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Sul-Americana: Racing e Cruzeiro reeditam finais dos anos 1990 após chegarem ao fundo do poço

Racing e Cruzeiro medem forças no Paraguai
Racing e Cruzeiro medem forças no ParaguaiConmebol Sudamericana/X/Reprodução
Racing e Cruzeiro disputam este sábado, no estádio General Pablo Rojas, em Assunção, no Paraguai, a final da Taça Sul-Americana. Será um espécie de tira-teimas entre os tradicionais clubes do futebol sul-americano, que se encontraram em duas decisões da Supertaça da Libertadores nos anos 1990, com uma conquista para cada lado.

Acompanhe as incidências da partida

A última final internacional do Racing foi há 32 anos, justamente o confronto contra o Cruzeiro na Supertaça da Libertadores de 1992. Naquela ocasião, o conjunto mineiro levou a melhor sobre os argentinos, goleando na primeira mão, no Mineirão.

Na segunda, a equipa argentina levou a melhor, vencendo por 1-0. Mas, pela larga vantagem construída na primeira partida, o Cruzeiro ficou com a taça. 

A vitória celeste significou uma vingança, já que o Cruzeiro perdeu a Supertaça de 1988 para o mesmo Racing. No primeiro duelo, em Avellaneda, no El Cilindro, "La Academia" venceu por 2-1. Na segundo, no Mineirão, o Cruzeiro não conseguiu superar o Racing, empatando 1-1.

Esse, inclusive, foi o último título internacional da história do clube argentino, que seria vice-campeão da Supertaça do ano seguinte, quando perdeu para o Nacional, do Uruguai. 

Eles recusaram dizer que era o fim

Racing e Cruzeiro regressaram ao cenário internacional depois de viverem praticamente o "fundo do poço". Em 1999, o Racing esteve à beira do abismo. A Justiça da Argentina decretou a falência do clube devido a uma crise financeira sem precedentes.

"La Academia" esteve muito próximo da extinção. A bem da verdade, o clube teve decretado o seu fim, mas os adeptos do Racing não admitiram tal destino. Um momento simbólico aconteceu no dia 7 de março de 1999, quando os fanáticos do clube de Avellaneda comparecem ao estádio "El Cilindro" para a abertura do Torneio Clausura. 

Como o clube tinha sido "extinto", nenhum jogador entrou em campo naquele dia. Mas os 30 mil "hinchas" do Racing presentes no estádio conseguiram sensibilizar a Justiça do país, que dias depois reverteu a decisão inicial e concedeu uma nova oportunidade ao clube. 

A memorável história de luta dos fanáticos adeptos argentinos ficou para sempre marcada, com o dia 7 de março se tornando oficialmente o "Día del Hincha de Racing". 

Colapso, Fenómeno e os milhões de um apaixonado

O Cruzeiro, um dos maiores clubes do futebol brasileiro, viveu algo similar em 2019, quando uma crise institucional e financeira assolou as contas do clube. A má administração dos seus dirigentes e até mesmo crimes fiscais viraram notícia em todo o país, com o conjunto mineiro deixou as páginas desportivas para ocupar o noticiário policial e judiciário. 

Sem força de reação e com o futuro comprometido, o Cruzeiro foi despromovido à Série B pela primeira vez na sua história e viveu uma verdadeira via-sacra, permanecendo na segunda divisão do futebol brasileiro por três temporadas, chegando a estar próximo de uma descida à Série C. 

Na sua primeira jornada na B, o Cruzeiro ainda acumulou punições administrativas aplicadas pela FIFA e iniciou a competição com menos seis pontos pelo não pagamento de uma transferência internacional.

A situação era tão calamitosa no centro de treinos, que funcionários do clube recebiam cestas com produtos básicos de alimentação, uma vez que os seus vencimentos estavam em atraso e sem previsão de pagamento. Os jogadores também conviviam com salários atrasados.

O treinador Luiz Felipe Scolari, pentacampeão com a Seleção Brasileira em 2002, precisou pagar passagens aéreas para contar com atletas num jogo do clube, já que o Cruzeiro não tinha condições de arcar com os bilhetes. O ex-jogador Marcelo Moreno, melhor marcador da seleção da Bolívia, chegou a emprestar R$ 25 milhões (4 milhões de euos) ao Cruzeiro, garantindo a existência do clube no período de vacas magras. 

A história só começou a mudar em 2022, quando o clube transformou-se em uma Sociedade Anónima do Futebol, e o ex-jogador Ronaldo Fenómeno adquiriu 90% das ações. Foi naquele ano que o calvário cruzeirense terminou, com o clube a regressar à elite do futebol brasileiro e se estabelecer na primeira divisão no ano passado. 

Já na atual temporada, Ronaldo, bastante criticado pela baixa capacidade de investimento, vendeu as ações que possuía do Cruzeiro ao empresário Pedro Lourenço, um magnata e cruzeirense apaixonado. Ele sempre socorreu o clube nos momentos mais desesperadores, incluindo empréstimos à própria administração de Ronaldo.

No controlo da SAD do Cruzeiro, Pedro Lourenço movimentou mais de R$ 200 milhões (33 milhões euros) em reforços para o clube na última janela de transferências. O empresário planeia um 2025 ainda mais agressivo, com a possibilidade de oferecer a Gabriel Barbosa, do Flamengo, um contrato de quatro anos com um salário de R$ 2,5 milhões por mês (415 mil euros), além de outros reforços de peso no mercado.