- Recordo-me de o ver a jogar com a braçadeira de capitão e a ser um patrão da defesa. Revê-se nesse papel de líder em campo?

- Sim, acho que se pode ser líder de muitas formas e eu considero que a minha forma de ser e características como pessoa e são naturais e destinadas a isso. Muitas das coisas que faço não estou a pensar, saem naturalmente. Acredito que para as pessoas de fora possa parecer que sou um líder e orgulho-me que possam pensar isso. É a minha forma de ser na vida.

Diogo Queirós agora joga no meio-campo
Diogo Queirós agora joga no meio-campoDunquerque

"FC Porto vai dar a volta por cima e voltar a ser a maior potência de Portugal"

- Está em França. Como tem visto a Liga Portugal e o seu FC Porto, que passou aqui uma fase inédita e, mais recentemente, passou pelo desaparecimento de Pinto da Costa.

- Sinceramente, tem sido uma época bastante complicada para o FC Porto. Acho que são muitas alterações, mudanças drásticas a acontecer e que têm afetado bastante o clube. Sinto que o clube está num momento bastante afetado, mas acredito que as pessoas que trabalham no clube e os portistas não deixam de acreditar e de certeza que o clube vai dar a volta por cima e voltar a ser a maior potência de Portugal. Neste momento, está num processo de transição e é compreensível que seja complicado. Espero que mude rapidamente.

- Como esse espírito de liderança, via-se a vestir a camisola do FC Porto?

- Simplesmente via-me a vestir a camisola do FC Porto porque foi um sonho que sempre tive, não consegui alcançá-lo enquanto estive lá e claro que fico triste por não ter conseguido alcançar esse objetivo, mas nunca se sabe o que é que a vida nos traz. Até pode ser que venha a conseguir isso no futuro.

- No imediato, o que é que o Diogo está a desejar para a sua vida desportiva.

- A minha ida para a Roménia não só foi uma mudança para voltar a jogar, ter minutos e voltar a reencontrar-me. Lá assumi uma nova posição no campo, além de defesa-central, que sempre fui, lá joguei grande parte da minha época, e foi aí que consegui mostrar-me, a médio defensivo, e foi para essa posição que eu vim aqui para França com o mister Luís Castro. É nessa posição que atuo nesse momento.

- Sente-se bem? O Diogo era um central, sim, mas sabia sair a jogar.

- Possivelmente por ter essas características é que o treinador que eu tive na Roménia viu em mim que eu podia ser um bom número seis. Juntando essa característica, considero que tenho uma boa leitura de jogo, boa antecipação e capacidade com bola, considero que consigo executar bem essa posição e é nessa posição que eu jogo este ano no Dunquerque. Respondendo à pergunta, como joguei no ano passado nesta posição quero continuar a evoluir e a desenvolver as minhas capacidades nesta nova posição e ambicionar mais e mais alto. Estando no Dunquerque, já foi um passo em frente comparando com a Roménia. Ambiciono mais e melhor sempre com o intuito de continuar a melhorar nesta nova posição em que eu estou.