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Lito Vidigal, o treinador que abraçou a vida política para "devolver o carinho" de Elvas

Lito Vidigal, treinador luso-angolano de 56 anos, candidato a presidente da Assembleia Municipal de Elvas
Lito Vidigal, treinador luso-angolano de 56 anos, candidato a presidente da Assembleia Municipal de ElvasANTONIO COTRIM / EPA / Profimedia

Lito Vidigal, treinador angolano de 56 anos, foi tema esta semana pelo facto de ser candidato à presidência da Assembleia Municipal de Elvas, pelo Partido Socialista, nas eleições autárquicas marcadas em Portugal para 12 de outubro. O Flashscore foi mais longe, procurando perceber as motivações, o enquadramento e a própria realidade política daquela cidade alentejana.

Aos 56 anos, Lito Vidigal é um dos nomes inquestionáveis quando se fala de treinadores em Portugal. Levou Belenenses, Arouca e Aves às competições europeias, passou ainda por outros clubes como Boavista, Vitória FC, Marítimo, Moreirense e Feirense, além da seleção de Angola e experiências no estrangeiro, como Maccabi Tel Aviv (Israel), AEL Limassol (Chipre) e Al Ittihad Tripoli (Líbia).

A carreira de treinador, porém, começou no mesmo local onde se iniciou a de jogador, e que levou Lito Vidigal, então lateral-direito, a representar clubes como Campomaiorense, Belenenses e Santa Clara. Em Elvas, cidade alentejana, do distrito de Portalegre, que acolheu Lito Vidigal e a sua família há.... 49 anos.

E é muito pela ligação umbilical a Elvas, onde Lito Vidigal se estabeleceu, e onde sempre regressou, no final das suas aventuras como treinador, que o treinador surge agora como candidato a presidente da Assembleia Municipal, pelas listas do PS, numa experiência política que, ao contrário do que possa parecer à primeira vista, é tudo menos nova.

Quatro mandatos de experiência

"Já faço parte das listas do PS há quatro mandatos, nos últimos dois de forma mais séria e participativa, como deputado municipal", começa por esclarecer Lito Vidigal ao Flashscore.

"O candidato a presidente da Câmara Municipal de Elvas propôs-me agora que avançasse como presidente da Assembleia Municipal. E eu aceitei porque tenho agora outra disponibilidade e porque é compatível com a minha profissão. Porque eu sou e continuarei a ser treinador de futebol. Não se fazem reuniões de Assembleia todos os dias, é algo mensal e os horários podem ser ajustados", explica Lito Vidigal.

Mas, afinal, o que leva um treinador a abraçar a vida política de uma cidade?

"Nem toda a gente tem capacidade para ser deputado na Assembleia da República, mas toda a gente tem e deve ter capacidade para ajudar numa Junta de Freguesia ou numa autarquia. Sem interesses", responde Lito Vidigal.

"No meu caso, aqui em Elvas, é mais devolver a simpatia, o carinho e o respeito que as pessoas sempre tiveram comigo. Esta cidade acolheu-me nos últimos 49 anos da minha vida. Sou treinador, sempre serei, mas esta questão política encaro-a como um dever que todos devíamos ter. Sempre que houver essa possibilidade, é necessário abraçarmos a questão política, a questão pública, podermos ajudar quem nos ajudou", explica o treinador de 56 anos.

A luta dos antepassados

Nascido em Angola, no Lubango, a 11 de julho de 1969, Lito Vidigal assume-se como um filho da terra, de Elvas, e lembra a luta que foi feita para que a democracia, tantas vezes atualmente desvalorizada, seja um direito de todos - mas também um dever.

"Os nossos pais e os nossos avós trabalharam muito e lutaram muito para terem a possibilidade de votar. Só em 1931 é que as mulheres puderam votar. E só os homens com mais de 23 anos podiam votar e tinham de ser endinheirados. Nós hoje em dia desvalorizamos muito a luta que os nossos antepassados tiveram", lamenta o treinador.

Treinador ontem, hoje e amanhã

Depois de em 2023/2024 ter livrado o Feirense da descida à Liga 3, na última temporada Lito Vidigal foi chamado a salvar o Boavista, na sua segunda passagem pelo clube axadrezado, e de onde saiu ao cabo de apenas seis jogos oficiais, com apenas uma vitória, em abril. A carreira de treinador, contudo, continua ativa e, aos 56 anos, Lito Vidigal diz-se longe de desistir de continuar o seu trajeto.

"Nem se pode pensar nisto de outra forma. Sou treinador e quero continuar a ser treinador. Esta questão política é apenas a minha forma de ajudar, de devolver o carinho e o respeito para com as pessoas, para com a cidade que me acolheu e onde vivo. Se há disponibilidade de tempo, estou disponível para ajudar", assume Lito Vidigal, que abre o espectro político a mais intervenientes do futebol.

"Há gente mais bem posicionada que eu, de jogadores a treinadores, que deviam participar mais do que eu. Somos dos países europeus que menos participamos na vida política e depois somos dos que criticamos mais. Eu, cá dentro, com a experiência que já tenho, entendo o esforço que é feito, a entrega que tem de ser dada", diz Lito Vidigal.

"Ser político é como ser treinador"

E, afinal, o que pode ligar o futebol, como treinador, à política, como autarca? Lito Vidigal responde.

"Comparo o desgaste de ser autarca ao desgaste de ser treinador. A diferença é que o desgaste de um treinador é semana a semana, enquanto na política é mais expandida no tempo, perante as situações e contratempos que vão surgindo. Mas se olharmos para um autarca no início e no final do mandato, o desgaste é visível, tal como vemos em muitos treinadores", compara o candidato a presidente da Assembleia Municipal da autarquia de Elvas, já com larga experiência acumulada na vida política.

"Todos nós temos o dever de, se tivermos condições, participarmos na vida pública. Chega uma altura em que a nossa vida não acaba no portão da nossa casa, não podemos apenas olhar para o nosso quintal, mas sim olhar à nossa volta", explica Lito Vidigal.

"Tenho agora um conhecimento muito maior do que é feito nas autarquias. Posso dizer que conheço os autarcas todos do PS que trabalham no distrito, sei o trabalho e esforço que colocam nas suas funções. E a maior parte é trabalho pro bono. Sai do próprio bolso, desde estadias a refeições e deslocações. E isso raramente é valorizado", lembra o treinador.

Depois de quatro mandatos, dois deles como deputado, Lito Vidigal é agora candidato a presidente da Assembleia Municipal de Elvas, nas eleições autárquicas marcadas em Portugal para 12 de outubro. Desta vez, não serão os jogadores nem os adeptos. Lito Vidigal vai ser avaliado pelos eleitores. Por Elvas. A cidade que o acolheu há 49 anos. E onde sempre voltou a permanece até hoje.