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Hóquei no gelo, um convidado inesperado no Irão graças ao jogo feminino

Hóquei no gelo, um convidado inesperado no Irão graças à equipa feminina
Hóquei no gelo, um convidado inesperado no Irão graças à equipa femininaATTA KENARE / AFP
Perante um público misto e apaixonado, duas equipas de hóquei no gelo defrontam-se numa pista de gelo ultra-moderna em Teerão. Sob os capacetes e as almofadas, são as mulheres que, nessa noite, impõem respeito com a sua combatividade.

No Irão, que não tinha uma pista de gelo olímpica há apenas cinco anos, o hóquei no gelo sempre foi um desporto distante, praticado, na melhor das hipóteses, com patins em linha devido à falta de infra-estruturas. Mas um título do campeonato asiático, ganho no ano passado pela equipa nacional feminina, tirou o desporto da sombra e aumentou a sua popularidade.

Soheila Khosravi deixou a casa da família há dois anos para se dedicar inteiramente ao hóquei no gelo em Teerão, onde se encontra a única pista de gelo olímpica do país. "É difícil viver aqui sozinha, mas faço-o por amor" ao hóquei, disse à AFP a desportista de Isfahan (ao centro), de 17 anos, vestida com uma grande t-shirt adornada com um panda e faixas verdes nos ombros.

A primeira vez, "quando me deram um taco (de hóquei), apaixonei-me pelo desporto", sorri com o seu uniforme antes de um jogo, realizado na pista de gelo de um enorme centro comercial da capital.

Uma multidão de espectadores assiste ao jogo. No gelo, os jogadores enfrentam os adversários com determinação. Nas bancadas, faixas, cânticos e aplausos marcam o ambiente.

A multidão, composta por homens e mulheres, não necessariamente de hijab, celebra com júbilo o primeiro golo. Uma homenagem a estas jogadoras que, apesar dos preconceitos e do peso da religião no Irão, conseguiram prevalecer num desporto muito masculino e considerado violento.

Coragem e audácia

"O hóquei é um desporto que exige coragem e audácia e vejo essas duas características nas mulheres iranianas", afirma Kaveh Sedghi, antigo capitão da seleção nacional masculina. "Somos o único país onde há mais jogadoras do que jogadores de hóquei no gelo", disse à AFP Sedghi, agora presidente da recém-formada Associação Iraniana de Hóquei, que responde perante a Federação de Esqui.

Mas praticar este desporto no Irão continua a ser um desafio. "Usamos o hijab e não temos restrições", diz a jogadora Dorsa Rahmani, referindo-se ao véu que é obrigatório para as mulheres no Irão desde a Revolução Islâmica de 1979.

Nos últimos anos, algumas mulheres iranianas das grandes cidades têm vindo a libertar-se desta regra. No caso das jogadoras de hóquei, escondem o cabelo sob um hijab e usam um capacete para proteger a cabeça dos golpes.

"Os nossos uniformes são exatamente iguais aos dos homens, por isso não se pode dizer se somos raparigas ou rapazes", diz Rahmani, uma jogadora de hóquei de 19 anos da equipa nacional.

O aspeto financeiro pode ser um obstáculo. A maioria das jogadoras talentosas "não vem de famílias abastadas", diz Azam Sanai, que treina a equipa feminina iraniana. "Elas estão motivadas, mas as despesas são a sua maior dificuldade", diz Sanai, dando o exemplo de um stick, que por vezes tem de ser substituído de dois em dois meses e custa cerca de 200 dólares (193 euros), que é o salário médio no Irão.

Apesar de tudo isto, as jogadoras "estão muito motivadas" e têm potencial, sublinha o treinador."Trabalhamos muito para obter resultados", resume Dorsa Rahmani.


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