O futebol de cinco adaptado para cegos é disputado com regras específicas e uma bola que contém guizos para permitir aos atletas localizá-la pelo som.
Esta disciplina foi uma das que mais sensação causou no ano passado nos Jogos Paralímpicos de Paris-2024, em que os jogos foram disputados com bancadas cheias num estádio temporário situado em frente à Torre Eiffel.
Mas o Sudão do Sul, um país que se tornou independente do Sudão em 2011, vive há anos numa grande instabilidade e com uma taxa de pobreza muito elevada, apesar do petróleo existente no seu subsolo. O futebol não é uma prioridade e a sua versão paralímpica ainda menos.
Isso não impediu a sua seleção de futebol adaptado de se organizar, progredir e fazer o seu nome, apesar dos muitos obstáculos.
Instabilidade política
"Os desafios são os nossos melhores amigos", sorri Yona Sabri Ellon (22 anos), avançado da equipa, que perdeu a visão há 12 anos devido a um glaucoma.
No Sudão do Sul, os campos de futebol estão geralmente cheios de buracos, o que gera um grande problema de lesões para os jogadores cegos. Só existe um campo plano, mas é pago, assinala Simon Madol Akol, o treinador da equipa.
O país também não tinha um Comité Paralímpico nacional, o que impedia que a sua equipa de futebol adaptado pudesse aspirar aos Jogos de Los Angeles-2028, mas essa barreira foi levantada há apenas um mês e agora o sonho está cada vez mais perto de se tornar realidade.

No entanto, a instabilidade do país continua a ser a principal ameaça.
Em setembro, o seu vice-presidente Riek Machar foi acusado de "crimes contra a humanidade" e suspenso das suas funções, o que faz temer um novo conflito, quase sete anos após o fim de uma guerra sangrenta entre os seus apoiantes e os do presidente Salva Kiir.
Esse conflito causou pelo menos 400.000 mortos entre 2013 e 2018.
Mais de 1.800 civis foram assassinados entre janeiro e setembro no Sudão do Sul, um país "à beira do precipício", segundo a Organização das Nações Unidas (ONU).
Inspiração em Paris-2024
Mas enquanto as questões étnicas são fomentadas pelos políticos sul-sudaneses para criar divisões, os cerca de 40 membros das "Bright Stars" vêm de diversas comunidades do país, orgulha-se Simon Madol Akol.
Este treinador, que recorda que a seleção de basquetebol do Sudão do Sul teve um grande acompanhamento no país nos Jogos Olímpicos de 2024, espera que a sua equipa gere um entusiasmo semelhante.
"Temos de garantir que marcamos e que as pessoas se possam unir para celebrar os golos. Através do futebol, conseguiremos uma paz duradoura no Sudão do Sul", sonha o avançado Yona Sabri Ellon.
O primeiro passo para os Jogos Paralímpicos passa pelo torneio de Campala, onde o Sudão do Sul defronta a anfitriã Uganda e o Zimbabué. Se ficar nas duas primeiras posições, poderá continuar a disputar qualificatórios para Los Angeles-2028, embora o caminho ainda seja muito longo.
A equipa viajou para Campala com oito elementos e de autocarro desde Juba.
"Participar já é uma vitória para nós", insiste o treinador, que diz ter visto todos os jogos do futebol de cinco adaptado para cegos dos Paralímpicos de Paris e que isso lhe serviu como "fonte de inspiração" para este projeto.
 
    