O San Lorenzo, do qual Francisco era sócio, montou nesta terça-feira um oratório na capela do clube em Buenos Aires, local que Jorge Bergoglio visitava com frequência antes de se tornar papa.
A Associação Argentina de Futebol (AFA) despediu-se com um vídeo emotivo na sua conta X, onde comparou as qualidades de Francisco às de um bom futebolista "que nunca jogou individualmente" e "sempre pregou o jogo em equipa".
"Não veio para vender fumo, jogou como se joga sempre no fim do mundo, com sacrifício, sempre com as mesmas botas e com os pés na rua", descreve o narrador, acompanhado de imagens dos seus primeiros dias como pontífice.
"O último capitão da Igreja era argentino", continua a produção audiovisual, que tem sido um grande sucesso nas redes sociais.
San Lorenzo também confirmou uma curiosa coincidência entre o número de membro de Bergoglio e a idade e hora da sua morte na Argentina, num post que se tornou viral nas redes sociais.
"Sempre transmitiu a sua paixão pelo Ciclón.... Membro N°88235", lê-se na missiva, uma cabala futebolística? Francisco morreu aos 88 anos e às 02H35, hora da Argentina.
Enquanto isso, a Conmebol, com sede em Assunção, ordenou um minuto de silêncio em todos os jogos da Libertadores e da Sul-Americana desta semana. A AFA, que remarcou os jogos, fará o mesmo no fim de semana.
San Lorenzo reza por ele
A capela da sede do San Lorenzo em Boedo estará aberta até sexta-feira com um altar com velas e a imagem de Francisco para que todos possam "despedir-se dele no lugar que ele tanto amava".
O clube também convocou uma missa em memória do Papa na quarta-feira e espera-se que os adeptos prestem homenagem no sábado, quando a equipa receber o Rosario Central na liga argentina, tal como fizeram quando ele se tornou Papa em 2013.
Francisco herdou a sua paixão pelo San Lorenzo do pai, Mario Bergoglio, por cuja mão entrou pela primeira vez no estádio do El Ciclón, como a equipa é conhecida, aos nove anos de idade.
No Vaticano, era comum os fiéis levarem-lhe bandeiras e casacos azuis da equipa, que o pontífice aceitava sempre com alegria.
"Nunca foi apenas um de nós e foi sempre um de nós. Cuervo como menino e como homem, Cuervo como padre e cardeal, Cuervo também como papa", disse o clube, chamando-o pelo apelido dos seus adeptos.
O presidente do San Lorenzo, Marcelo Moretti, confirmou na segunda-feira que o novo estádio que o clube planeia construir terá o nome do Papa Francisco.
"Eu fui (em 2024 ao Vaticano) pedir-lhe autorização", disse o executivo ao canal LN+. "Ele aceitou muito entusiasmado".
De Maradona a Messi
O Papa, amante do futebol como quase todos os argentinos, tinha feito uma promessa de não ver os jogos na televisão há anos, mas conseguiu, mesmo no Vaticano, acompanhar todos os resultados, segundo amigos próximos.
Em 2014, recebeu Diego Maradona (falecido em 2020), que lhe trouxe uma camisola da seleção argentina com a inscrição "Francisco" e o emblemático 10 nas costas.
Maradona, que tinha criticado o luxo do Vaticano e o seu desencanto com a Igreja Católica, disse na altura que a simplicidade de Francisco o tinha conquistado e restaurado a sua fé.
O atual capitão da seleção argentina, Lionel Messi, que foi recebido pelo Papa em 2013, também ficou impressionado com a personalidade de Bergoglio. "Um papa diferente, próximo, argentino...", postou no Instagram após sua morte.
O encontro com La Pulga ocorreu no âmbito de uma audiência em que o pontífice recebeu as seleções da Argentina e da Itália antes de um jogo amigável entre as duas equipas.
Francisco dirigiu-se aos jogadores e mostrou o seu bom humor e orgulho na sua terra natal.
"Viram que uns eram obedientes e arrumados - os italianos - e outros desleixados - os argentinos. Bem, eu sou um deles, agora eles sabem de onde venho", brincou.