O novo modelo trouxe investimentos milionários e permitiu que Atlético e Botafogo se colocassem na luta pelos principais títulos do Brasil e do continente.
As duas SAF fizeram os alvinegros deixarem uma realidade financeira desfavorável e uma certa distância na luta por títulos de expressão para contar com contratações desejadas por muitos, que surtiram efeito dentro de campo. Quem não gostaria de contar com jogadores da qualidade de Hulk, Paulinho, Luiz Henrique e Igor Jesus nos plantéis?

Com uma nova mentalidade, a SAF prioriza o balanços positivos e deixa de lado, muitas vezes, a paixão que desperta os adeptos e que também esteve presente no coração de presidentes. A realidade a partir desta mudança é outra.
No Atlético-MG, a SAF surgiu em 20 de julho de 2023 pelo nome dos 4 R's: Rubens Menin, Rafael Menin, Renato Salvador e Ricardo Guimarães, todos conselheiros de longa data.
O quarteto assumiu a gestão do clube, que tinha uma dívida superior a 2 mil milhões de reais (327 milhões de euros), marcando presença física e financeira nos bastidores desde 2019, quando o presidente ainda era Sérgio Sette Câmara.
Empréstimos feitos sem juros foram uma mão na roda para contratações que fizeram o Galo levar os títulos da Série A e da Taça do Brasil em 2021. Para fechar os benefícios, o Atlético contou, finalmente, com seu estádio próprio, entregue em 2023.
Nem tudo são flores
Ao mesmo tempo em que a claque atleticana é grata pelo investimento feito, críticas não faltaram pelos tropeções.
A Arena MRV, novo estádio do clube, foi entregue com diversos problemas, que foram alvos de críticas não somente da imprensa como dos próprios jogadores, incomodados com o estado do relvado de uma arena nova em folha.
A acústica também é um problema recorrente, que ainda tenta ser resolvido. As visitas a algumas das principais arenas do mundo e muitos milhões à disposição não foram suficientes para o Atlético-MG satisfazer os adeptos sobre a nova e tão esperada casa.
Conhecido pelo fanatismo da claque, o clube virou motivo de piada por muitos ao instalar microfones e caixas de som que pudessem reverberar, em maior potência, o apoio que saía da garganta dos atleticanos.
Insensibilidades
Não bastando as falhas estruturais, a gestão ainda perdeu a mão em ações que mostraram falta de bom senso. No clássico contra o Cruzeiro em 2023, funcionários do clube tentaram impedir que o rival colocasse a bandeira na mesa da conferência de imprensa, quando o espaço ali era destinado à entrevista dos celestes. O não cumprimento levou o conjunto da casa desligar o microfone do espaço para impedir a realização da entrevista pós-jogo.
Um adepto e morador de rua, com perfil sócio-económico bem diferente dos que se acostumaram a frequentar a Arena MRV, foi retirado do estádio por estar a incomodar os que estavam ao seu redor, quando dançava sozinho e alegre nas cadeiras, causando visível desconforto aos adeptos próximos. O clube se justificou alegando "conduta inadequada" do adepto, facto que foi negado por alguns dos que presenciaram a ação. A Direção, posteriormente, reconheceu o erro e pediu desculpas pelo incidente.
O jornalista Fred Melo Paiva, crítico dos 4 R's, teve seu rosto do mural do estádio apagado, após colunas de opinião não muito bem recebidas pela gestão, que foi na direção contrária à democracia que marca a história do clube. O gesto demonstrou que opiniões divergentes a quem comanda a instituição não são bem-vistas nem aceitas.

Transformação do Glorioso
A chegada de John Textor ao Botafogo, quando o emblema ainda disputava a Série B de 2021, fez o clube dar um salto de 180º não somente em sua estrutura, mas também em nível competitivo. Depois de anos de sofrimento, o Glorioso entrou na lista de favoritos.
"Ressuscitámos um clube histórico da falência na segunda divisão para lutar por campeonatos no topo da Série A", disse Textor, em nota, após aquisição de 90% das ações do Botafogo.
A transformação botafoguense, dentro e fora de campo, aconteceu em tempo recorde, com o clube a lutar pelo título brasileiro e continental apenas três anos depois. "O nosso planeamento sempre foi ser competitivo, aliado à sustentabilidade financeira", indicou Thairo Arruda, CEO do Bota, em entrevista ao Flashscore Podcast.
"Depois do ano passado, quando tivemos sucesso de receita e com redução de despesas, ficou mais fácil focar no ser competitivo. Neste ano, vamos bater recorde de receitas novamente, temos os passivos equalizados", declarou.
"Não tínhamos estrutura para treino e hoje temos equipamentos de alta performance. Isso impacta nos resultados dentro de campo, nos permite investir e fazer os jogadores estarem mais bem preparados. Eu considero este o turn-around mais importante do mundo do futebol, mesmo sem ainda conquistar um título", completou o dirigente.
Acusações sem prova e atenção dividida
John Textor também comanda clubes como Crystal Palace, da Inglaterra, além do Lyon, da França, e o Molenbeek, da Bélgica.
O empresário norte-americano foi além de gerir o clube carioca. As polémicas declarações sobre manipulação de resultados ganharam espaço na imprensa e criaram atrito com representantes de outros clubes, a exemplo de Leila Pereira, presidente do Palmeiras.
Textor afirmou possuir em mãos um relatório, que comprova os resultados combinados no futebol brasileiro em 2022 e 2023. Tal documento acabou por nunca ser apresentado, inclusive na CPI onde prestou depoimento. A situação soou como desculpa para o insucesso do Botafogo dentro das quatro linhas. O mandatário chegou a pedir a renúncia de Ednaldo Rodrigues, presidente da CBF.
Para muitos adeptos, o que vale são títulos e bolas na rede. Textor foi o responsável pelas maiores contratações da história do clube, colocando a mão no bolso para fazer o nível técnico da equipa subir de forma absurda. Somente em 2024, foram investidos mais de 323 milhões de reais (52 milhões de euros) pelo Glorioso.
A atenção de Textor com outros clubes, ao mesmo tempo, não é tão bem-vista pelas bancadas. O médio argentino Almada, por exemplo, chegou em 2024, com sua despedida já pré-definida para o Lyon, outro clube que pertence ao empresário.
A facilidade de transação entre os clubes que são de propriedade do norte-americano desanima alguns botafoguenses, que sentem na pele que o que fala mais alto é a questão comercial e económica.
Se for mais interessante para Textor priorizar um dos clubes europeus, isso será feito sem pestanejar, deixando os adeptos botafoguenses dececionados por não receberem o valor desejado.
A despromoção provisória do Lyon para a segunda divisão francesa pode ser evitada com ajuda do Botafogo. Uma página que, se confirmada, não será esquecida tão cedo pelas bancadas que cansaram de fazer seu papel no Nilton Santos e que se acostumam, agora, com tempos de glória não tão comuns nos últimos anos.