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Entrevista Flashscore a Ricardinho: "Tentei convencer o Ferrão a ir para o Inter"

Ricardinho e Ferrão num jogo europeu entre o Inter Movistar e o Barcelona
Ricardinho e Ferrão num jogo europeu entre o Inter Movistar e o BarcelonaProfimedia
Após a notícia de que Ferrão vai deixar o futsal do Barcelona no final da temporada, Ricardinho, internacional português, seis vezes eleito o Melhor Jogador do Mundo, falou em exclusivo ao Flashscore sobre o seu antigo rival da liga espanhola.

Ricardinho (38 anos), considerado por muitos o melhor jogador da história do futsal, é uma voz mais do que autorizada para falar de Ferrão (33 anos), depois de o internacional brasileiro ter anunciado que se vai despedir do Barça no final da presente época.

Os dois defrontaram-se em Espanha na altura da maior rivalidade entre o Inter Movistar e o Barcelona, foram líderes nas respetivas equipas, ambos receberam o prémio de melhor do mundo da modalidade em várias ocasiões e sempre demonstraram um grande respeito, um pelo outro, sempre que se encontraram.

Agora, o craque português fala, com a transparência e a sinceridade que o caracterizam, da despedida do seu antigo rival, após uma década repleta de êxitos coletivos e individuais no Barcelona. Ricardinho, em exclusivo ao Flashscore, conta-nos como viveu a ter de lutar com o pivô da Chapecoense entre 2014 e 2020, e dá-nos um vislumbre do que o futuro próximo reserva ao seu companheiro de profissão.

Despedida de Ferrão
Barça Fútbol Sala

"As lembranças são muito boas. Primeiro porque éramos as duas melhores equipas da época, não só de Espanha, mas do mundo. As exigências dos nossos clubes obrigavam-nos a jogar sempre ao mais alto nível e a lutar por títulos. Lembro-me de como era difícil jogar contra o Ferrão, pela quantidade de golos que marcava e pela forma como competia", diz o mago de Gondomar, recordando a dificuldade de jogar contra um jogador da estatura do brasileiro.

Mas Ricardinho percebe muito de futsal e tudo o que tem a dizer sobre o futebolista Ferrão é muito positivo.

"É um jogador muito forte ofensivamente. É também muito forte na primeira linha de pressão, muito competitivo e com uma facilidade de remate incrível. Nunca se pode deixar que ele se aproxime da baliza", explica Ricardinho.

"Também trabalhou muito o seu jogo coletivo, bem como a bola parada. Por isso, pode dizer-se que era um jogador impressionante", acrescenta o campeão do mundo português, numa série de elogios que se prolongam ao longo da conversa com o Flashscore.

O "túnel" na final de 2017

Tão "arqui-inimigos" quanto os principais craques dos seus clubes, por vezes um ganhava e muitas vezes era a vez do adversário. No entanto, no quinto jogo da final da Liga 2017, os dois protagonizaram um dos momentos mais emblemáticos do futsal espanhol: um túnel para recordar.

A poucos segundos do final do último jogo da série, e com o resultado 1-1, Ricardo sacou da sua varinha mágica para fazer um túnel antológico a Ferrão e marcar. Era o quarto título consecutivo de um Inter Movistar que não tinha teto.

Para o "Pantera" deve ter sido doloroso e, por isso, Ricardinho revisita esse lance com o maior respeito.

"Sem dúvida, um momento incrível. Mais para mim do que para ele, de certeza. Mas, sem dúvida, marcou aquele campeonato (primeira divisão espanhola), foi um momento que ficará eterno no Inter, mas também no campeonato, com certeza", explica o internacional português.

Ricardinho admite que, quando se encontraram depois, falaram sobre o assunto em algumas ocasiões.

"Falámos sobre isso em algumas ocasiões em que estivemos juntos, mas é normal, sem desrespeito. Além disso, o Ferrão é um grande homem também fora do campo", diz.

"O que é claro para mim é que tentei convencê-lo a vir para o Inter connosco, mas não foi possível", diz Ricardinho, enquanto pisca o olho.

Ser o melhor e o futuro

Se Ricardinho privou o antigo jogador do Barcelona de ser campeão em 2017, Ferrão arrancou-lhe o prémio de melhor jogador do mundo em 2019, depois de cinco vitórias consecutivas na votação entre 2014 e 2018.

No final, o internacional brasileiro venceu também em 2020 e 2021, numa altura em que ninguém o ofuscava.

"Quem ganha esse mérito de melhor do mundo é justo. Nunca vai ser uma decisão unânime, mas já se sabia e estava a chegar: o Ferrão ia ser o melhor do mundo a certa altura. Era apenas uma questão de tempo. Merecido por tudo o que fez no clube e pelo que fez a nível pessoal. Disse-lhe várias vezes que o seu tempo ia chegar, e bem merecido", exclama Ricardinho.

Ferrão despede-se do Barça
Ferrão despede-se do BarçaBarça Fútbol Sala

Para o português, o seu antigo adversário ainda tem muito potencial para brilhar em qualquer parte do planeta.

"Acho que o Ferrão ainda tem muito para jogar e dar ao futsal. É muito forte fisicamente, muito inteligente e sabe cuidar de si próprio. É um animal competitivo. É verdade que as lesões são sempre muito duras na nossa carreira e estão a afetá-lo muito, mas ele vai certamente voltar forte e vai continuar a ser um jogador decisivo em qualquer equipa do mundo. Vejo-o a jogar ao mais alto nível durante muitos anos", antevê Ricardinho.

Por fim, pedimos-lhe que, a partir da sua experiência de globetrotter, desse ao chapecoense alguns conselhos para continuar a desfrutar do desporto.

"Deve compreender o seu corpo, ouvir os sinais que lhe dá ano após ano e adaptar-se. Não somos eternos e a certa altura temos de dar lugar a outros, mas tenho a certeza de que ele já sabe isso", conclui Ricardinho.