"Saída da KTM? É complicado. Seguramente que não me levantei e disse que acabou. Foi um processo. Com a ausência do Mike (Leitner) começaram a notar-se mudanças fundamentais na estrutura. Eu, como piloto, apreciava muito o Mike na box e tudo o que nos dava. Era uma pessoa com muita experiência, colocou a KTM onde colocou. Era uma presença boa no projeto. Com a chegada do Francesco Guidotti notou-se uma mudança do rumo técnico, que é uma pessoa experiente que chegou e, a pouco a pouco, começou a colocar as suas ideias em prática. Mas para que chegassem a algo concreto precisavam de mais tempo do que eu esperava. Esta gestão de expectativas foi a maior deceção que tive. Pensei que com a sua chegada poderíamos dar um passo maior. Cheguei a um ponto em que me senti claramente superior ao que tinha entre as pernas. E quando te dás conta, e não encontras tecnicamente maneira de superá-lo, chega esta vontade de abraçar outras coisas. Há esta oportunidade, é altura de aproveitar. Foi isso que aconteceu com a KTM. Sempre falei bem deles, deram-me uma oportunidade estupenda, mas creio que os resultados e o que posso fazer é muito mais do que fiz com eles", explicou Miguel Oliveira, em entrevista ao jornalista espanhol Manuel Pecino, antes de abordar o primeiro contacto com a Aprilia, no teste em Valência.
"Entendi muito bem por que são competitivos, tanto em volta rápida como em corrida. Nota-se também que há pontos para melhorar. Prefiro deixar isto em segredo. Pude sentir o porquê de Aleix e Maverick terem feito o que fizeram, mas também entendi os problemas naqueles momentos em que não fizeram o resultado que gostariam", assumiu o piloto português, identificando as principais diferenças em relação à moto que tinha na KTM.
"Encontrei uma moto com um ponto de travagem mais suave. O que fiz num dia, com 80 voltas, para mim surpreendeu-me. Não foi um dia em que fui cómodo na moto. As coisas iam saindo e a moto aceitava o que fazia. Estou um pouco desconfiado, porque não quero estar muito contente com o que se passou, nem acredito que os testes de Sepang ou em Portimão indiquem como será a temporada. Se as coisas não saírem como em Valência, não vou ficar louco e vou continuar a trabalhar", explicou Miguel Oliveira, assumindo o entusiasmo com as corridas de sprint, novidade para esta nova temporada.
"O objetivo é trazer um produto diferente no sábado. A Fórmula 1, pelo seu formato, atrai muita gente para ver a qualificação, porque as posições que saem daí são as posições da corrida no final. No sábado, ao nível competitivo, converte-se num espetáculo para saber o que se vai passar no domingo. No MotoGP não diria tanto... Creio que o objetivo é acrescentar no sábado. Será mais duro para nós, para os mecânicos, mas creio que correrá bem. Não ficarei louco se as coisas não me correrem bem no sábado. Vai ser importante para os pontos do campeonato. As nossas corridas já são quase sprint, se reduzes as voltas... vai ser de faca nos dentes até final! Creio que vai trazer muita emoção. Aqui teremos todos de olhar para a nossa situação de corrida a corrida e deixar que o entusiasmo leve o que tem de levar", explicou o piloto natural de Almada.
Na mesma entrevista, Miguel Oliveira revelou ainda o primeiro contacto que teve com a nova equipa e a conversa com Massimo Rivola, o homem-forte de Aprilia.
"As suas palavras foram muito simples. Queremos-te, gostamos de ti como piloto, estamos convencidos que com o teu estilo de pilotagem podemos fazer as coisas bem feitas. As primeiras palavras dele foram essas. A partir desse momento comecei a pensar nisso mais a sério. Analisei a moto, a forma como o Aleix (Espargaró) e o Maverick (Viñales) colocam o corpo, e a verdade é que convenceu-me muito. Se tivermos a atitude correta, se trabalharmos bem, as coisas podem sair a nosso favor", confessou o piloto português.