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Mesa-redonda estabelece formação como essencial na luta contra corrupção no desporto

João Paulo Almeida, presidente do Comité Olímpico de Portugal
João Paulo Almeida, presidente do Comité Olímpico de PortugalCOP
Os participantes numa mesa-redonda dedicada à luta contra a corrupção no desporto coincidiram na importância da formação desde a base, mas também da necessidade de uma mudança cultural e de um maior número de denúncias.

Na sessão que decorreu na sede do Comité Olímpico de Portugal (COP), em Lisboa, o diretor-geral da entidade assumiu que “já foi feito” caminho na luta contra este fenómeno, mas que é preciso “os meios para garantir a efetiva aplicação desses mecanismos”.

“É crucial trabalharmos no pilar da prevenção, da sensibilização, da educação e com conteúdos práticos para que qualquer atleta ou treinador saiba o que fazer” quando são abordados no sentido da manipulação de resultados, defendeu João Paulo Almeida.

Para o diretor-geral do COP, “é importante passar a mensagem de que ou se muda o quadro cultural, desde a estrutura de um clube ao Comité Olímpico, ou quando se entra com os mecanismos sancionatórios, o mal já está espalhado”.

“Enquanto na dopagem, a generalidade dos agentes desportivos tem uma perceção do que é a gravidade do problema, na manipulação de competições ainda não têm. (…) Têm a perceção de que não há mecanismos, não há controlos e que vale a pena arriscar”, avaliou, acrescentando que ceder a esta tentação “leva a situações de enorme drama” para atletas que não conseguem gerir o facto de ficarem reféns de “quem lhes diz o que fazer no terreno de jogo”.

Único desportista presente nesta mesa-redonda, Nuno Borges disse ter começado a aperceber-se do “lado negro” do ténis “demasiado tarde”, revelando que a partir dos 16 anos foi abordado por apostadores.

“Recebia mensagens nas redes sociais, conseguiam fazer-me chegar mensagens (com propostas para resultados combinados)”, detalhou, admitindo que, na altura, não estava preparado para lidar com estas abordagens.

Hoje, tenta filtrar as mensagens que “constantemente” lhe chegam nas redes sociais, ignorando-as como forma de se proteger, defendendo que os organismos que regem o ténis não conseguem fazer mais.

“As entidades não conseguem dar vazão. Para mim, já são dezenas de mensagens, para os que estão mais acima serão centenas”, justificou.

Se no ténis, o problema da manipulação de resultados está bastante presente, no futebol, segundo Duarte Gomes, o “fenómeno está muito balizado”.

“Hoje em dia, a arbitragem do futebol e do desporto são imunes (à corrupção). Os árbitros estão mais preparados para esse fenómeno”, garantiu o ex-árbitro de futebol e agora comentador de arbitragem.

Em 25 anos de carreira, viu “muita coisa acontecer”, numa altura em que a lei estava “muito longe do que é hoje”, defendendo que o processo Apito Dourado foi “uma das melhores coisas que aconteceu ao futebol português”.

Esse caminho que o futebol fez está agora a ser feito por outras modalidades, com Marco Santos, da Federação de Andebol de Portugal, a notar que as federações “têm de fazer prevenção nesta área”, insistindo que a formação de base é essencial.

A mesa-redonda dedicada à luta contra a corrupção no desporto aconteceu no âmbito da assinatura de um protocolo entre o COP e Mecanismo Nacional Anticorrupção (MENAC).