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Exclusivo com Rui Orlando: "Eternamente grato" pela Taça e a "selva" do futebol de formação

Rui Orlando levantou a Taça de Portugal apesar de estar lesionado
Rui Orlando levantou a Taça de Portugal apesar de estar lesionadoArquivo Pessoal
O entrevistado Flashscore é Rui Orlando, formado no 1.º de Maio de Figueiró e Vitória SC, com muitos jogos realizados no principal escalão com Moreirense e Académica de Coimbra, com quem venceu a taça de Portugal em 2011/12. Nesta entrevista ao jornalista Vitor Tomé, fala do passado de jogador e do presente ligado à formação.

Rui Orlando abriu o livro em conversa com Vítor Tomé, comentador do Flashscore, para falar sobre a conquistada Taça de Portugal numa altura em que viveu a pior altura da carreira, com uma lesão complicada no tendão de Aquiles. 

Hoje em dia, o antigo defesa central é coordenador de formação do clube que o fez nascer para o futebol, o 1.º de Maio de Figueiró, e não tem ficado com boas sensações daquilo que se vive no futebol de formação.

- Olhando para trás, como recordas a tua carreira?

- Ora bem, foi uma carreira algo sofrida, trabalhei muito para a conseguir e tive questões relacionadas com lesões graves. Tive também um revés na carreira, estava no primeiro escalão, regressei à 2.ª Divisão B (terceiro escalão) e, aos 26 anos, voltei à Primeira Liga. Houve altos e baixos, mas deveu-se muito ao trabalho, sem dúvida.

- Como defesa central apanhaste a nata dos avançados, algum que tenha sido mais difícil de marcar?

- Todos... Vivi o futebol numa era de grandes jogadores. Tanto no Benfica, como no Sporting, como no FC Porto... Liedson, Falcão, Jackson Martínez, Hulk, Cardozo... Não consigo nomear um porque eram todos muito bons.

Depois da formação no Vitória SC, Rui Orlando atuou pelo Fafe
Depois da formação no Vitória SC, Rui Orlando atuou pelo FafeArquivo Pessoal

- Houve algum jogo na tua carreira que te marcou?

- Do ponto de vista positivo, houve vários, para mim e para a equipa. Há um que fica, pelo aspeto negativo, o Académica-Vitória SC em que rebentei o meu tendão de Aquiles.

- Tiveste noção da gravidade da lesão quando isso aconteceu? 

- Tive, porque já vinha de um ano praticamente parado por causa de problemas no tendão de Aquiles, fui sujeito a cirurgia, mas as coisas não correram bem. Quando me estava a sentir melhor, não estava a 100%, voltei a jogar e logo no primeiro jogo que faço, aos 15 minutos, rebento o tendão de Aquiles. Tive logo noção que o pior tinha acontecido, já vinha de um ano de calvário...

- Isso para um jogador de futebol, psicologicamente afeta...

- Afetou muito. A lesão por si só já é difícil, mas tendo em conta os antecedentes, a cirurgia anterior e outro problema associado ao tendão, foi-me dito textualmente para eu procurar outra profissão porque dificilmente iria voltar a jogar. Isso custou muito...

- Falando de coisas boas, venceste uma Taça de Portugal com a tua Académica de Coimbra. Foi o ponto mais alto da tua carreira?

- Na conquista de troféu, sim. Fazia parte de um grupo que ganhou a Taça de Portugal ao Sporting, mas lá está, veio no seguimento da lesão. Estava lesionado, tinha sido operado quatro meses antes e não participei. Levantei a Taça como capitão de equipa, os meus colegas tiveram a amabilidade de me proporcionar esse momento. Estou eternamente grato, é uma sensação única.

- Levantar uma Taça de Portugal no Estádio do Jamor, é uma memória que nunca mais se apaga...

- É um evento carregado de tradições. O estádio, apesar de não ter as melhores condições do mundo, há ali uma carga de história e quando éramos mais pequenos, toda a gente parava para ver a Taça de Portugal. As pessoas estavam agarradas à televisão. Viver aquele momento foi emocionante, muito muito bom.

- Acabas a carreira como futebolista, viras treinador, mas pouco tempo. Não te adaptaste à função?

- Aconteceu o que disse há pouco... Não fiz o desmame de gostar de jogar, de estar no balneário, da competição, de me sentir útil. A minha preparação como treinador, tinha acabado de tirar o segundo nível, foi feita algo à pressão, acabei por aceitar. Não digo que não possa voltar, já recebi esses convites, mas neste momento ainda não passa por aí (o futuro)...

- Neste momento és coordenador de formação do clube que te formou, o 1.º de Maio de Figueiró. É uma função interessante como ex-futebolista?

- Sim, eu aceitei voltar ao clube como a forma que encontrei de retribuir o que o 1.º de Maio de Figueiró fez por mim. Na altura, fizeram esforços para eu estar no futebol, fizeram esforços para que eu pudesse sair para o Vitória SC na altura. Se é um cargo interessante? É. O futebol profissional é muito diferente do futebol de formação, ser coordenador tem muitas nuances, muitas preparações, visões, há muita coisa em jogo. A organização é difícil quando envolve muita gente, entre atletas, diretores e treinadores. De repente está tudo bem, como de repente está tudo mal. Fazer esta gestão com todos não é fácil e eu nunca tinha tido experiência nenhuma, estou a aprender com os problemas que vão surgindo e tentar organizar o clube da melhor forma. Está melhor do que há três ou quatro anos, mas preciso de ajuda de todos também para estar em cima dos problemas. Tem-me dado sentimento de muita pressão e tristeza por alguns motivos, não só dentro do clube, mas problemas que giram à volta dos clubes. Agora chego à conclusão que a formação é uma selva.

Rui Orlando com a medalha de vencedor da Taça de Portugal
Rui Orlando com a medalha de vencedor da Taça de PortugalArquivo Pessoal

- Era isso que ia perguntar, como está a formação em Portugal?

- Não tenho conhecimento profundo, falo do meio em que estamos inseridos. Mas é difícil, porque tem havido, com o Figueiró, há clubes que se sujeitam a tudo, se tiverem que mentir ou fazer uma trapaça, ou enganar na cara fazem-no com facilidade. Isso, para mim, foi chocante. Não estava à espera que acontecessem este tipo de coisas, é transversal em quase todos os clubes.

- Que maior conselho podes dar para os jovens do 1.º de Maio e para os ouvintes do Flashscore?

- O melhor conselho que posso dar vem do que me moveu para andar no futebol. Se querem muito uma coisa, vão atrás. Isto implica fazer de tudo para ser melhor a cada dia, mais respeitador com o treinador, o diretor, os adeptos, os adversários, os árbitros... Ao querer muito uma coisa, somos capazes de aguentar tempestades para conseguir o nosso objetivo. Foi isso que me moveu. Quando a questão estava em cima da mesa de ir do Figueiró para o Vitória SC, era um salto, eu disse que tinha de ser, contra tudo e contra todos. Era um sonho, algo que me dava prazer e ambição. Se querem muito uma coisa, vão atrás.

- Muito obrigado Rui Orlando pela entrevista ao Flashscore, foi um prazer contar com o conhecimento

- Obrigado eu e continuação de bom trabalho.

Rui Orlando em ação pela Académica com a braçadeira de capitão
Rui Orlando em ação pela Académica com a braçadeira de capitãoArquivo Pessoal