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Julgados por fraude, Platini e Blatter vão conhecer o seu destino esta terça-feira

Michel Platini, antigo presidente da UEFA
Michel Platini, antigo presidente da UEFAFABRICE COFFRINI/AFP
Michel Platini e o antigo presidente da FIFA, Sepp Blatter, que estão a ser julgados na Suíça por fraude, vão conhecer o seu destino esta terça-feira de manhã, no caso que abalou as ambições do tricampeão da Bola de Ouro em 2015, quando estava na posição ideal para assumir as rédeas do futebol mundial.

No Tribunal Extraordinário de Recurso do Tribunal Penal Federal de Muttenz (noroeste), a acusação pediu, no início de março, uma pena de prisão suspensa de um ano e oito meses para os dois antigos dirigentes, bem abaixo da pena de cinco anos de prisão a que poderiam ser condenados.

Mas, às 10:00 de terça-feira, o francês de 69 anos e o suíço de 89 só esperam um resultado: serem novamente absolvidos. Desde que o caso veio a público, mantêm a sua inocência e consideram que se trata de uma manipulação política e judicial destinada a afastá-los do poder.

"O motivo deste processo", que foi aberto em 2015 depois de Blatter se ter demitido no meio dos escândalos, "foi unicamente impedir Michel Platini de se tornar presidente da FIFA", disse Dominic Nellen, o advogado do tricampeão da Bola de Ouro.

Nellen pediu ainda uma "reparação moral" para o seu cliente, cuja carreira foi "brutalmente arruinada" numa altura em que, ainda a gozar da sua glória desportiva como dirigente da UEFA, queria suceder a Blatter à frente da FIFA.

"Acordo de cavalheiros"

Para o Tribunal de Recurso, no entanto, o contexto do caso tem pouca importância: a única coisa que conta é o "engano" de que os dois arguidos são acusados, nomeadamente o pagamento de dois milhões de francos suíços (1,8 milhões de euros) pela FIFA a Platini , em 2011, com o apoio de Sepp Blatter.

A defesa e a acusação estão de acordo num ponto: o francês aconselhou, de facto, o suíço entre 1998 e 2002, durante o primeiro mandato deste último à frente da FIFA, e, em 1999, os dois homens assinaram um contrato que previa uma remuneração anual de 300 mil francos suíços, paga integralmente pela FIFA.

Mas, em janeiro de 2011, o antigo médio "reivindicou um crédito de dois milhões de francos suíços", descrito pela acusação como uma "fatura falsa".

Por seu lado, os dois homens insistem que, desde o início, tinham acordado um salário anual de um milhão de francos suíços, com base num "acordo de cavalheiros" oral e sem testemunhas, embora as finanças da FIFA não permitissem o pagamento imediato a Platini.

O francês "valia o seu milhão", assegurou Blatter ao tribunal, antes de Platini, por sua vez, relatar as negociações: "Quis brincar um pouco e disse 'um milhão do que quiseres: rublos, pesetas, liras'. E Blatter disse 'um milhão de francos suíços'".

A sombra da corrupção

Nas alegações finais, o procurador Thomas Hildbrand sublinhou a "contradição" com o contrato de 1999, o contraste com as práticas habituais do organismo e, de uma forma mais geral, com as do mundo dos negócios, e recorreu a relatórios de auditoria que mostravam que a FIFA ainda dispunha de abundantes reservas de dinheiro.

Será que se trata de decidir qual é a versão mais credível? Não, diz Nellen, uma vez que o ónus da prova cabe à acusação: "Não cabe à defesa provar a existência de um tal acordo oral", mas sim à acusação demonstrar que o arguido defraudou a FIFA.

No entanto, em 2022, o Tribunal Penal Federal de Bellinzona absolveu os dois homens com base no facto de a fraude "não ter sido estabelecida com um grau de probabilidade próximo da certeza" - apesar de a decisão sobre um salário tão elevado sem um registo escrito parecer "algo invulgar".

A defesa argumentou também que Blatter não tinha "motivo" para defraudar a FIFA, uma vez que não ganhou um cêntimo com o caso, enquanto Platini "teria tido vários meios muito mais simples" de enriquecer, como negociar um bónus ou assinar um novo contrato.

Thomas Hildbrand recorda, com prudência, o apoio de Michel Platini à reeleição de Blatter para um quarto mandato, em maio de 2011, o que levantou suspeitas de corrupção no tribunal.

Mas ele próprio "considerou essa hipótese como não comprovada", observou Lorenz Erni, advogado de Blatter.