"Eu sabia que estava a ser beijada pelo meu chefe e isso não deveria acontecer em nenhum ambiente social ou de trabalho", disse sobre o encontro visto ao vivo por milhões de pessoas em todo o mundo na cerimónia de premiação do Mundial disputado na Austrália.
"Acho que foi um momento que manchou um dos dias mais felizes da minha vida", acrescentou a atacante, enquanto Rubiales estava sentado nas proximidades no Tribunal Superior de Madrid, a tomar notas.
Rubiales, de 47 anos, é acusado de agressão sexual e de ter tentado coagir Hermoso - com a ajuda de três outros homens - a declarar que o beijo tinha sido consensual.
Apesar de ter pedido desculpa por ter sido demasiado efusivo num momento de triunfo nacional, Rubiales nega as acusações criminais e tem-se apresentado como vítima de uma caça às bruxas.
Questionada por um procurador do Tribunal Superior de Madrid se tinha concordado com o beijo, Hermoso respondeu: "Nunca".
"Não ouvi nem percebi nada", acrescentou, descrevendo o momento. "A próxima coisa que ele fez foi agarrar-me pelas orelhas e beijar-me na boca".
Rubiales disse que foi consensual e desdenhou dos críticos no rescaldo, mas Hermoso disse que se sentiu vítima de agressão e foi pressionada a assinar uma declaração a ilibá-lo, o que disse ter recusado fazer.
A vitória no Campeonato do Mundo ofuscada
O escândalo que se seguiu ofuscou a primeira vitória da Espanha no Campeonato do Mundo de Futebol Feminino e constituiu um ponto de viragem para os esforços das jogadoras espanholas no sentido de denunciarem o sexismo e alcançarem a paridade com os seus homólogos masculinos.
No julgamento vão testemunhar várias companheiras de equipa de Hermoso, incluindo a vencedora da Bola de Ouro Alexia Putellas.
Rubiales pediu às suas filhas para deporem.
Ele e os seus co-réus - o ex-treinador da seleção nacional feminina Jorge Vilda, o ex-diretor desportivo da Federação Espanhola de Futebol (RFEF) Albert Luque e o ex-diretor de marketing da RFEF Ruben Rivera - irão depor a partir de 12 de fevereiro, quando o tribunal tiver entrevistado as restantes testemunhas.
"Confio na justiça. Estou calmo", disse Vilda ao chegar.
A acusação pretende que Rubiales seja condenado a até dois anos e meio de prisão, embora em Espanha as pessoas condenadas a penas inferiores a dois anos possam normalmente escapar à prisão pagando uma indemnização, se não tiverem condenações anteriores.
O escândalo provocou uma greve das colegas de equipa de Hermoso e fez rolar várias cabeças na federação, tendo Rubiales e o seu braço direito e sucessor sido destituídos e tendo sido nomeada uma mulher para treinar a equipa feminina pela primeira vez.