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Paris-2024: Rochele Nunes lembra a morte do irmão de sete anos após a eliminação

Rochele Nunes desiludida após a eliminação
Rochele Nunes desiludida após a eliminaçãoCOP/ Francisco Paraíso
Uma técnica de estrangulamento (shime waza) apagou esta sexta-feira a participação da portuguesa de Rochele Nunes nos Jogos Olímpicos Paris-2024, com a judoca peso pesado (+78 kg) a perder com a bósnia Larisa Ceric.

Uma derrota nunca vai bem. Eu sei que faz parte. Eu estou muito orgulhosa do meu percurso, de chegar aqui. Estar entre os melhores é muito difícil. Eu já passei por tanta coisa difícil”, assumiu, à agência Lusa.

Os últimos tempos têm sido complicados para Rochele Nunes, que perdeu um irmão de sete anos há seis meses, “uma tragédia muito grande”, em que teve de “acelerar o processo de luto” e que pôs um pouco em causa a participação em Paris-2024, porque “não sabia se ia ter forças”.

Mas eu acho que se tem algo que eu aprendi em me tornar portuguesa foi exatamente sobre quão resilientes são os portugueses. E, infelizmente, isso é da vida, as coisas más acontecem para toda a gente e eu tive que ser forte, fui forte hoje, sinto que eu dei tudo”, referiu a judoca, nascida no Brasil há 35 anos.

Agora, talvez seja o momento de eu também desfrutar da conquista da Patrícia (Sampaio, que venceu o bronze em -78 kg), sei que ela merece e eu estou muito feliz por ela. E digerir a minha derrota e todos os processos que eu passei para chegar até aqui”, assumiu.

No momento que me levanto, eu não consigo associar exatamente tudo, demora um tempo para ligar, não acordei de um sono, mas demora para perceber o que está a acontecer e eu queria sair dali com dignidade e sair dali bem, porque também respeito a minha adversária e respeito ao judo”, disse.

Aos 35 anos, Rochele Nunes, que participou nos seus segundos Jogos Olímpicos, repetindo o nono lugar de Tóquio2020, assume que quer “muito continuar no judo”.

Eu acho que isso é o que eu sei fazer e faço bem feito, mas agora tem alguns outros objetivos. Foi um ciclo muito difícil, como eu disse, eu preciso passar por esses processos que eu tive de acelerar. Então, eu vou estar um pouco com a minha família, com o meu marido, com os meus colegas e aproveitar o máximo deles do carinho que eu vou precisar agora”, concluiu.

No tatami da Arena Champ-de-Mars, a judoca, oitava cabeça de série, partiu para o segundo combate com melhor desempenho frente à oponente (cinco vitórias e três derrotas), mas o equilíbrio foi notório até meio do combate.

Rochele e Ceric (16.ª pré-designada) ainda chegaram a ser castigadas por passividade, com 1.20 minutos, mas foi perto do meio do combate, numa primeira tentativa de pega da portuguesa, que a bósnia levou o combate para o chão.

O cenário ideal para surpreender e encaixar a portuguesa num shime waza, sob o olhar atento do árbitro, a não deixar passar mais de três segundos perante o apagar de Rochele, levantando a mão em sinal de ippon para a bósnia.

A derrota da lusa implicou a saída de competição, por acontecer ainda nos oitavos de final. Apenas a entrada nos quartos permite aos judocas seguirem uma de duas vias: se perderem caem na repescagem, se vencerem estão nas meias.

Na estreia, Rochele Nunes conseguiu o mesmo de Catarina Costa (-48 kg) no primeiro dia, vencer um combate.

Um duelo em que a peso pesado lusa bateu a tunisina Sarra Mzougui, com a arbitragem a atribuir-lhe um terceiro shido (castigo) o que dita a desclassificação (hansoku make).

Entre os sete judocas lusos que competiram em Paris-2024, numa participação que terminou esta sexta-feira, Rochele Nunes e Catarina Costa chegaram ao segundo combate, enquanto Taís Pina (-70 kg) e João Fernando (-81 kg), em estreias olímpicas, e Bárbara Timo (-63 kg) e Jorge Fonseca (-100 kg) perderam no primeiro combate.

O melhor – e a única medalha da missão portuguesa até ao momento -, aconteceu com Patrícia Sampaio (-78 kg), com a judoca tomarense a conquistar na quinta-feira a quarta medalha em Jogos Olímpicos para a modalidade em Portugal.

Sampaio repetiu os bronzes de Nuno Delgado (Sydney-2000, -81 kg), Telma Monteiro (Rio-2016, -57 kg) e Jorge Fonseca (Tóquio-2020, -100 kg).