Cerca de 20 pessoas ficaram feridas, algumas com arma branca, segundo testemunhas, sem que até ao momento as autoridades argentinas tenham fornecido informações oficiais sobre o estado de saúde das pessoas que tiveram de ser hospitalizadas.
Perante a "gravidade do sucedido", que incluiu o "inaceitável linchamento de chilenos", o presidente do Chile, Gabriel Boric, anunciou esta quinta-feira que enviará à Argentina o seu ministro do Interior, Álvaro Elizalde, para acompanhar os feridos e supervisionar a situação dos detidos.
"A violência não tem nenhuma justificação, de nenhum lado, e vamos proteger os direitos dos nossos cidadãos sem prejuízo das responsabilidades que possa estabelecer a justiça", escreveu na rede social X.
Adeptos de ambas as equipas enfrentaram-se nas bancadas do Estádio Libertadores de América, casa dos Diabos Vermelhos, no sul de Buenos Aires, com golpes de paus e punhos, numa feroz briga da qual até um adepto - aparentemente chileno - tentou escapar, atirando-se para o vazio a partir da bancada superior, depois de ter sido encurralado por outros adeptos.
"As pessoas que estão no hospital são cinco e uma delas está grave" devido a ferimentos de arma branca, disse na madrugada de quinta-feira o embaixador do Chile na Argentina, José Antonio Viera-Gallo, à rádio chilena ADN Radio.
Segundo o embaixador, a pessoa que saltou para o vazio está fora de perigo, porque um telhado amorteceu a sua queda.
"Violência inusitada"
O caos, que provocou o cancelamento do jogo, começou quando adeptos da Universidade de Chile lançaram projéteis, como paus, garrafas e cadeiras, das bancadas superiores para a parte inferior, onde foi colocada a claque do Independiente, constatou um jornalista da AFP presente no local.
"Retiravam os artefatos da casa de banho e atiravam-nos para a bancada, uma violência inusitada. As prevenções que tinham sido tomadas eram as lógicas. Aqui ficou claro o começo do problema com um só público", disse Néstor Grindetti, presidente do Rey de Copas argentino.
Uma fonte do Independiente disse à AFP sob reserva de identidade que o total de detidos chega a "125".
O subsecretário do Interior do Chile, Víctor Ramos, informou sobre 19 chilenos feridos e 107 detidos. Segundo o embaixador, entre eles há três mulheres e cinco menores.
"Foi feita uma inspeção visual do local onde aconteceram os factos e foram solicitados os relatórios aos organismos de segurança correspondentes, assim como também as câmaras de segurança do estádio", afirmou a fonte argentina.
A investigação pelos factos violentos está a cargo de investigadores da Unidade Fiscal 4 de Buenos Aires.
"A libertação ou imputação de cargos depende do Ministério Público Fiscal e dos factos que se imputem a cada um deles", disse esta quinta-feira, às portas da procuradoria, Ariel Alarcón, da polícia de investigação do Chile.
"O compromisso jurídico será determinado pelas autoridades jurídicas da Argentina. Podem ser libertados ou processados no decorrer do dia ou amanhã", acrescentou.
Os incidentes ocorreram quando a partida de volta dos oitavos estava 1-1. O árbitro suspendeu temporariamente o jogo no início da segunda parte, ao minuto 48. Depois foi cancelado pela CONMEBOL, que deverá agora comunicar o resultado final e determinar as eventuais sanções para ambos os clubes.
Na primeira mão os chilenos tinham vencido por 1-0.
Organização questionada
Pelo menos 650 polícias e seguranças privados foram destacados para a operação de segurança, sem que isso impedisse a brutal confrontação. Testemunhas relataram que os efetivos demoraram a entrar na bancada onde ocorreram os primeiros incidentes.
O próprio presidente do Chile questionou a logística da partida minutos depois dos factos, "desde a violência nas barras até à evidente irresponsabilidade na organização".
Os jogadores da Universidade de Chile deixaram esta quinta-feira o hotel onde estavam hospedados em Buenos Aires, rumo ao aeroporto metropolitano, sem prestar declarações.
"Trataram-nos muito mal, foi uma emboscada, ninguém deveria passar por isto por causa de uma partida de futebol", disse à imprensa no aeroporto um adepto chileno, identificado como Jonathan, que viajou para assistir à partida com a sua esposa.