Pelé estava internado desde 29 de novembro, quando deu entrada no Hospital Israelita Albert Einstein para acompanhar o tratamento do cancro, descoberto em agosto de 2021. Na última quarta-feira, a equipe médica informou que a doença havia progredido, com necessidade de maiores cuidados relacionados às disfunções renal e cardíaca.
A origem
Pelé nasceu na cidade de Três Corações, em Minas Gerais, e ganhou o mundo ainda adolescente. Dali sairia um dos maiores jogadores de todos os tempos, com um talento inigualável, responsável até mesmo por interromper uma guerra.
Foi em Bauru, aos 13 anos de idade, que o futebol de Pelé foi apresentado aos privilegiados que viram seus primeiros toques na bola pelo Baquinho, time de base do Bauru Atlético Clube. A qualidade foi notada de imediato nos gramados do interior paulista — e também nas quadras.
Após o fim do Baquinho, em 1955, alguns dos integrantes formaram uma equipa de futebol de salão, quando o desafio de atuar em espaço reduzido foi tirado de letra pelo pequeno Edson. Contra adversários da mesma idade e até mais velhos, Pelé destacava-se ao ser o melhor marcador de vários torneios e protagonizar goleadas.
Chegada ao Santos
Regras como impedi-lo de passar do meio-campo nos jogos de futebol salão foram criadas para tentar diminuir o estrago que provocava nos adversários. Convites de clubes de futebol de campo apareceram e foram recusados, antes do técnico Waldemar de Brito sugerir a ida ao Santos.
A mãe de Pelé, dona Celeste, precisou de ser convencida para autorizar a ida do filho para uma cidade grande. A presença de Pelé em Santos seria um momento marcante na sua história, dentro e fora dos relvados. O município no litoral paulista foi adotado de vez por ele na reforma.
Pelé anotou um total de 1.283 golos em 1.363 jogos, num total de 19 anos de carreira profissional. O recorde mundial está no Guinness e inclui golos em particulares e jogos não oficiais.
História na Seleção
Nunca antes houve — e provavelmente não haverá — um atleta de futebol como Pelé: finalizador eficiente com as duas pernas, exímio cabeceador, driblador, com bom porte físico e extremamente inteligente.
Pelé é o único jogador tricampeão Mundial. Conquistou as edições de 1958, 1962 e 1970 com o Brasil. O craque mostrou seu talento ao mundo com apenas 17 anos, na Suécia, na sua primeira participação em Mundiais.
Em solo sueco, Pelé estreou-se apenas na terceira partida, quando o Brasil precisava vencer para avançar. Após assistir Vavá, o 10 não saiu mais do equipa e começou uma trajetória duradoura e vitoriosa com a canarinha. Foram quatro participações de Pelé em Mundiais— a edição de 1966 foi a única em que ele não levou o Brasil ao título.
Pelo Santos, único clube brasileiro em que atuou, ganhou tudo, entre Paulistas, Libertadores e Mundiais. Os adeptos santistas tiveram o privilégio de contar com o melhor jogador do mundo entre 1956 e 1974.
Pelé tornou-se, também, o mais jovem a marcar pela Seleção, aos 16 anos e nove meses, em 1957. A despedida da equipa nacional aconteceu em 1971.
Despedida nos EUA e honrarias
O que era para ser o fim da linha, em 1974, tornou-se um suspiro final para defender o New York Cosmos, de Nova Iorque, em 1975. A ideia passava também pela contribuição que Pelé daria ao desenvolvimento do futebol nos Estados Unidos. A média de público da liga norte-americana aumentou consideravelmente, e a presença do craque foi responsável por três recordes de assistência.
A representatividade de Pelé no meio desportivo será eterna. A 10 nas costas, era sinónimo de respeito dos adversários, que sabiam estar diante de uma lenda. Quando se reformou, o génio deixou uma lacuna que nunca mais foi preenchida, apesar de comparações com outras referências, como Maradona e, agora, Messi.
O reconhecimento por tudo que fez nos relvadoss percorreu toda a vida de Pelé após a reforma. Em 2000, foi eleito Jogador do Século pela Federação Internacional de História e Estatísticas do Futebol (IFFHS). O brasileiro também foi um dos vencedores do prémio Personalidade do Século da FIFA, ao lado de Franz Beckenbauer. Ainda na viragem do milénio, Pelé foi eleito Atleta do Século pelo Comitê Olímpico Internacional (COI).
Guerra paralisada
Em 1969, Pelé era considerado o melhor jogador do mundo em atividade, com o Santos a receber diversos convites para apresentações dentro e fora do país. Um desses teve um significado especial, na Nigéria.
Apesar da guerra que acontecia na cidade de Benin, considerada uma zona de conflito, o Santos fechou acordo para se apresentar com Pelé em campo. A partida com a seleção do centro-oeste do país africano fez a guerra ser interrompida, para que muitos dos que estavam no meio da batalha comparecessem ao estádio para ver o Rei jogar.
O Santos venceu por 2 a 1, com golos de Edu e Toninho Guerreiro, mas o placard ficou para segundo plano perante a representatividade do que Pelé havia feito em território africano.
O Santos, em setembro de 2022, lançou uma camisola 3 em homenagem à partida histórica. O uniforme conta na parte da frente com a frase "Juntos pela Paz, Juntos pelo Futebol Alegre"; na parte de trás as frases são "Nigéria 1969" e "O Dia em que a Guerra Parou".