Abel Ferreira, nona coroa em trajeto de competência e resiliência
Recorde as principais incidências da partida
Num país onde muitos treinadores caem à primeira série negativa, onde reina a impaciência e é obrigatório vencer para ontem, o técnico luso, chegado em outubro de 2020 para suceder a Vanderlei Luxemburgo, fechou com sucesso a quarta temporada, e terceira completa, ao serviço do verdão.
Abel Ferreira junta dois cetros brasileiros a duas vitórias na Taça Libertadores (2020 e 2021), a Champions da América do Sul, uma na Supertaça sul-americana (2022), uma na Taça do Brasil (2020), uma na Supertaça brasileira (2023) e duas no Paulistão (2022 e 2023), sem esquecer uma final no Mundial de clubes.
O campeonato brasileiro de 2023 chegou a estar entregue ao Botafogo, que encantou até Luís Castro desertar para o Al Nassr, e o Palmeiras pareceu desistir quando apostou tudo, em vão, na reconquista do trono sul-americano, mas Abel Ferreira ficou, não deixou a equipa cair e voltou a ser premiado, indiferente à incompetência alheia.
Sem o destaque de outros fora do campo, e com um feitio pouco tranquilo junto das quatro linhas, o treinador nascido em Penafiel em 22 de dezembro de 1978, há quase 45 anos, reforça, inquestionavelmente, o estatuto de referência entre os atuais técnicos a laborar no Brasil, onde poderá continuar.
“Não sou ingrato”, frisou após a penúltima jornada do campeonato brasileiro, quando questionado sobre o futuro.
Nome para a história do Palmeiras
A gratidão pela oportunidade que, há pouco mais de três anos, lhe foi dada poderá ser decisiva para a continuidade de Abel Ferreira, que, aconteça o que acontecer, já inscreveu o seu nome a letras de ouro na história do Palmeiras e do futebol brasileiro e sul-americano.
“Sou um homem de convicções, gosto de seguir os meus instintos, de me desafiar. Quero acrescentar títulos na minha carreira e só estando com os melhores isso é possível”, disse o técnico luso à chegada ao Palmeiras, explicando ao que vinha. Não se enganou.
Para trás tinham ficado passagens pelos juniores e a equipa B do Sporting, as formações secundária e principal do SC Braga e os gregos do PAOK, depois de um percurso como lateral direito em que também representou arsenalistas e leões, depois de Penafiel e Vitória de Guimarães, mas sem conseguir o estatuto de internacional AA.
Abel Ferreira cumpriu toda a formação como jogador no clube da terra, o Penafiel, que também representou como sénior (1997/98 a 1999/2000), rumando depois ao Vitória de Guimarães, conciliando a carreira de futebolista com o curso de Educação Física, no Instituto Superior de Ciências da Educação (ISCE), em Felgueiras.
Dos vitorianos (2000/01 a 2003/04) passou, já licenciado e com estágio feito como professor, ao rival Sporting de Braga em 2004/05 e, a meio da época seguinte (2005/06), saiu para o Sporting, no qual esteve até 2010/11 e pelo qual venceu duas edições da Taça de Portugal e duas da Supertaça Cândido Oliveira.
O fim da carreira de jogador
Uma rotura dos ligamentos cruzados acabou-lhe com a carreira de futebolista, aos 32 anos, e fê-lo iniciar, a de treinador, nos juniores do Sporting, pelos quais se sagrou campeão nacional em 2011/12, com jogadores como Ricardo Esgaio, Ruben Semedo, João Mário, Iuri Medeiros ou Bruma.
Depois de nova época nos juniores, em 2012/13, passou para a equipa B, em 2013/14, mas acabou demitido pelo então presidente leonino Bruno de Carvalho, e regressou a Braga, em fevereiro de 2016, para a equipa B.
Em 2016/17, na terceira época, acabou por ascender à formação principal, como interino, após a saída de Jesualdo Ferreira, estreando-se em 18 de dezembro de 2016 com um triunfo por 1-0 sobre o Sporting, de Jorge Jesus, em Alvalade.
“Fomos muito organizados e, coletivamente, fomos mais forte e eficazes. Em três dias, fiz o que o presidente me pediu. Estou extremamente contente com o desempenho que tivemos. A grande mensagem que passei foi que era possível ganhar”, disse Abel.
Com a contratação de Jorge Simão, voltou à equipa B, mas, pouco depois, em abril de 2017, foi de novo chamado ao conjunto principal, para cumprir as últimas quatro rondas da Liga.
O início no SC Braga
Abel Ferreira prosseguiu ao comando do SC Braga em 2017/18 e 2018/19, somando dois quartos lugares no campeonato, para, no início da época 2019/20, rumar ao estrangeiro, mais precisamente ao PAOK.
“Foi tudo muito rápido, tinha dado dois dias de folga e em dois dias tudo se precipitou. Foi um convite irrecusável para todas as partes. Não foi fácil para ninguém, foi um dia de muitas emoções”, afirmou, em 01 de julho, dia em que assinou por três anos com os gregos.
No conjunto de Salónica esteve pouco mais de um ano, saindo em 31 de outubro de 2020 para o Palmeiras, pelo qual se estreou em 05 de novembro, com um triunfo caseiro por 1-0 sobre o Bragantino, na segunda mão dos oitavos da Taça do Brasil.
Face à pandemia da covid-19, a época só fechou em 2021 e foi em 30 de janeiro que viveu o primeiro grande momento no verdão, ao conquistar a Taça Libertadores, com um triunfo por 1-0 sobre o Santos, no Maracanã, selado por Breno Lopes, aos 90+9 minutos.
A Libertadores
Depois do primeiro título como sénior, ganhou em março de 2021 a Taça do Brasil, ainda referente a 2020, e, na segunda época, conquistou nova Libertadores, perante o Flamengo, com uma vitória por 2-1 após prolongamento, selada por Deyverson, aos 90+5 minutos.
Ainda assim, ficou a amargura de finais perdidas, na Supertaça sul-americana, Taça do Brasil, Paulistão e, sobretudo, no Mundial de clubes, face ao Chelsea, por 2-1, num jogo decidido no tempo extra, aos 117 minutos, por um penálti de Kai Havertz.
Em 2022, arrebatou o Brasileirão e o Paulistão, feitos que repetiu em 2023, sendo que o ano passado também venceu a Supertaça sul-americana e na presente conquistou ainda a Supertaça brasileira, com um 4-3 ao Flamengo. E já aponta ao 10.º cetro.