O conflito estourou logo após o segundo golo do conjunto brasileiro, quando Navarro teve uma altercação com o médio paraguaio Damian Bobadilla. De acordo com os companheiros de equipa do jogador de Córdoba, Bobadilla terá proferido um insulto discriminatório, chamando-lhe "venezuelano faminto". Esta frase, segundo o testemunho de Federico Girotti, fez com que Navarro chorasse e quase abandonasse o relvado em sinal de repúdio.
O árbitro do jogo, o chileno Piero Maza, não sancionou a ação, pois não viu nem ouviu a troca de palavras, e o VAR também não interveio. No entanto, a situação agravou-se fora da arena desportiva: Navarro dirigiu-se à Polícia Militar no estádio para apresentar uma queixa formal sobre o incidente. Segundo a imprensa brasileira, quando os policiais foram procurar Bobadilla no vestiário local, o jogador já havia saído sem prestar depoimento.
Horas depois do jogo, o próprio Navarro se manifestou nas redes sociais com uma mensagem forte:
"Gostaria de poder ter nas minhas mãos a solução para a fome que o meu país está a passar. Espero que Deus me dê abundância para poder ajudar. Penso que não há muito que possa ser feito contra a pobreza mental. Nunca me envergonharei das minhas raízes, irei até às últimas consequências perante o ato de xenofobia que vivi hoje no Brasil às mãos de Damian Bobadilla. Não há lugar para discursos de ódio no futebol".
O Club Atlético Talleres não tardou a apoiar o seu jogador. Através de um comunicado oficial, a instituição expressou o seu "mais firme repúdio pelo ato de xenofobia sofrido por Miguel Navarro" e reafirmou o seu compromisso com os valores do respeito, da integração e da unidade. " Estamos orgulhosos de ti e das tuas origens, todo o Talleres está contigo", conclui a mensagem.
O defesa do Talleres , Augusto Schott, também se manifestou após a partida: "Quero falar sobre um ato de racismo que sofremos. Isto magoa-nos porque estamos num lugar onde se promove muito a luta contra a discriminação, mas não se age com a mesma força quando ela atinge nosso próprio povo".
Este não é o primeiro incidente envolvendo o Talleres no Morumbi. Em 2024, os guarda-redes Guido Herrera e Lautaro Morales foram detidos pela polícia local após uma discussão, o que suscita preocupações no clube quanto à repetição de situações anti-desportivas.
Até o momento, nem o São Paulo nem o jogador acusado fizeram uma declaração oficial. Bobadilla deverá prestar depoimento às autoridades nas próximas horas. Enquanto isso, o Talleres está avaliando ações junto à CONMEBOL, que vem promovendo campanhas contra o racismo e a discriminação em todos os torneios que organiza, embora esses esforços pareçam insuficientes diante de casos concretos como este.
O futebol sul-americano enfrenta mais uma vez o desafio de agir com firmeza contra o discurso de ódio. O que aconteceu no Brasil é um sinal doloroso de que ainda há um longo caminho a percorrer para erradicar a discriminação em campo.