Eis um acróstico que ajuda a explicar o mal-estar no histórico clube argentino, que, na segunda-feira, sofreu mais um revés ao ser eliminado por 1-0 frente ao Independiente, nos quartos de final do torneio local Apertura 2025.
B de banco
Uma das principais críticas dirigidas ao ídolo e atual presidente do clube, Juan Román Riquelme, prende-se com a ausência de uma contratação para o cargo de treinador, após a saída de Fernando Gago, despedido há três semanas na sequência da derrota por 2-1 frente ao River Plate, no Superclássico.
Na antecâmara da fase decisiva da época, Riquelme optou por manter Mariano Herrón no comando da equipa principal, em regime interino, após este ter orientado os escalões de formação.
Durante esse período, o Xeneize não conseguiu vencer: empatou com o Tigre (1-1) e com o Lanús (0-0, vitória por 4-2 nos penáltis), antes de ser derrotado pelo Independiente.

A derrota frente aos Diabos Vermelhos afasta o Boca Juniors da luta pelo segundo troféu da temporada, depois da dolorosa eliminação na Taça Libertadores, às mãos do Alianza Lima, logo na segunda jornada da competição.
"Não sei se devo falar em fracasso, mas sei que não atingi os objetivos que tinha traçado — o principal era chegar ao dia 1 de junho, data da final do Apertura", admitiu Herrón.
Segundo a imprensa argentina, Riquelme está à procura de um treinador experiente para encarar o maior desafio de 2025: o Mundial de Clubes, que arranca em meados do próximo mês, nos Estados Unidos — até lá, o conjunto azul e ouro não terá mais competição oficial.
"Foi uma conclusão anunciada. As pessoas saíram do estádio porque todos sabíamos que isto ia acontecer. Todos, menos o presidente, que insistiu em não contratar um treinador", criticou Cristian Traverso, ex-jogador do Boca, em declarações ao TyC Sports.
O de Ocaso
Embora só tenha assumido oficialmente a presidência no final de 2023, Juan Román Riquelme já estava à frente do futebol profissional do Boca Juniors desde a gestão de Jorge Ameal (2019–2023).
Nesse período, passaram pelo banco seis treinadores: Miguel Ángel Russo, Sebastián Battaglia, Hugo Ibarra, Jorge Almirón, Diego Martínez e Fernando Gago — além das passagens interinas de Mariano Herrón.
O panorama foi-se consolidando com algum sucesso inicial: o Boca conquistou cinco títulos sob o comando de Russo, Battaglia e Ibarra durante os primeiros anos da nova era.
Contudo, o último troféu chegou em março de 2023, com a conquista da modesta Supertaça Argentina. A partir daí, iniciou-se um jejum de dois anos que atravessou os mandatos de Almirón, Martínez e Gago — este último com um ciclo de pouco mais de seis meses — e que já soma dez campeonatos consecutivos sem títulos.
A última grande prestação do clube foi o percurso, com muitos altos e baixos, até à final da Taça Libertadores de 2023. Mas o desfecho foi amargo: derrota por 2-1 frente ao Fluminense, no prolongamento, no Maracanã.
C de Clássicos e Colapso
O Boca Juniors também tem demonstrado dificuldades nos confrontos frente aos seus rivais históricos.
O declínio ficou particularmente evidente no ano passado, quando a equipa não conseguiu vencer nenhum dos últimos seis clássicos: perdeu por 2-1 e 2-0 com o Racing, 1-0 e 2-1 com o River Plate, e somou um empate a zero e uma derrota por 1-0 frente ao Independiente. A única exceção foi a vitória por 3-2 sobre o San Lorenzo, em agosto desse ano.
Nas competições internacionais — de particular importância para o clube xeneize — o panorama também se agravou.
Após a final da Taça Libertadores de 2023, o Boca Juniors teve de se contentar com a disputa da Taça Sul-Americana no ano seguinte, da qual acabou por ser eliminado nos oitavos de final.
Este ano, por sua vez, a equipa entrou na fase preliminar da Libertadores, mas foi eliminada logo na segunda fase, sem sequer garantir vaga na Taça Sul-Americana.
A de Atmosfera rarefeita
A atmosfera na Bombonera já se mostrava tensa aquando da sofrida vitória nos penáltis frente ao Lanús, nos oitavos de final do Apertura. O desempenho fraco da equipa deixava clara a crescente impaciência dos adeptos.
"Que saiam todos, não deixem nenhum!", gritavam das bancadas. Após a derrota frente ao Independiente, os cânticos subiram de tom: "A comissão vai para a p*ta que os pariu", num recado direto à direcção e, de forma mais velada, ao próprio Riquelme, que assistiu ao encontro a partir de um dos camarotes do templo boquense.
O pró-secretário do clube, Alejandro Veiga, reagiu publicamente, apelando à união: convocou "o plantel" — onde se destaca o uruguaio Edinson Cavani — a "defender o presidente".
"O Boca é um clube muito particular: joga mal e a culpa é do presidente", afirmou em declarações à rádio Del Plata.
O mau semestre parece ter corroído parte significativa do amplo apoio que Riquelme recebeu no final de 2023, quando foi eleito com 65% dos votos.